Construir Resistência
Rezende

Investigação insuficiente

Por Luiz Eduardo Rezende

A defesa dos marginais que mataram a pauladas o imigrante congolês Moïse Kabagambe está, como é muito comum no Brasil, tentando culpar a vítima pelo assassinato, dizendo que o rapaz, bêbado e drogado, queria bater num senhor conhecido por “Baixinho”. A gravação da câmera do quiosque Tropicália desmente essa versão.

Mas mesmo que ela fosse verdadeira, nada justifica o que fizeram com o rapaz. Uma covardia, uma barbaridade que envergonha quem tem um mínimo de sensibilidade. Os assassinos estão presos, é verdade, mas a investigação sobre o motivo do crime não leva em conta, por exemplo, que aquela é uma área dominada pela milícia.

É claro que o simples fato de Moïse querer pegar uma cerveja no freezer sem pagar não justifica tamanha barbaridade, inclusive com a participação de pessoas de um quiosque vizinho. Mas se ele foi cobrar salário atrasado de milicianos, como afirma a família, aí, sim, teremos um “bom motivo”, pois a milícia não admite tamanha ousadia.

A motivação do crime não está nada clara. E não se tem notícia de que a polícia admita ação de milicianos. O quiosque vizinho, de onde saiu um matador, pertence a um PM. Não seria interessante a apuração de como esse policial militar conseguiu dinheiro para ter um quiosque na orla?

POR ÁGUA ABAIXO

Apontado pelo Supremo Tribunal Federal como juiz parcial e sem ter como explicar os ganhos por serviços prestados nos Estados Unidos para uma empresa de consultoria que tem como cliente a Odebrecht, o ex-ministro Sérgio Moro vê sua candidatura a presidente desmilinguir a cada dia.

Moro, que despontou como o nome mais forte de uma possível terceira via,  é contestado dentro de seu próprio partido, o Podemos, cujos candidatos nos estados não querem ver seus nomes atrelados a uma candidatura presidencial fadada ao fracasso. O ex-juiz já pensa em desistir e sair candidato ao Senado, mas tenta uma última jogada para concorrer à Presidência da República.

Sérgio Moro iniciou conversações com a cúpula da União Brasil, partido resultante da união do DEM como PSL, que por enquanto não tem candidato próprio a presidente. Mas esta semana recebeu uma péssima notícia. ACM Neto e Luiz Henrique Mandetta, duas das principais lideranças da União Brasil, disseram que o partido está dividido, então é melhor ele ficar no Podemos mesmo.

Ou seja, ninguém quer Sérgio Moro. Gastou dinheiro à toa com fonoaudióloga.

CIRO, SEMPRE CIRO

O candidato do PDT a presidente, Ciro Gomes, não consegue ficar uma semana sem cunhar uma frase polêmica. Agora afirmou que se o segundo turno da eleição for mesmo entre Lula e Bolsonaro ele vota numa cabra. Vai fazer mais ou menos o que fez em 2018, quando viajou para Paris e não apoiou nem Bolsonaro nem Haddad.

Ciro se esquece de que para chegar ao segundo turno precisa tirar votos de Bolsonaro ou de Lula. Em vez de escolher um alvo ataca os dois. Isso quer dizer que não atrairá eleitores de lado nenhum. Vai ficar patinando, abaixo dos dois dígitos nas pesquisas, disputando com Sérgio Moro um terceiro lugar que não vale nada.

Eterno candidato a presidente, e também eterno perdedor, Ciro Gomes, o Coronel de Sobral, ainda não aprendeu que política se faz conversando e negociando. Brigar com todo mundo não leva a lugar algum.

Muito menos olhar só para o próprio umbigo!

RACHA NO PLANALTO

O presidente Jair Bolsonaro recebeu esta semana uma pesquisa mostrando que o general Augusto Heleno traz mais votos como candidato a vice do que o general Walter Braga Netto. É claro que pesquisas encomendadas não querem dizer muita coisa, mas esta mostrou claramente que Heleno quer tomar o lugar de Braga Netto, o queridinho do presidente para compor  a chapa.

Nos últimos dias ficou visível que a ala militar, principal apoio de Bolsonaro, não está mais tão coesa assim.  O comandante da FAB, Carlos Almeida Batista Júnior, considerado o mais bolsonarista dos comandantes das três forças armadas, declarou publicamente que vai prestar continência a quem for eleito em outubro, inclusive a Luiz Inácio Lula da Silva.

A declaração irritou muito o presidente. Mas Bolsonaro sabe que brigar agora com um dos três comandantes não é nada aconselhável. O jeito foi engolir sapo e fingir que nem ouviu as palavras de Carlos Almeida.

Do jeito que a coisa vai, lá para setembro nem contínuo do Planalto vai mais servir cafezinho para o presidente.

INIMIGOS PARA SEMPRE

Depois que o ex-presidente Lula anunciou publicamente apoio a Marcelo Freixo para o governo do estado e André Ceciliano para o Senado, o prefeito Eduardo Paes, do PSD, fechou acordo com o PDT para montar uma chapa que terá na cabeça o ex-presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, ou o ex-prefeito de Niterói, Rodrigo Neves.

Eduardo Paes gostaria de  fazer a campanha de Lula, mas é inimigo político de Marcelo Freixo e não aceita subir no mesmo palanque do oponente. A decisão de Paes divide as forças antibolsonaristas no estado e favorece a candidatura do atual governador Cláudio Castro, que terá o apoio do presidente.

Quem também sai prejudicado é o deputado Alessandro Molon, do PSB, inicialmente candidato único da esquerda e centro esquerda e que agora vai dividir votos com André Ceciliano.

PRESIDENTE FAROFEIRO

Patética a foto do presidente Jair Bolsonaro sentado na rua, comendo frango com a mão, todo imundo de farofa, com o cabelo desgrenhado. Se Bolsonaro fez isso de propósito para parecer pobre, se deu mal: ser pobre não quer dizer ser porco ou mal educado. Esta é uma visão elitista e preconceituosa.

Mas se o presidente come assim mesmo, com tanta falta de educação, então não se identifica com as camadas mais necessitadas da população e sim com uma elite pobre de espírito, que se acha dona do mundo e não precisas respeitar as regras mínimas de convivência na sociedade.

Na década de 1950, Juca Chaves fez uma música chamando o presidente Juscelino Kubitschek de Presidente Bossa Nova. Hoje podia fazer uma outra chamando Bolsonaro de Presidente Porcalhão.

ASSISTA AO VÍDEO DO PRESIDENTE SE SUJANDO DE FAROFA

https://www.youtube.com/watch?v=qayxQWITNx8

FOTOS

Moise, o congolês que fugiu da guerra e acabou sendo espancado e morto no Rio


Sérgio Moro, o candidato que virou um estorvo


Ciro Gomes, em meme da internet: deve repetir o que fez em 2018


O comandante da FAB, Batista Júnior: presidente insatisfeito


Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, que terá apoio de Paes ao governo do Estado do Rio


Frango com farofa: prato predileto do presidente Bolsonaro

 

Luiz Eduardo Rezende é jornalista com passagem pelos jornais O Dia e O Globo.

Matéria originalmente publicada na página Quarentena News. As matérias aqui publicadas são de responsablidade dos autores.

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