Por Tatiana Bianconcini
Há tempos faço severas críticas à rede livreira de megastores Cultura. Esse modelo de negócio sufocou pequenas livrarias, no mundo todo, desde os anos 1990. Tem até comédia romântica, com Meg Ryan e Tom Hanks, sobre isso. No caso específico da Cultura (não foi a única rede livreira de megastores no Brasil, houve até a francesa Fnac e não esqueçamos da Saraiva), foi uma sequência de abusos até chegar o dia em que a falência da empresa foi decretada oficialmente.
A empresa estava em recuperação judicial há quatro anos. Antes e depois disso, as denúncias de assédio moral e exploração de funcionários já abundavam. Houve também denúncias graves do mercado editorial, já em 2018. A Cultura era então denunciada por não cumprir contratos de consignação com pequenas editoras, nem pagando pelos exemplares vendidos, nem devolvendo os exemplares não vendidos. Com isso, muitas editoras pequenas foram à falência, antes da megastore, pois não recebiam os valores devidos e nem os exemplares, para poder vendê-los a outros.
Eu também tenho boas lembranças em algumas megastores dessa rede. Tenho boas lembranças no teatro mantido por eles no Conjunto Nacional. Tenho boas lembranças nos cafés das megastores. Tenho até boas lembranças da revista institucional que eles publicavam. Mas as lembranças são boas porque, na época, eu não estava refletindo sobre todas as pequenas livrarias tradicionais que estavam fechando por causa desse modelo predatório de negócios. É um modelo que conduz o mercado ao domínio por um oligopólio.
E o monopólio é o lobo do oligopólio. O modelo Amazon, no topo da cadeia alimentar, devorou as megastores, pouco a pouco. Não caiu a venda de livros no Brasil nos últimos anos, pelo contrário. 2021 foi um ano recorde em crescimento e faturamento. Mas manter templos de consumo em shoppings é algo que não se sustenta mais. Nem explorando trabalhadores e fornecedores. Volta a ter espaço para as pequenas livrarias de rua.
Tatiana Bianconcini é arquiteta, designer e cineasta