Família triste

Por  Luiz Eduardo Rezende

O presidente Jair Bolsonaro decretou luto oficial no país pela morte do guru da família, Olavo de Carvalho, que se intitulava professor, filósofo, astrólogo, escritor e sei lá mais o que. Não se sabe o motivo da homenagem, a não ser a adoração dos Bolsonaro pelas ideias radicais de direita dessa estranha figura que não teve e não tem a menor importância na história do país.

Estranho que o presidente não tenha decretado luto oficial pela morte do poeta Thiago de Melo, por exemplo, ou da cantora Elza Soares, ou mesmo do ator Tarcísio Meira, que deram enorme contribuição à cultura brasileira. Ou até que tenha demonstrado tristeza pelas mais de 620 mil vítimas da Covid-19. Para essas, sempre mostrou uma atitude debochada e teceu comentários tipo não “sou coveiro” ou “todo mundo tem que morrer um dia mesmo”.

Antes de fazer tanto rapapé pela morte de Olavo de Carvalho, Bolsonaro devia refletir a respeito de uma das melhores definições sobre seu guru: os grandes filósofos o consideram um idiota e os idiotas o consideram um grande filósofo.

AFRONTA À CIÊNCIA

Bombardeado por todos os lados, o Ministério da Saúde resolveu modificar a nota técnica assinada pelo secretário negacionista Hélio Angotti afirmando que vacina contra Covid-19 não serve para nada e hidroxicloroquina é o remédio eficiente para combater a doença.

Mas foi uma modificação “engana que eu gosto”. Apenas tiraram uma tabela e republicaram a nota com as mesmas conclusões, que se opõem inclusive à declarações do ministro Queiroga sobre ineficácia da cloroquina. Tudo isso tem uma explicação.
Hélio Angotti é ligadíssimo à família Bolsonaro, amigo de fé, irmão camarada dos filhos do presidente e está no cargo indicado por eles. Nenhum ministro tem coragem de bater de frente com o protegido. Se bater, cai na certa.

A que ponto chegamos.

TUCANOS SE BICANDO

O PSDB está rachado. De um lado, gente querendo apoiar Lula, uma outra parte doida para cair nos braços de Bolsonaro e, finalmente, alguns ainda se dizendo apoiadores de João Dória, o candidato do partido a presidente, que patina entre dois e três por cento das intenções de votos nas pesquisas eleitorais.

Mesmo os que ainda estão com Dória já falam abertamente que se o governador de São Paulo não crescer nas pesquisas e superar os dois dígitos até final de março sua candidatura estará praticamente inviabilizada e os tucanos terão que procurar outro ninho.

Lula, que não é bobo nem nada, já tem quase certa uma chapa com o ex-tucano Geraldo Alckmin de vice, de olho nesses votos de centro e centro-direita, já que os de centro-esquerda ele já tem.

FILHO DE FORA

A campanha de Bolsonaro à reeleição começa a se delinear. O principal conselheiro do candidato será o 01, senador Flávio Bolsonaro, considerado na família o filho mais preparado política e intelectualmente, embora haja controvérsias fora desse grupo familiar.

Para comandar o esquema das redes sociais foi mantido o 02, vereador Carlos Bolsonaro, o Carlucho,  rei das fake news e comandante do Gabinete do ódio, que funciona dentro do Palácio do Planalto. Carlucho é prestigiado pelo pai por ser capaz de cumprir qualquer missão, legal ou ilegal.

Não sobrou nenhuma função relevante para o 03, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, aquele que apresentou como credencial para ser embaixador nos Estados Unidos o fato de ter fritado hamburgers em Nova Iorque. Até agora, pelo menos, Eduardo não percebeu que foi excluído da campanha.

Ou percebeu e está quietinho de tanta vergonha.

PALANQUES VARIADOS

O PT abriu mão da candidatura própria a governador do Rio de Janeiro. Vai apoiar Marcelo Freixo, do PSB, numa chapa que terá o presidente da Alerj, André Ceciliano, candidato ao Senado.  Nessa negociação, Lula contará com pelo menos dois palanques no estado, o de Freixo e o do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, do PSD, candidato já lançado pelo prefeito Eduardo Paes.

Quem saiu perdendo com essa negociação foi o candidato do PSB ao senado, Alessandro Molon, que seria o único representante com chances da esquerda e centro-esquerda. Agora vai dividir parte desses votos com André Ceciliano. Mas pelo menos não vai enfrentar Crivella e seus seguidores da Universal.

O ex-prefeito é candidato a deputado federal.

NA CORDA BAMBA

Numa das últimas entrevistas, o ministro Queiroga reconheceu que a hidroxicloroquina não serve para combater o Covid-19, o que deixou Jair Bolsonaro irritadíssimo. Bolsonaro não aceita opiniões diferentes da dele no governo e, negacionista, exige que seus colaboradores façam tudo para bombardear a vacinação no Brasil.

Isso significa que Queiroga está na marca do pênalti. Bolsonaro já pensa num substituto sem levar em conta a sabujice, a adesão às teses mais absurdas por parte do ministro. Tudo isso corre nos bastidores. Para o público, Queiroga continua prestigiado.

No futebol, quando dirigente diz que o técnico está prestigiado é porque ele está pertinho de cair.

 

Fotos

Helio Angotti, secretário negacionista do Ministério da Saúde.

João Dória, governador de SP e pré-candidato à presidência da República pelo PSDB.

Eduardo Bolsonaro, filho 03 do presidente.

Lula apoia a candidatura de Freixo ao governo do Rio de Janeiro.

Marcelo Querioga, Ministro da Saúde.

 

Luiz Eduardo Rezende é jornalista com passagem pelos jornais O Dia e O Globo, no Rio de Janeiro.

Essa matéria foi publicada originalmente na página Quarentena News. Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade dos autores.

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