Guerra, golpe, emprego, desemprego, geopolítica e burrice

Por Alfredo  Herkenhoff

Nikolai Patrushev

Nikolai Patrushev é hoje considerado, sem alarde, o segundo homem mais poderoso da Rússia. Ele é velho amigo de Putin. Ele é o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Os dois fizeram carreira em postos ligados à espionagem, inteligência, segurança e geopolítica…

Uma semana depois que aquela ministra alemã disse “nós estamos em guerra com a Rússia”, Patrushev a referendou e disse: Não estamos em guerra com ucranianos, estamos em guerra contra a Otan…!

Patrushev, dois dias atrás, disse que a indústria aeroespacial da Rússia está a mil por hora e enfrenta uma carência de 14 mil (catorze mil) engenheiros. Não é uma questão que se resolva em um ano. Exige mais investimento acadêmico para aproveitar os cérebros mais vocacionados para o desenvolvimento tenológico no campo militar.

Claro que a necessidade envolve contratação de engenheiros de alta performance que estão sendo desprezados em inúmeros países como Índia, Brasil, Irã, Europa, França e Bahia…

A guerra híbrida que usou a orcrim de Curitiba para ferrar a Petrobras, o Pré Sal, a engenharia pesada, enfim, o neoliberalismo financeiro que interrompeu o ciclo de desenvolvimento que já botava o Brasil como a sexta maior economia – hoje é a 13a. e caminhando para cair mais caso Lula 3 fracasse -, o golpismo lavajatista botou 50 mil engenheiros no olho da rua, ou no volante de uber e outros bicos ainda piores…

Fuga de cérebros? Um médico, no Brasil, é o classe média que estudou em escolas particulares e passou no vestibular das melhores federais. Vira doutor aos 23 anos de idade, mas não quer clinicar ou estagiar no sertão de Pernambuco nem no território ianomâmi. Pega um avião e passa a ganhar de início 5 mil ou 6 mil dólares por mês nos EUA ou no Canadá. Estes dois países aceitam de bom grado médicos que custaram 2 milhões de reais para serem formados no Brasil (dinheiro da família e dinheiro do povo brasileiro). Países ricos pegam sem ônus médicos brasileiros, argentinos, uruguaios e indianos para os quais não gastaram nada na formação.

Cuba tem uma população mais ou menos igual à de Portugal. Dez milhões e uns caraminguás de almas a mais. Só que Cuba tem vinte e tantas escolas de Medicina. Forma 3 ou 4 mil médicos por ano sem precisar de tantos porque, mesmo pobre, sob embargo, bloqueio comercial há meio século, não tem mãe dormindo na rua com criança magra pedindo esmola em nenhuma cidade da ilha. Então esses médicos de Cuba são exportados para cerca de 65 ou 70 países. Mas não saem como ato individual de um profissional. Saem como soldados do governo cubano.

No programa Mais Médicos, por exemplo (aqui os números como mera caricatura), o Brasil firmou contrato, via OPAS, com Havana. Tantos mil médicos vão trabalhar no Brasil ao custo de digamos 12 mil reais por mês cada um. Mas não é salário dos médicos. É acordo entre governos. Os médicos, que vieram para trabalhar em rincões que os classe-médias brasileiros não gostam de ir, recebiam aqui só uns 3 mil por mês em Roraima ou no Sertão da Bahia. Oitenta por cento do pagamento de cada um deles ia para Havana porque Cuba precisa comprar insumos, Cuba não tem indústria. Salva vidas no exterior e sobrevive sem crianças famélicas dormindo nas ruas com mães esmolando.

O percentual de médicos cubanos que trabalham em mais de 60 países e que decidem não voltar a Cuba é mínimo. E a maioria que não volta decide assim porque se apaixona por alguém nos países onde estão salvando vidas.

O Brasil recebe menos de 7 milhões de turistas por ano. São números que quase não mudam há décadas. Paíseis como Espanha, França e Itália recebem cada um, anualmente, algumas dezenas de milhões de turistas. O turismo aliás é uma das grandes indústrias da França e Espanha… Esses números provam que o Brasil é um país ruim para visitantes e para o povo brasileiro.

Tirante o ano da covid, ou tirante o efeito do Covid Zero, a China, nos últimos anos, tem dito o seguinte: Cento e dez milhões, 120 milhões de chineses saem todo ano da China para fazer turismo de férias na Tailândia, em Taj Mahal, em Ipanema, Roma, Manaus e Paris. E todos voltam pra China.

E voltam por que? Porque a China está ruim? Não, claro que não.

 

Alfredo  Herkenhoff  é jornalista, escritor, autor do livro Jornal do Brasil – Memórias de um Secretário

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