Lembrai-vos de 64!

Por Sonia Castro Lopes

Ontem (31/3), o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e futuro candidato a vice-presidente na chapa do capitão, teve a coragem de expedir uma ordem do dia afirmando que a “gloriosa revolução de 64” foi responsável pela implantação de um período de “estabilização, segurança, crescimento econômico e  amadurecimento político”. Precisamos rebater as mentiras contadas à nossa juventude.

O que foi o Golpe de 64? Como definir a ditadura que se instalou no país por mais de duas décadas? A história nos ensina que houve censura aos meios de comunicação, implantação do bipartidarismo (partido do sim e do sim, senhor), controle dos sindicatos, perseguição, prisão e tortura dos opositores ao regime, abertura da economia ao capital internacional, inflação descontrolada. Tudo isso para deter a “ameaça comunista que pairava sobre o Brasil” e ainda há quem tenha saudade de tudo isso. E o pior: os velhos que viveram essa desgraça contaminam os jovens que, desconhecedores da história recente do país, acreditam nessa mentira deslavada.

Antes de tudo, é preciso lembrar que no início dos anos 1960, As reformas de base propostas pelo presidente João Goulart, o Jango, atemorizavam a classe empresarial e as camadas médias. Durante seu governo houve o fortalecimento da doutrina da segurança nacional gerada no seio da Escola Superior de Guerra (ESG) cujo objetivo seria treinar pessoal de alto nível para exercer funções de direção e planejamento da segurança nacional. A ESG chegou a ser apelidada “Sorbonne” pela excelência dos cursos, frequentados não só por militares, mas também por civis. Órgãos como o IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) e IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) que congregavam intelectuais conservadores e empresários articularam-se a ESG partilhando a idéia de que só um movimento armado poderia por fim à anarquia e combater o avanço do comunismo.

O comício da Central do Brasil realizado no Rio de Janeiro a 13 de março e a Marcha da Família com Deus pela Liberdade em São Paulo alguns dias depois deram o tom à crise na qual se debatia o governo. Paralelamente, o apoio de Jango aos militares de baixa patente (marinheiros e sargentos) em sua luta pela melhoria de soldos e garantia de direitos provocaram os oficiais de alta patente, ciosos da hierarquia. Em fins de março, quando Jango veio ao Rio de Janeiro discursar numa assembleia de sargentos, o golpe já estava armado.

Em 31 de março o general Olímpio Mourão Filho com apoio do governador Magalhães Pinto mobilizou as tropas sob seu comando sediadas em Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro. No dia seguinte, as tropas comandadas por Amauri Kruel também se deslocaram do Vale do Paraíba em direção ao Rio. João Goulart, para evitar um conflito de maiores consequências, viajou para Porto Alegre e de lá para o Uruguai. Consumava-se o golpe.  Urdido nas fileiras militares com apoio moral e financeiro das camadas médias, do empresariado nacional e do capitalismo internacional, o golpe civil-empresarial-militar (assim deve ser denominado) inaugurou no país uma ditadura cruel, formalmente encerrada em 1985. Quem viveu esse pesadelo sabe o perigo que nos espreita.

Lembrai-vos de 64! Nunca é demais recordar e narrar, especialmente para os mais jovens, os horrores vividos no país a partir desse golpe, cujos desdobramentos feriram as instituições democráticas e aniquilaram os direitos, a honra e a vida de tantos brasileiros. O recurso à memória nos fortalece, reafirma nossa identidade e nos impele à resistência.

 

Foto: WordPress.com /Grupo Tortura Nunca Mais

 

 

Contribuição para o Construir Resistência ->

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *