Construir Resistência
Arte de autoria desconhecida obtida no facebook

Esquerda se divide na participação no ato do dia 12 

Por Simão Zygband

O MBL, organização que trabalhou intensamente pela eleição de Bolsonaro e derrubada da Dilma, agora não quer mais embalar o bebê-diabo que ajudou a conceber

“Eu não vou! Passarinho que anda com morcego dorme de ponta cabeça”. Esta frase, capturada na página de facebook do jornalista Luiz Carlos Duarte, revela um pouco do sentimento de partidos de esquerda que não pretendem engrossar o ato de domingo (dia 12), convocado pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e movimento Vem Para a Rua, ambas organizações de direita, responsáveis diretos pelo golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.

O MBL, financiado com recursos do empresariado nacional e internacional (entre eles os do falecido bilionário ultra-direitista norte-americano, David Koch e seu irmão Charles) é mantido com dinheiro “não declarado”. Tudo o que é arrecadado vai para uma “associação privada”, conforme consta do site da Receita Federal, chamada Movimento Renovação Liberal (MRL), registrada em nome de quatro pessoas, sendo três deles irmãos de uma mesma família: Alexandre, Stephanie e Renan Santos. Este último é um dos coordenadores nacionais do MBL e um dos personagens mais conhecidos do grupo. Estas informações constam de reportagem do jornal EL País.

Conforme revelou o jornal espanhol, a família Santos responde a 125 processos na Justiça, relativos a negócios que tiveram antes da criação do MRL.  A maioria é relativa à falta de pagamento de dívidas líquidas e certas, débitos fiscais, fraudes em execuções processuais e reclamações trabalhistas. Juntos, acumulam uma cobrança da ordem de 20 milhões de reais, valor que cresce a cada dia em virtude de juros, multas e cobranças de pagamentos atrasados.

Os coordenadores nacionais do MBL são o deputado federal Kim Kataguiri (DEM/SP), o deputado estadual Arthur (Mamãe Falei) do Val (Patriotas/SP) e o vereador por São Paulo Fernando (Silva Bispo) Holiday (Partido Novo) e o próprio Renan Santos. São expoentes do anti-petismo e representaram parte do movimento de rua que investiu na derrubada de Dilma Rousseff e na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O MBL, que foi a organização que trabalhou intensamente pela eleição do (sic) presidente Jair Bolsonaro, agora não quer mais embalar o bebê-diabo que ajudou a conceber. Em tese, rompeu com sua cria e agora fez um chamamento para o ato do dia 12 com o slogan “Nem Bolsonaro, Nem Lula”. Pode estar novamente realizando uma tarefa para aqueles que os sustentam, como foi no golpe de Dilma.
Como o slogan inicial não agradou aos partidos de centro-direita, o MBL mudou oportunistamente o slogan para apenas “Fora Bolsonaro”. Assim, a agremiação bancada com dinheiro suspeito, ganhou a adesão de partidos sempre oscilantes como o PDT, o PSB e outros nitidamente de direita como o PSDB, já operadores do golpe contra o PT. Mas ganha surpreendente o apoio do PCdoB e até de setores do PSOL (deputada estadual Isa Penna/SP).  O sindicalismo não ligado ao PT e à CUT também se fará presente. 

Outro que confirmou a presença é nas manifestações foi o sempre oscilante, Ciro Gomes, que demonstra seu total desespero por não ultrapassar os seus atuais 6% nas pesquisas de intenção de votos. O ex-governador cearense, que preferiu ir à Paris às vésperas das eleições de 2018, que elegeu Bolsonaro, tem demonstrado todo seu rancor contra o PT e Lula, de quem foi ministro. Esta decisão deverá ter consequências, já que Ciro não se torna confiável nem à esquerda, nem à direita.

Já o PT e o próprio PSOL não engrossarão as fileiras da manifestação da direita. Também não o fará a CUT, central ligada ao petismo.  Muitos acreditam que é possível “estar juntos” contra Bolsonaro, “mas não misturados”. O MBL e o Vem Pra Rua são de triste memória para os petistas e para o próprio Lula. Financiaram, por exemplo, o boneco inflável “Pixuleco”, uma imagem gigante do ex-presidente vestido com roupa de presidiário. Várias vezes o “bonecão” foi literalmente furado durante as manifestações do golpe contra Dilma. Mas causou ódio entre os petistas. Lula ficou preso por 580 dias, muito por ação do MBL e libertado. Também foi inocentado dos seus 18 processos.  O ex-presidente não tem mais nenhuma condenação. 

O PT prefere estar numa suposta Frente Ampla, mas somente nas ações de parlamento, não nas de rua. “Nós precisamos reunir o campo democrático e fazer uma construção conjunta. A principal é isso. Não é uma adesão, mas um caminhar conjuntamente. Caminhar ao lado das forças que querem defender a democracia”, afirmou Gleisi Hoffmann, presidenta do PT. 

Para bom entendedor, meias palavras bastam.

 

Arte de autoria desconhecida obtida no facebook

 

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