Funk do desrespeito

Por Luiz Eduardo Rezende

Patética a cena do presidente Jair Bolsonaro dançando funk (foto 1) como se fosse gringo sambando, numa lancha no litoral de São Paulo, cercado de parentes, assessores e puxa-sacos. Ele, que segundo fontes do Palácio do Planalto não gosta muito de trabalhar e tira uma soneca todo dia depois do almoço, resolveu aproveitar uns dias de férias e emendar com os feriados de final de ano, como se o Brasil navegasse em mar de almirante.

Pior do que a folga fora de hora foi a dancinha ridícula ao som de um funk cuja letra comparava “mulheres esquerdistas cabeludas” a cadelas. Quando chegava nesse pedaço da letra ele esfregava as axilas para ilustrar o que estava sendo cantado. O pessoal em volta ria e alguns faziam arminhas. Para não haver dúvidas sobre o nível da família, quem postou o vídeo nas redes sociais foi o senador Flávio Bolsonaro.

Seria reprovável que qualquer cidadão comum postasse um vídeo com ofensas às mulheres, sejam elas de direita ou de esquerda, mas em se tratando do presidente da república é inconcebível. Demonstração pública de preconceito, falta de educação e de compostura e de total desconhecimento da liturgia do cargo que ocupa.

Mas já que não tem mesmo nenhuma vergonha de fazer esse papel de bobo, Bolsonaro na próxima deve pelo menos aprender a dançar o funk. Vai ser engraçado vê-lo rebolar até o chão!!!

BARRADOS NO BAILE

O secretário de cultura, Mário Frias (foto 2), odiado por dez entre dez artistas, ficou com raivinha porque a mulher e a filha foram impedidas de se hospedar num hotel do Rio por não apresentarem passaporte de vacinação. Nem podiam já que a família é de negacionistas, ou pelo menos faz de conta que é, para agradar ao chefe Jair Bolsonaro.

Mário Frias pertence a um grupo minoritário de artistas favorável à censura de músicas, filmes e peças teatrais de autores que pensem diferente dos ideais  ultra direitistas do bolsonarismo. Por isso vem enfrentando uma forte oposição, não só da sociedade como de boa parte dos funcionários da secretaria.

Arrogante, segundo fontes da secretaria de cultura, ele anda pelos corredores gritando com funcionários e com uma arma na cintura. É o retrato fiel do governo Bolsonaro. Não seria mais fácil utilizar os seguranças regiamente pagos para executar essa função?

EU HEIN, O QUE É ISSO?

Bolsonaro, todos sabem, é adepto da tese aos amigos tudo, aos inimigos no mínimo a lei. Ficou furioso quando soube que o Iphan interditou uma obra para construir outra loja do seu grande amigo Luciano Hang, o Velho da Hang, no Rio Grande do Sul. Como qualquer órgão federal se atreve a prejudicar um amigo financiador do presidente da república?

Imediatamente Bolsonaro tomou providências. Foi informado que a interdição foi determinada pelo Iphan. “Como assim, o que é isso? O que é Ipham com peagá?” E passou o rodo por lá. Mandou demitir todo mundo que tinha cargo de responsabilidade, inclusive a presidente, e nomeou outros que seguem a cartilha bolsonarista.

Mais uma vez Jair Bolsonaro demonstra para a população o seu despreparo para o cargo de presidente. Só pensa em armas, polícia e principalmente reeleição. Está pouco ligando para meio ambiente, cultura, educação, saúde e patrimônio histórico. E até na segurança pública é um fracasso.

Seria bem melhor que, em vez de se cercar de generais, chamasse para seu lado alguns intelectuais, historiadores, sociólogos, economistas.

Mas aí estava arriscado a não entender o que estão falando.

CONVERSA DIFÍCIL

Não está fácil fechar a aliança do PT com o PSB em torno da chapa Lula-Alckmin para as eleições do ano que vem. A conversa empacou na negociação para o governo de São Paulo.

O PT insiste em Fernando Haddad (foto 3) como cabeça de chapa, enquanto o PSB não abre mão de lançar Marcio França, com Haddad disputando o senado. O impasse está colocando em risco o ingresso de Alckmin no PSB, já que ele e Lula já praticamente acertaram a parceria.

O problema de São Paulo tem reflexos também no Rio, onde Marcelo Freixo, do PSB, candidato a governador, conta com o apoio de Lula, enquanto o prefeito Eduardo Paes, do PSD, adversário de Freixo, quer o ex-presidente no palanque do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.

E o PV, que não é bobo nem nada, trabalha por uma federação com PT, PSB e PC do B e já convidou Alckmin para se filiar ao partido, facilitando o fechamento da chapa com Lula.

ESCORREGÃO LULISTA

Bolsonaro toda vez que fica irritado solta um palavrão. Ciro Gomes não fica atrás. Mas Lula (foto 4) vinha se mantendo com postura de estadista, atacando seus adversários apenas na política, sem apelar para ofensas pessoais, exatamente como se espera de um candidato a presidente da república. Mas esta semana escorregou.

Ao falar de seu adversário e desafeto, disse que Sérgio Moro está com cara de bunda. Que coisa! Quando fala de Moro, Lula parece que perde a cabeça. Pelo lado pessoal isso é até compreensível, mas alguém que pretende ser presidente do Brasil tem que ter compostura, não pode ser destemperado como Bolsonaro.

Lula, tudo indica, vai participar de debates com Moro e certamente será acusado de corrupção pelo ex-juiz. A forma de se defender não é xingando ou se irritando. É com argumentos, como manda a boa política. Não importa se do outro lado está um inimigo pessoal.

Ainda bem que Lula falou cara de bunda!

ABANDONO TOTAL

Dá pena ver o abandono em que se encontra o lindíssimo prédio da Estação da Leopoldina (foto 5) na Avenida Francisco Bicalho, na Região Central do Rio. Falta pintura, sobram pichações, Não há segurança no entorno embora fique próximo da sede do Instituto Médico Legal.

A deterioração dos prédios federais no Rio não começou no governo Bolsonaro, apenas foi agravada. Vem de muitos anos. Basta olhar a Ilha do Fundão, o antigo Canecão, os museus e tantos outros. Que o próximo governo olhe pelo patrimônio histórico, artístico e arquitetônico da cidade.

Porque do governo Bolsonaro a gente não espera nada mesmo.

FOTOS:


Bolsonaro canta e dança funk debochando de  mulheres de esquerda (Reprodução/Internet)


Mário Frias, secretário de Cultura de Bolsonaro, que anda com arma na cintura

Fernando Haddad, cuja candidatura pode inviabilizar a chapa Lula-Alckmin


Lula está dando uma de Bolsonaro: perdendo o controle com Moro


Estação da Leopoldina: patrimônio histórico abandonado no Rio

 

Luiz Eduardo Rezende é jornalista com passagem por grandes jornais do Rio de Janeiro, como O Globo e O Dia. Matéria originalmente publicada no Quarentena News.

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