Nunca fomos íntimos, nunca viajamos juntos e nunca compartilhamos festas. Mas estávamos sempre por perto – ela, nas quadras, eu com um microfone na mão. Falo do final dos anos 1970 e primeira metade dos 80, quando o rádio era forte e várias emissoras transmitiam jogos de vôlei, basquete, futsal, handebol, atletismo e até polo aquático. Outro mundo.
Depois ela parou de jogar nas quadras e passou para a areia. A profissão me levou mais para dentro das redações e para a apresentação de programas na telinha. Eu então sabia dela por outros jornalistas, por suas declarações e postura diante da vida. E ficava feliz, porque ela mantinha a postura desafiadora que sempre teve diante dos “comandantes” desse universo conservador e medroso que é o chamado “esporte de alto rendimento”.
Isabel foi uma espécie de Leila Diniz no esporte. Atuar grávida num jogo de vôlei oficial era um pouco demais para dirigentes e patrocinadores, mas ela não deu ouvidos. Sentia-se bem estando à frente, estava em paz consigo mesma ao se posicionar e enfrentar federações e confederação. Mesmo depois de parar, continuou em seu ativismo político.
A Isabel funcionava como uma referência, assim como o fazem atualmente Ana Moser, Casão, Raí, Wladimir, Juninho Fonseca e outros (recentemente, celebrei ao ver a filha Carol levantar o punho cerrado no alto e bradar “Fora Bolsonaro!”, após uma conquista no vôlei de praia – a semente já havia brotado e nos oferecido frutos).
No dia 27 de setembro deste ano, por ocasião do Encontro dos Esportistas com Lula, então candidato à presidência, nos abraçamos num abraço de décadas, daqueles em que uma vida inteira percorre memória e alma. Ficamos felizes com o reencontro, e eu disse a ela que tinha adorado revê-la. E ouvi: “Também adorei te rever! Tanto tempo… muitas histórias. O bom é que tenhamos outros reencontros para comemorar o fim desse governo tão nefasto. Vamos em frente! Beijos, tudo de bom!”. Eu não sabia que era uma despedida.
Hélio Alcântara é jornalista e escritor. Autor do livro Wladimir, sobre o lateral corintiano