Por Pedro César Batista
Começa uma nova transição na história nacional, após um período em que as forças mais atrasadas, inescrupulosas, desumanas e a serviço do capitalismo, reorganizaram o fascismo, com o objetivo de barrar as conquistas sociais obtidas durante as três últimas décadas.
Se a Constituição de 1988 não efetivou uma transição de justiça necessária, com a devida responsabilização, penal e civil, de torturadores e assassinos, que, em nome do Estado, praticaram todas as perversidades contra quem ergueu sua voz e punhos contra o governo da ditadura, não se pode repetir o mesmo erro neste momento. O desprezo pela dignidade humana, a propagação do terror e da morte não pode ser contemporizada de nenhuma forma.
Superar o nazifascismo que destruiu as conquistas de direitos, resultado de décadas de lutas, organizou e financiou grupos de terroristas, armou-lhes e desenvolveu uma política para servir aos interesses de meia dúzia de grandes capitalistas, não será tarefa fácil.
Um dos passos fundamentais para essa batalha será superar a arrogância pequeno burguesa, que ocupou academias, veículos de imprensa, sindicatos, partidos e o parlamento, que sustentou uma prática oportunista, que buscou tirar algum proveito pessoal, algum tipo de micro poder ou prebenda. A distância da realidade da imensa maioria do povo brasileiro, que tem mãos calosas, dedica-se intensamente ao trabalho, manual ou intelectual, diretamente ligado às necessidades populares precisa ser superada. Fazer com que a política sirva à organização, conscientização e mobilização popular deve ser o eixo estratégico de todas as ações.
Se a extrema direita chegou às periferias foi graças a um projeto de longo prazo, pensado, financiado e estruturado com o apoio do imperialismo. As igrejas neopentecostais, com seus cultos da prosperidade, têm um projeto estratégico, a nível mundial, são bases ideológicas do neoliberalismo, para garantir que mais riquezas os bilionários do mundo acumulem.
O Brasil, com Lula, depois de seis anos do golpe contra Dilma Rousseff, terá que superar os crimes e a política de terra arrasada imposta pelo governo fascista moribundo, que agoniza com o uso de terrorismo e ameaças de violência.
Superar este momento exige a retomada da ligação com o povo brasileiro, compreender sua realidade, desenvolver a alteridade, forjar consciência coletiva capaz de levar à organização política para o meio dos vastos setores ligados ao trabalho e as camadas populares. Para isso, a unidade de todas as forças antifascistas e anti-imperialistas, que tenham compromisso com a construção de uma sociedade consciente de seu papel histórico, organizada e capaz de possuir a indignação e repulsa a tudo que remeta aos crimes contra a humanidade, propagadas pelos fascistas e seus apoiadores. Forjar uma sociedade capaz de ser soberana para decidir seu destino.
O novo tempo, que começará com a terceira gestão de Lula, na Presidência da República, não poderá ter erros, não temos esse direito. Responsabilizar todos os criminosos, causadores de mortes, miséria e violência contra o povo é fundamental. Deixar impunes, assim como ficaram os golpistas de 1964, os nazifascistas que saem do governo do miliciano, é inaceitável para a história da humanidade e a conquista da dignidade humana.
Pedro César Batista, jornalista e escritor.