
Ontem, 4 de Junho, foi aniversário de Geli Haubal (1908 – 1931), vítima de infausto destino, o que deveria ter rendido um texto. O atraso, porém, não elimina a necessidade de se tratar do tema.
Num dia desses, um internauta otimista alegou que os fascistas também amam. E outro, generoso, emendou que “qualquer forma de amor vale a pena”.
De espírito livre, procurei encontrar a virtude na relação entre o supremo mandatário pindorâmico e sua atual esposa.
De fato, parece haver, no mínimo, cooperação e fidelidade estratégica. Ela desconta cheques do assessor laranja e parece em sintonia com a tradição de operações financeiras de sua família, emulando os saberes do tio delinquente.
Mas deixemos de lado, por enquanto, o habitante do Planalto. Falemos de seus ídolos, especialmente aquele que o inspirou a promover desfiles equestres e motociatas. Benito Mussolini conheceu a bem-nascida Ida Dalser em Trento, no norte da Itália, quando ele ainda não era grande coisa.
Ela era dedicada e até vendeu seu luxuoso salão de beleza para financiar o jornal de seu cara-metade. Uniram-se em 1914 e, no ano seguinte, nasceu Benito Albino Mussolini.
Começou a I Guerra Mundial, Mussolini se alistou e Ida até recebia a pensão de guerra distribuída pelo então Reino de Itália. Ferido, no entanto, o futuro Duce foi para Treviglio e logo se casou com Rachele Guidi, filha de uma amante de Alessandro, seu pai viúvo. Era, portanto, uma espécie de irmã não consanguínea.
Mussolini decidiu, então, abandonar a primeira mulher, e fez tudo que podia para apagar os registros desse período de sua vida. Quando chegou ao poder, no início da década de 1920, Ida Dalser e seu filho caíram sob forte vigilância da polícia.
Ela não se calou. Revelou que o ex-parceiro não era apenas um péssimo pai de família, mas também um traidor da pátria, capaz de aceitar suborno dos franceses com a promessa de trabalhar por um alinhamento da Itália com a Tríplice Entente.
Ida acabou conduzida à força a complexos psiquiátricos, nomeada como louca. Gaslighting da barbárie. Morreu em um desses hospitais, em Veneza, em 1937. Disseram oficialmente que foi vítima de uma hemorragia cerebral.
O jovem herdeiro, Benito Albino Mussolini, foi adotado por um chefe de polícia. Insistindo em se apresentar como filho do supremo líder da nação, foi também recolhido a um hospital psiquiátrico, onde morreu em 1942, aos 26 anos.
Rachele Guidi, mulher de personalidade forte e seguidora da ideologia fascista, fazia-se de boa esposa e tolerava as frequentes puladas de cerca do marido, que se gabava de suas performances sexuais.
Quando o ditador foi capturado pelos partigiani, em 27 de abril de 1945, não viajava com Rachele, mas com a amante Clara Petacci. Pior para os dois. Foram ambos fuzilados em Mezzegra; depois, seus corpos foram pendurados de cabeça para baixo em um posto de gasolina na Piazzale Loreto, em Milão. O povão fez deles bonecos de malhação de Judas.
Os amores de Hitler não foram menos dolorosos para as parceiras. Sua grande paixão foi a já citada Geli Haubal, uma inquieta e alegre sobrinha, filha de sua meia irmã, Angela.
Extremamente controlador e possessivo, o líder alemão a aterrorizou durante anos. Quando iniciaram o affair, ela tinha 17 anos; ele, 36 anos. Sim, mantinham relações íntimas. Ele supostamente adorava quando ela urinava sobre ele.
Em 1931, aos 23 anos de idade, depois de uma série de crises no relacionamento, Geli morreu com um tiro no coração, projétil disparado desde a pistola do próprio tio amado. Oficialmente, foi suicídio. Muita gente acredita, todavia, que tenha sido assassinada.
Três anos antes, em 1928, outra amante de Hitler havia tentado o suicídio. Maria Reiter era 21 anos mais jovem que o líder nazista. Tinha 17 anos quando tentou se enforcar e foi salva, já em agonia, por seu irmão.
A mulher oficial de Hitler, Eva Braun, era 33 anos mais nova do que ele. Morreu em 30 de abril de 1945, ao lado do esposo, 40 horas depois da oficialização do casamento. Suicídio, de novo. Cianureto de cumplicidade.
Para por aí? Não, tem mais. Unity Mitford era uma socialite inglesa meio abobada, filha do controverso Lord Redescale, malvado proprietário de terras e simpatizante do fascismo.
Mesmo ridicularizada por seu ídolo, Unity procurava adulá-lo e servi-lo sexualmente. Um dia, em 1939, Hitler decidiu não encontrá-la mais.
De birra, Unity foi a uma praça de Munique e deu um tiro na própria cabeça. Os passantes lograram acudi-la. Morreria nove anos depois, de uma complicação decorrente dessa tentativa de suicídio.
Não, não acabou. Outra amante ocasional de Hitler foi a bela e talentosa cantora e atriz alemã Renate Müller, que os nazistas sempre quiseram utilizar em suas propagandas.
Em várias ocasiões, teve encontros íntimos com o líder nazista. Como não era dada a guardar segredos, revelou os hábitos sinistros do parceiro eventual. Disse que ele gostava de ficar nu e ser chutado, na posição de escravo sexual. Nos relatos que chegaram até nossos dias, há menções até de coprofagia. Supostamente, Hitler comia merda para se excitar.
Essas revelações custaram caro a Renate, que começou a ser perseguida pelo regime. Em pânico, entregou-se às drogas e ao álcool. Em outubro de 1937, vivia em uma clínica de reabilitação quando recebeu uma visita de agentes da Gestapo. Minutos depois, estava morta, supostamente por ter saltado do alto do prédio. De novo, suicídio ou assassinato?
O vivendeiro segue o padrão. Tampouco deve ser partido seguro. Referindo-se à primeira mulher, declarou publicamente:
– Nunca bati na ex-mulher. Mas já tive vontade de fuzilá-la várias vezes.
Evidentemente, ele também precisa estar no controle para manter suas parcerias afetivas. E assim justificou o rompimento:
– Meu primeiro relacionamento despencou depois que a elegi vereadora, em 1992. Ela era uma dona de casa. Por minha causa, teve sete mil votos na eleição. Acertamos um compromisso. Nas questões polêmicas, ela deveria ligar ao meu celular para decidir o voto dela. Mas começou a frequentar o plenário e passou a ser influenciada pelos outros vereadores.
Com a segunda mulher, o problema foi mais grave. Em processo de separação aberto em 2008, ela o acusou de ocultar milhões em patrimônio, roubar valores de um cofre bancário e proceder com “desmedida agressividade” no relacionamento.
Em 2011, afirmou que tinha sido ameaçada de morte pelo ex-marido e que, por este motivo, tinha se mudado para a Europa, em companhia do filho do casal.
Durante a campanha, no entanto, por receio ou por conveniência premiada, preferiu silenciar sobre esses fatos. Também nada comentou sobre a ação na justiça em que revelava uma lista de bens muito mais robusta do que aquela declarada pelo então parlamentar na campanha de 2006.
Resumo da ópera. Fascista também ama. Em geral, de jeito estranho, mas ama. Recomenda-se, no entanto, aliar cautela à paixão. Você se arriscaria?