Por Alceu Castilho
Distraído em relação ao carnaval, não tinha notado que o camarote da tal marca de cerveja estava sendo chamado de N1. Assim, sem a bolinha, Nº1. Para disfarçar a marca? Não sei. Mas a Gisele Bündchen ganhou uma fortuna para emprestar por algumas horas sua estampa ao camarote, que sempre recebeu muitos famosos nesse pedaço confiscado de avenida.
A diferença brutal é que, desta vez, os donos da cervejaria — Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles, Carlos Alberto Sicupira, também donos da Americanas — ganharam as páginas dos jornais por terem fraudado as contas da rede. Gerando um prejuízo de bilhões para acionistas, entre eles outros tubarões da plutocracia brasileira. (A imprensa econômica continua sem saber o que fazer, coitada.)
Mas estamos no país dos camarotes. Que ninguém acuse os camarotes carnavalescos de serem contabilmente caretas. Este é o país onde os bicheiros comandam escolas de samba e, como tais, são celebrados, como se não fossem mafiosos. A Mancha Verde é uma escola proibida de frequentar estádios, onde comparece como Mancha Alviverde? No carnaval lá está ela, Mancha Verde.
E diante desse cruzamento entre mafiosos-raiz e fraudadores-nutella não pude deixar de conferir qual o bicho relativo ao número 01, o número de Lemann, Telles e Sicupira. Já que atrás dos mafiosos e fraudadores só não vai quem já morreu. E não é que deu avestruz? Eu estava pensando nisto tudo e não ia escrever nada, mas aí deu avestruz, como eu poderia deixar de escrever?
O camarote N1 é o camarote dos delinquentes da vez, essas negações cosmopolitas e contidas dos banqueiros provincianos, e ele é também o camarote dos avestruzes. Imprensa avestruz, celebridades avestruzes, com todo respeito à necessidade que os foliões têm de esconder a cabeça em algum canto, por alguns dias. Nem 02 nem 03, os números da águia e do burro: N1.
N de Noé, talvez em uma arca com superpopulação de avestruzes, uma arca contagiante.
