Por Charles Argelazi
Aperte 22 para o extermínio étnico.
Água cristalina, azul-verde transparente, potável, água da vida, regozijo.
Os rios transbordam de peixes, variadas espécies, abundância de natureza e a proteína alimenta e sacia suas crianças. Na roça, a mandioca e terra fértil é colhida, as festas são muitas, todas, felicidade.
A pesca do povo nômade, a caça farta, e as terras férteis dos sedentários, sorriso largo.
Mas a alegria da natureza incomoda, incomodava, e não resistiu ao ataque dos cidadãos de bem. Aperta o 22.
“A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país”, disse o líder deste projeto.
Aperta 17, depois 22, e agora temos Bolsonaro, seus generais, e coronéis, não precisaremos de cavalaria nenhuma. A morte tem seu algoz, o chefe a ser seguido, o patriota eugenista assistido pelos liberais higienistas em camarote.
Aperta o 22 e joga mercúrio, muito mercúrio, toneladas de mercúrio sobre os peixes para extrair uns poucos quilos de ouro, mercúrio sobre o alimento, mercúrio na água, mercúrio na história ancestral, e transforma os indígenas em escravos do garimpo, e as indígenas, adolescentes e crianças, em escravas sexuais, prostitutas.
Aperta 22 e finge que não sabia, finge que está surpreso agora, que não tinha ciência que entre 2019 e 2022, pelo menos um rio por ano virou lama em Roraima, nas aldeias Yanomamis, que o peixe foi transformado em carcaça, e a água potável virou veneno.
Aperta o 22. Sem rios, peixes ou água limpa, este indígenas, sem outra saída, venderam sua alma, corpo e dignidade.
Aperta 22 e que prazer este o do sulista armado, do agronegócio expandido pela grilagem, o prazer do falso liberal protegido pelo dólar, gozando em sua Faria Lima mental.
Aperta o 22 e o chamado de socorro à Funai não será ouvido, não virá, não mais. Ela foi nomeada pela frente agropecuária do atraso, da escravidão e da grilagem.
Aperta o 22 e o Ministério do Meio Ambiente será entregue ao contrabando de madeira e de armas, a anistia das multas ambientais virá, e com ela mais liberdade para o desmatamento e grilagem.
Aperta o 22 e coloque os comensais da morte no comando do Ministério da Saúde. Atrase a vacina, mande cloroquina ao invés de vacina, recuse oxigênio, negue máscaras e acelere o projeto de eugenia. Afinal, “um manda outro obedece” e a ordem é acelerar, pela imunidade de rebanho, que apenas os mais fortes resistam.
Aperta o 22, faça experiências com seres humanos, viole Código de Nuremberg, garanta que a pandemia lhe auxilie e acelere seu projeto de morte e extermínio, pela seleção natural. E enquanto a morte física, final, não vem, sustente o projeto de extermínio cultural, não permita distrações.
Aperta o 22 e coloque armas no coldre destes cúmplices de um liberalismo iliberal, estes sulistas limpinhos e perfumados com corpos de atleta de squash, e que aceitam cegar-se ao extermínio étnico em curso, desde que não mexam no seu mercado higiênico.
Perderam, felizmente, por pouco, mas perderam. Agora querem dar o golpe, mas não adianta mais apertar o 22.
Tentaram, empresários do campo e da cidade, reacionários, financiaram. Generais antipatriotas tomaram seus postos, todos envolvidos em um projeto lesa pátria sob a incitação do seu ex-chefe.
A ordem agora é uma só, dentro da legalidade, e com o devido processo legal, todos responsáveis deverão ser punidos. Não haverá anistia, nem tolerância ao mal banalizado, sob pena de perdermos o que resta de nossa alma e dignidade como povo e nação brasileira. Este o grande risco.
Charles Argelazi é advogado especialista em Direito Empresarial e Cientista Social