Fla-Flu rumo ao Senado: Molon x Ceciliano

Por Sonia Castro Lopes

A esquerda do Rio de Janeiro encontra-se dividida em relação ao candidato que deseja eleger para o Senado. Isso ficou claro na última quinta feira (7) durante o comício do ex-presidente Lula na Cinelândia. Alessandro Molon, presidente regional do PSB, mesmo sem ser convidado para compor o palanque, marcou presença no evento. Iniciou seu discurso ovacionado pela plateia que se espremia nos limites da Brizolândia, espaço batizado em homenagem ao ex-governador Leonel Brizola que ali, com invejável oratória e profundo carisma, proporcionou ao seu público momentos inesquecíveis.

Molon pediu votos para Freixo, pré-candidato a governador, que dias antes havia solicitado sua desistência em prol de André Ceciliano, ao invocar um acordo prévio entre PT e PSB. O deputado lembrou a importância de unir esforços em trono da candidatura do ex-presidente Lula e após afirmar que era o candidato de esquerda mais bem posicionado, desqualificou o senador Romário, primeiro colocado nas pesquisas, além criticar a conduta ambígua de seu opositor pelas relações amistosas que mantém com o governador Cláudio Castro e algumas hostes bolsonaristas. Neste momento, as vaias misturaram-se aos aplausos.

Por sua vez, Ceciliano expôs ao público sua fidelidade ao PT e mencionou a falta de compromisso do rival que deixou o partido no momento mais crítico do governo Dilma. Visivelmente emocionado alfinetou o concorrente chamando-o de covarde e, dirigindo-se diretamente a Lula, declarou-se um soldado a serviço do partido, alguém em quem o ex-presidente podia confiar inteiramente. Seus correligionários o aplaudiram com entusiasmo, mas foi perceptível o silêncio e constrangimento por parte da maioria dos presentes.

Durante o comício, Lula manifestou reiteradas vezes apoio incondicional à candidatura de Marcelo Freixo, contrariando as previsões de que se Ceciliano não fosse o candidato aprovado, o PT não se comprometeria em apoiar Freixo. Em relação à candidatura ao Senado procurou manter certa neutralidade, ainda que as lideranças partidárias deixassem clara a opção por Ceciliano. A sensação que ficou é a de que o ex-presidente ainda não está totalmente convencido de que a melhor opção para o Rio seria o presidente da ALERJ, o que comprova a dificuldade do acordo partidário em terras fluminenses.

Os personagens

Alessandro Molon, professor de história e advogado com forte inserção no meio católico, é um deputado federal bastante prestigiado no Congresso Nacional. Eleito por dois mandatos deputado estadual pelo PT (2003-2011) destacou-se na ALERJ por sua atuação na Comissão dos Direitos Humanos, da qual foi presidente. Em 2007 candidatou-se ao cargo de prefeito do Rio, mas terminou a eleição em 5º lugar, com pouco mais de 4% dos votos válidos. Tornou-se deputado federal em 2010 com a maior votação no estado e conseguiu importantes vitórias na Câmara como a aprovação da Lei do Marco Civil da Internet, a defesa dos royalties do petróleo no Rio de Janeiro e a garantia do acesso de todos à justiça por meio do fortalecimento de instituições como a Defensoria Pública. Em 2014 foi reeleito, sendo o representante do Rio de Janeiro mais votado da coligação PT, PCdoB e PSB. No ano seguinte desfiliou-se do PT e ingressou na Rede, ocupando o cargo de líder do partido na Câmara tendo votado contra o processo de impeachment de Dilma Roussef. Em 2016 disputou novamente a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro obtendo 1,5% dos votos válidos e no segundo turno apoiou o candidato Marcelo Freixo do PSOL que acabou sendo derrotado por Marcelo Crivella. Reeleito mais uma vez em 2018, agora pelo PSB, foi o terceiro candidato mais votado do Rio, sendo indicado em 2019 para liderar na Câmara a oposição ao governo Bolsonaro.

Para traçar uma breve biografia de André Ceciliano recorro à historiadora Marly Motta em seu último livro E agora, Rio? Um estado em busca de um autor, lançado recentemente.

Oriundo de Paracambi, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro, Ceciliano conquistou seu primeiro mandato na ALERJ em 1998 e, em 2000, foi eleito para a prefeitura de sua cidade natal, sendo empossado para o mandato seguinte devido à cassação do candidato eleito, Flavio Campos Ferreira. Derrotado em 2008 para a prefeitura de Japeri, município vizinho, voltou à ALERJ onde cumpre seu terceiro mandato. De natureza conciliadora, vem mantendo bom relacionamento com deputados de vários partidos e, em 2017, por ocasião da licença e prisão de Jorge Picciani, tornou-se presidente da Casa. Dois anos depois, seus pares o reconduziram ao cargo que atualmente ocupa. (MOTTA, 2022, p. 147-8).

Criticado por segmentos da esquerda por sua proximidade com o atual governador Castro que é apoiado por Bolsonaro, há quem afirme a favor de Ceciliano que ele tem freado as investidas bolsonaristas em vários campos como política de cotas, armas e anti-vacinas. Apesar do apoio declarado a Molon, o deputado Carlos Minc é de opinião que para apoiar um candidato no campo da esquerda não há necessidade de  ‘demonizar’ o outro. Minc reconhece que Ceciliano viabilizou a aprovação de projetos de leis caros à esquerda como foi o caso da escola sem mordaça e o ensino da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas.

Em entrevista ao jornal O Globo (9/7) Andre Ceciliano admite que é natural ocorrer o voto Lula-Castro por questões locais e, em sua defesa, afirma a necessidade de manter um bom relacionamento com todos, pois possui um perfil moderador. O fato é que de sua boca não saem críticas a Castro, além de ambos serem flagrados com frequência em reuniões sociais que ultrapassam os limites do diálogo institucional.

Em relação a Molon, há críticas por seu apoio inicial à operação Lava-Jato, o que certamente contribuiu para sua saída do PT em 2015. Mas isso seria um impeditivo para que o PT apoiasse seu nome? Se fosse, estaria o ex-governador Alckmin  compondo a chapa de Lula? Freixo solicitou ao colega de partido a desistência da candidatura em favor do petista pelo fato de  Molon não cumprir o acordo feito entre PT e PSB segundo o qual caberia a cada um dos partidos a indicação de um candidato. Se Freixo vem pelo PSB, o senador deveria ser indicado pelo PT, mas parece que Molon não reconhece o acordo e dificilmente abrirá mão da candidatura, ao menos é o que afirma. É fato que Ceciliano pode trazer votos do interior do estado para Freixo que com apoio explícito de Lula vê aumentada a chance de se eleger. Ao contrário, Molon tem excelente votação na capital, mas teria a mesma projeção fora dela?

Como ficará essa aliança no Rio? A presença de dois senadores de esquerda certamente facilitará a vitória de Romário à única vaga no Senado. Parece que houve entendimentos na última sexta feira (8/7) de que seria preciso aguardar os acontecimentos até 15 de setembro. Nessa data, de acordo com as pesquisas de intenção de voto, o candidato em pior posição deveria abrir mão para o concorrente. Enquanto isso segue o fogo amigo…

 

 

 

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