Por Michel Gherman
Sempre que surge um posicionamento de judeus contra bolsonaro, aparecem grupos de judeus conservadores afirmando que não podemos falar “enquanto judeus”. Poderia escrever muito sobre isso. Mas com um livro a ser publicado que vai tratar do tema, tentarei fazer alguns pontos sobre:
1- acredito que haja um processo de “conversão e desconversão” em andamento entre os judeus brasileiros. O bolsonarismo tem um judaismo imaginário ao qual ele se converte. Um judaismo branco, armado, capitalista e cristão. Muitos judeus brasileiros se seduziram por esse judaísmo.
2- A ideia de apoiar um candidato próximo do nazismo é insuportável para judeus bolsonaristas. Nesse contexto eles ignoram sinais óbvios de vinculos com A extrema direita europeia e chegam a incorporar teses negacionistas (nazismo de esquerda por exemplo).
3-pressiona-se entidades judaicas para desautorizar o uso do termo nazista contra um candidato nazista. Assim, há um esforço tremendo para desqualificar acusações desse tipo como sendo banalizadoras do nazismo. Se preocupam com as acusações e não com o nazismo do candidato
4-as entidades judaicas brasileiras são de linha liberal. Ao informar que há judeus bolsonaristas também, aciona-se a ideia da “pluralidade”. Uma pluralidade que ignora que o fascismo considera o “outro” inimigo. Não há portanto possibilidade de legitimar um candidato fascista. Ou de celebrar tal pluralidade tendo um candidato de extrema direita como alternativa. A partir da noção de pluralismo. Aliás, ter judeus bolsonarisras com peso comunitário demonstra pluralidade mas não tem nada a ver con pluralismo.
5- não há precedentes de dificuldade de negar que candidato de extrema direita seja fascista. Nos EUA na França, na Hungria, os posicionamentos foram relativamente claros . O que mostra que isso tudo tenha mais relação com o Brasil do que com o judaísmo
Michel Gherman é historiador, professor da UFRJ, coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos da universidade e pesquisador do Centro de Estudos de Israel e Sionismo da Universidade Ben Gurion. É diretor acadêmico do Instituto Brasil-Israel.