O deputado federal e pré-candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos pensou de forma inteligente e se negou a comentar a declaração polêmica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que comparou os crimes de guerra e o massacre do povo palestino ao Holocausto nazista, quando foram exterminados em campos de concentração, inclusive em câmaras de gás, 6 milhões de judeus. Estes números envolvem sobretudo mulheres e crianças, mas também homossexuais, ciganos e militantes de esquerda.
Boulos, entretanto, não caiu na pegadinha armada pelos jornalistas durante uma entrevista e afirmou querer discutir temas relacionados à capital paulista. “Eu não sou comentarista das falas do presidente da República. Ele teve 60 milhões de votos para estar onde está. Não sou candidato a prefeito de Tel Aviv. Eu sou candidato a prefeito de São Paulo, quero discutir os temas da cidade de São Paulo”.
Guilherme Boulos demonstrou conhecer a cidade a qual se postula como candidato a prefeito. Ele lidera as pesquisas de intenção de votos e como paulistano sabe muito bem que enfrentará um eleitor conservador a quem precisará convencer também para se eleger.
Os sionistas e os radicais de direita de ascendência judaica vão querer colar nele a pecha de antissemita, o que lhe faria perder boa parte de um eleitorado composto por 65 mil judeus que vivem na cidade de São Paulo, mas que possuem forte capacidade de influência (a grande maioria é empregadora) e inequívoco poder econômico e político.
Lula, na minha opinião de jornalista, judeu, filiado ao PT e com histórico de militância na esquerda, cometeu um deslize passível de desculpas. Não é se desculpar com o carniceiro Benjamin Netanyahu, um ser repugnante que massacra população civil, incluindo mulheres e crianças, cujo destino o próprio povo de Israel deverá definir ao final de seu mandato, colocando-o atrás das grades e o fazendo responder pelos crimes de guerra. Mas é pedir desculpas aos que vivem no Brasil e no mundo.
Para um judeu, seja ele de qual matiz for, professando ou não a religião judaica, nada na história da humanidade se compara ao nazismo. Eu, particularmente, perdoo a fala infeliz de Lula, apesar de ter tido grande parte da minha família dizimada em campos de extermínio, possivelmente asfixiados em câmeras de gás. Para mim, inclusive, que lutei muito para elegê-lo presidente da República, para derrotar o extremista nazista Jair Bolsonaro, nada se assemelha ao Holocausto judeu.
É importante lembrar, e talvez ele tenha se esquecido disso, que os norte-americanos mataram mais de 200 mil pessoas com as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki e que morreram cerca de 2 milhões de pessoas, entre civis e militares, no Vietnã. No Camboja, de 1975 a 1979, foram entre 1,5 e 3 milhões assassinados. Em Ruanda, em 1994, o Exército derrotado na guerra civil e milícias aliadas mataram 800 mil pessoas em cerca de 100 dias, a maioria com golpes de facão.
Quando se esquece de momentos tão trágicos da história recente da humanidade, dizendo que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus”, o presidente Lula traz juntamente com a sua fala um ranço antissemita, que somente é sentido por quem está na pele de um judeu, por aqueles que tem o Holocausto no seu DNA. É mais ou menos como aqueles apitos que só são audíveis pelos cães, mas não pelo ser humano.
Os antissemistas em geral, fenômeno que tem crescido assustadoramente no mundo e particularmente no Brasil após o desgoverno do nazifascista Jair Bolsonaro, vão dizer que isso tudo não passa de mi mi mi de judeus, que têm complexo de perseguição, que gostam de se vitimizar. Argumentarão que Lula estava certo e até farão abaixo-assinados buscando apoio para sua fala infeliz. Mas ele estava equivocado.
Não apenas incomodou a comunidade judaica como criou um desnecessário incidente diplomático entre o Brasil e Israel. A tradição diplomática brasileira é de manter a equidistância para poder negociar soluções pacíficas para os conflitos internacionais. Esta é a explicação para não tomar partido em questões delicadas, como fez desta vez.
Este não é o Lula que todos conhecemos e aprendemos a respeitar, conciliador, equilibrado, que sempre nos ensinou o caminho da moderação, que estendeu a mão a um adversário histórico e o aceitou como candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin ou que trouxe de volta Marta Suplicy ao PT, apesar de todos os equívocos dela, para ser candidata a vice de Guilherme Boulos.
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Simão Zygband é jornalista, editor do site Construir Resistência, com passagens por jornais, TVs e assessorias de imprensa públicas e privadas. Fez campanha eleitorais televisivas, impressas e virtuais, a maioria vitoriosas.