Por Simão Zygband
O impasse com as alianças no Rio de Janeiro pode trazer um fato novo para a corrida presidencial. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem a chance de apoiar o candidato de Ciro Gomes ao governo do Estado, desde que o PT suspendeu temporariamente o apoio a Marcelo Freixo (PSB), por que o partido não cumpriu acordo e lançou Alessandro Molon para o Senado, vaga reivindicada pelo petista André Ceciliano, presidente da Assembleia Legislativa carioca.
Washington Quaquá, dirigente do PT carioca e ex-vice-presidente nacional do partido, sempre defendeu que a aliança se desse com Rodrigo Neves (PDT) e não com Freixo, por que, na sua avaliação, sua candidatura não ampliaria as chances de Lula no Rio de Janeiro. A chapa conta com o ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz (PSD) como vice.

Freixo (oriundo do PSOL) não apenas fez questão de lançar Molon para o Senado, estremecendo aliança nacional fechada com o PT na chamada Federação (que determinou a candidatura de Geraldo Alckmin como vice de Lula), como sacramentou um acordo para ter Cesar Maia como vice, hoje no PSDB, legenda refratária ao PT.

Tucanos e petistas sempre disputaram o poder e nem sempre tiveram relações cordiais. Que o diga o ex-candidato a presidência, Aécio Neves, hoje aliado de Jair Bolsonaro, estopim do golpe contra Dilma Rousseff, não reconhecendo a derrota para a petista, pedindo recontagem dos votos e criando empecilhos para a governabilidade do PT.
Evidente que todo reste racha na chamada esquerda pode facilitar a vida de Bolsonaro no Rio de Janeiro, seu reduto eleitoral, onde as pesquisas o colocavam atrás de Lula, como azeitar o caminho do candidato dele ao Senado, o ex-jogador Romário, que lidera as intenções de votos.
Lula já declarou que, independentemente deste quadro complexo no Rio de Janeiro, apoia Marcelo Freixo. Isso manteria uma certa unidade na Federação, mas encontra forte resistência no PT carioca, que não aceita com facilidade o não cumprimento do acordo nacional, com a manutenção da candidatura de Molon para o Senado, como a colocação de Cesar Maia como vice de Freixo.
Lógico que esta configuração estremece a aliança formada com o PSB em nível nacional. Em Pernambuco,o a PT abriu mão da candidatura de Marília Arraes como candidata a senadora (o que a levou a se filiar ao Solidariedade) e de Humberto Costa ao governo do Estado, renunciando em prol do candidato Danilo Cabral. Uma costura bastante difícil que ocorreu para unificar as forças em torno de Lula no Estado. O mesmo não ocorreu por parte do PSB no Rio de Janeiro.
Esta conjuntura pode levar o PT carioca a apoiar o candidato de Ciro Gomes, que irá participar neste sábado (23) da convenção de lançamento da candidatura de Rodrigo Neves (PDT) ao governo do Rio de Janeiro. Pode ser o primeiro passo para que Lula e Ciro voltem a dialogar, fato que até então parecia impossível, diante do destempero do político cearense contra o ex-presidente.
A verdade é que os dados ainda estão na mesa e tudo pode mudar, ao menos no Rio de Janeiro, já que Lula é o grande favorito para vencer as eleições de outubro.