Após polêmicas, o Enem acontecerá sem ‘viés ideológico ou partidário’
Por Sonia Castro Lopes
Já andam dizendo que nos dois anos e meio do governo Bolsonaro o melhor ministro da educação foi Carlos Decotelli, o que foi sem nunca ter sido, o nomeado que não chegou a tomar posse. Nada fez em seu brevíssimo mandato, mas também não atrapalhou. Parece piada e é. Se olharmos para a política educacional deste governo só encontraremos equívocos e retrocessos. Mas a incompetência faz parte do projeto de destruição da educação brasileira. Ministros obedientes à ideologia do atraso defendem o ensino domiciliar, as escolas cívico-militares, a escola sem partido, o contingenciamento de recursos para as universidades federais e outras tantas imbecilidades. A verdade é que a educação do país está abandonada.
Para o incompetente quarto ministro da educação desse governo execrável, pastor Milton Ribeiro, o Enem 2020 foi um sucesso. Com 51,5% de ausências, foi um sucesso para uma minoria branca egressa de escolas privadas que teve oportunidade de assistir aulas remotas com todo conforto e muitas vezes até dispor de professores particulares para tirar as dúvidas. Foi um sucesso para os que apostam numa política educacional que exalta a meritocracia como se todos os estudantes partissem de um mesmo patamar em termos de igualdade e oportunidades escolares.
Mas foi um desastre para a maioria de população negra, parda, quilombola, indígena, oriunda de um ensino público cada vez mais desassistido e sucateado pelos privilégios concedidos a escolas confessionais e filantrópicas que se declaram “sem fins lucrativos”, mas abocanham fatias dos recursos públicos sob a forma de bolsas de estudo ou isenção de impostos. Esse fiasco já era esperado, fato que se materializou com a abstenção provocada pela decisão infeliz de se manter o exame apesar da crise sanitária. A única função de Milton Ribeiro era organizar o Enem já que, desde que assumiu o ministério nada fez. Mesmo assim fracassou.
Até pouco tempo havia dúvidas de que o Enem se realizasse este ano. Por falta de recursos e por falta de pessoal competente, pois o diretor de avaliação da educação básica e responsável pela elaboração do Enem, tenente-coronel Alexandre Gomes da Silva, deixou o cargo alegando motivos pessoais no final do mês de maio. Quem responde interinamente pela função é o servidor Anderson Soares Furtado Oliveira, indicado pelo presidente do INEP, Danilo Dupas. Apesar de todo esse imbróglio, houve repasse de recursos para que o exame fosse realizado e o ministro Milton Ribeiro divulgou pelas redes sociais que o exame será realizado nos dias 21 e 28 de novembro com as versões impressa e digital aplicadas nas mesmas datas.
Nesta quarta-feira (9) o ministro, que havia expressado o desejo de ter acesso prévio às questões da prova, declarou que “abriu mão” de ver previamente as questões do Enem 2021 para evitar que isto fosse interpretado como “censura.” Disse ele: “A prova do Enem não é um certame que vai avaliar qual a visão que o aluno tem do mundo. (…) Para mim, a prova do Enem deve buscar avaliar o conhecimento que o aluno tem e a condição diante de outros candidatos para que ele possa acessar o ensino superior” (…) “Quero deixar claro, portanto, que orientei o Inep, no papel de supervisão ministerial, para que a prova tenha caráter técnico sem viés ideológico ou partidário de qualquer matiz.” Ou seja, de qualquer modo haverá interferência e censura nas questões do Enem, impedindo que os estudantes possam refletir criticamente sobre os problemas que afetam a sociedade brasileira.
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Milton Ribeiro, assim como seu chefe, são, para a educação e para a fé que dizem professar, um desserviço, aliás, mais do que isso; são erros, são coisas antônimas. Um verdadeiro horror! Com efeito, Decotelli, foi o melhor.