Lágrimas de crocodilo

Por Sonia Castro Lopes

Jair Bolsonaro confessou que chora escondido no banheiro. Mais uma jogada de marketing para convencer os idiotas que o apóiam e aos eleitores arrependidos de que ali existem traços de humanidade que muitas vezes precisam ser apagados para prevalecer a imagem de machão, daqueles que costumam dizer aos filhos pequenos: — Engole o choro, homem não chora!

A mulher também não pode perceber seus momentos de fragilidade e insegurança porque suas eleitas pertencem à categoria das “damas recatadas e do lar” que dependem do marido até para escolher o vestido ou o corte de cabelo. Na verdade elas assumem esse physique du rôle para uso externo porque sabemos onde o machão encontrava suas ‘candidatas’ que rapidamente incorporavam práticas de compartilhamento de recursos públicos que sustentaram a farra do clã por décadas. Mulheres-objeto que são trocadas periodicamente na medida em que a menopausa se anuncia. Dona Michelle que se cuide…

Por quem chora Bolsonaro? Decerto não será pelas seiscentas mil vítimas fatais da Covid que para ele não passa de uma “gripezinha” banal, nada que seu histórico de atleta não possa debelar. Também não será pelo atraso na compra de vacinas que poderia ter reduzido pelo menos à metade o número de brasileiros mortos, de acordo com resultados de pesquisas já demonstradas por abalizados cientistas. Muito menos pelos crimes ambientais, pelas boiadas que fingiu não ver passar, pelos indígenas cujas terras foram apropriadas indevidamente, pelos ministros escolhidos a dedo cujo único critério a ser observado tem sido a  subserviência a uma ideologia protofascista, pela apologia à tortura e atos antidemocráticos, pelo descompromisso com a educação, cultura e ciência que entregou nas mãos de ministros  incompetentes que se agarram ao poder como carrapatos. Também não o constrangem as manifestações explícitas de racismo, homofobia e misoginia expressas a todo instante em suas falas e no discurso de seus asseclas.

O capitão chora porque sabe que dificilmente vencerá a próxima eleição presidencial. Seu projeto de reeleição encontra-se seriamente comprometido pelos processos que envolvem seus filhos, pelas denúncias da CPI da Pandemia, pela política econômica do Posto Ipiranga que destrói a economia nacional enquanto fomenta a alta do dólar para garantir sua fortuna em empresas offshore abertas em paraísos fiscais. Essa política totalmente equivocada e criminosa conduziu o país à maior inflação acumulada em 12 meses desde o advento do Plano Real.  A população miserável padece de fome, se alimenta de sopa de ossos e restos de comida, vive nas ruas sem emprego, em total estado de abandono.

O programa de transferência de renda tão necessário e urgente nesse período crítico encontra dificuldades para ser posto em prática.O governo acaba de criar o Auxilio Brasil na tentativa de  apagar da memória coletiva o Programa Bolsa Família que ajudou a tirar esses pobres da extrema miséria em que vivem. Porém, esse novo auxílio depende de acertos e quando chegar (se chegar) mal conseguirá amenizar a situação de penúria em que vive grande parte da população brasileira enganada pelas promessas e mentiras do falso messias.

Já repararam na figura do “Bozinho paz e amor” que o capitão interpreta desde os últimos acontecimentos da ‘festa cívica’ de 7 de setembro? Ali os bajuladores vestindo amarelo e enrolados na bandeira pátria esbravejavam pedindo estado de sítio, prisão dos membros do STF e fechamento do Congresso, práticas inerentes à ditadura civil-militar de triste memória que o capitão não se constrange em ressuscitar e fomentar entre os seus toscos apoiadores. Depois dos arroubos e dos “sábios conselhos” do #fora Temer parece que ele se transformou em um senhorzinho educado que chora no banheiro porque “tem consciência de que não pode errar na condução do país.” Onde mais esse genocida pretende errar se já conduziu o país à beira do abismo?

São lágrimas de crocodilo, caríssimos leitores, capazes de comover apenas os descerebrados que ainda acreditam nessa figura macabra que colocaram no Palácio do Planalto.

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