Construir Resistência
renata

Falemos de amor em tempos de ódio

Por Renata Corrêa

Proteja seu amor
Dos malmequeres,
Dos maus humores,
Dos maus olhos do mundo grande
Com patuá e ofertório,
Banho de cheiro,
Arruda, canela, alecrim,
Alfazema, pétalas de rosa,
Um ramo de poesia
E outro de prosa.

Proteja seu amor
Dos quebrantos
Com rezas de benquerenças,
Benzimento contra desencantos,
Beijos com reticências,
Uma garrafada de remanso,
Fios de conta de paciência…
Peça bênção às Yabás
Num alguidar de acalanto
Um tanto de dengo, outro de riso,
Amalá para seus Orixás,
E uma pitada de improviso…

Deite seu amor nas lágrimas doces da cachoeira,
Presenteie-o com palavra enamorada…
Deixe que lhe abracem os ventos de Oyá
Naquele segundo após o gozo
Feito de raio, silêncios e trovoada.
Perfume o barco de Iemanjá,
Embale seu amor, filho das águas de Aiuká.

Proteja seu amor
Com um cafuné na dormência das manhãs,
Acenda velas, assente flores amarelas,
Cerque-o de cuidados e balangandãs.
Guarde seu amor a sete chaves
Nas encruzas ao pé do ouvido,
Escreva-o num segredo
De passos libertos e revividos.

Apenas proteja seu amor!
Abra seus caminhos
Longe das demandas,
Faça uma oferenda de carinho,
Coloque-o ao alcance da mão
E enderece ao Tempo
Sua conjugação…

 

Renata Corrêa é professora, mestre em educação e poeta. Uma das organizadoras do Coletivo de Mulheres Poetas de Niterói e do Sarau Horto Canto do Poeta. E parte do Coletivo feminista de arte e poesia, Vozes Escarlates.

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