Por Carlos Monteiro
O Profeta Gentileza e sua delicadeza em flores astrais, físicas e espirituais, distribuídas e semeadas, ao longo de anos, pela Cidade Maravilhosa e em terras de Araribóia, foi telúrico, metafórico e visceral. Mostrou ao Rio de Janeiro que, se quisermos “Celacanto não provoca maremoto”, não provoca sismos, não provoca guerras. Muito pelo contrário, a gentileza é agente provocadora de paz e gratidão… era José Agradecido e enobrecido, pura ternura.
Vivemos um momento conturbado em que o coletivo tem tomado muito mais as formas ‘eu’ e ‘meu’, em que as almas têm se trancado em feudos, murados de egos, aflorados em ids, desequilibrados em superegos. Momentos de um ‘venha a nós, deixando ao vosso reino absolutamente nada’. Encimamentos e egocentrismos, os ególatras estão à postos! Afasta-nos desses ó Pai!
Ímpar em sua singularidade, o “eu maior” rege esse império, mesmo que esta monarquia seja protegida por exércitos brancaleônicos fardados em utopias e quimeras. Farrapos existenciais de idolatrias soberbas.
As chamas das fogueiras da vaidade, mais que nunca, são lume do egoísmo, atiçadas pelo mal querer, pelo mal poder e, principalmente, pela má vontade. A soberba toma formas inusitadas, encimadas pela falta de humanidade. Das cinzas brotam fanatismos, antes brotassem Phoenixs!
“…El amor es torbellino de pureza original…/…El amor con sus esmeros al viejo lo vuelve niño/Y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero…” é a mais pura tradução da alquimia do amor nos versos de Violeta Parra ou quem sabe nas trombetas angelicais. “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”. O amor “Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade”. O amor “Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. [1 Coríntios 13: 1; 6,7].
A vaidade vem tentando fincar raízes, mas, o terreno é pantanoso, instável e perigoso; porque “…O homem que diz sou/Não é!/Porque quem é mesmo é/Não sou!/O homem que diz: Tô/Não tá!/ Porque ninguém tá/Quando quer…”. Saravá Baden! Saravá Vininha! Saravá Ossanha!
Os tentáculos ardilosos da veleidade, fazem imergir ufanismos perversos capazes de afastar, sobremaneira, o que há de melhor em cada um. Apaga o logos.
Aforismos. O amor deve ser pago com amor? Gentileza gera gentileza? Nome-do-pai…? Adágios de realidade em sociedade. Mero apotegma existencial.
Dias difíceis em que a solicitude e prestatividade ficaram em baixa. O lugar comum, “novo normal” suscitou sentimentos divergentes, pintou cenários plúmbeos, deixou a psique à deriva. Generosidade não é mais a palavra de ordem… Talvez Freud explique, quem sabe? Ou não…
A velha esperança de tudo se ajeitar deve brotar no amor sublime e na partição do pão nosso de cada dia.
Por mais tapumes Lerfá-Mur em chão de giz! Por mais ‘Gentilezas’, por mais rosas vermelhas do bem querer, por mais loucos de amor e malucos-beleza.
Que brotem sementes, frutificando todo sentimento nas metáforas mais sutis e belas, delicadas e deferentes. É dia, eu já escuto os teus sinais. É a bruma leve. Zéfiro em lufadas, límpido páramo.
“Solidários, seremos união. Separados, uns dos outros, seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos.” – Bezerra de Menezes.
Solidários, serenos, sagrados, sinceros, sóbrios, salutares. Deixa fluir o amor e o sal da Terra!
Seremos um Rio de amor!
Carlos Monteiro é jornalista e fotógrafo.