Eita! Eles mataram Jesus Cristo!

Luis Otavio Barreto

 

A páscoa serve para lembrar que prenderam um homem jovem, o torturaram, o humilharam, colocaram-no sob o juízo de um homem medíocre e covarde, que o entregou a sorte de uma multidão enfurecida e ignorante, que foi preterido e, finalmente, assassinado cruelmente; humilhação da cruz e as dores físicas.

 

Jesus, andava à margem da sociedade; olhava pelos desvalidos, aleijados, pelas putas, possivelmente pelos viados, pelos famintos. Esse Jesus também fez e aconteceu no templo; soltou meia dúzia de palavrões em berros e tomou de um chicote para fazer a limpeza naquele lugar. Jesus nasceu pobre, no meio do cocô dos bichos,moscas, mosquitos e carrapatos, do fedor de um curral que em nada se assemelha aos poéticos presépios natalinos, com animais silentes, solenes pastando num jardim, como na música da Elis. Ele nasceu ali, no improviso. Nasceu já sendo perseguido pelo ego e pela covardia de Herodes.

 

Jesus, ainda moço, aos 33, foi, como vocês já sabem, assassinado porque fazia o bem. Seus algozes eram aqueles que achavam suas obras e seus ensinamentos, absurdos! Era a mesma gente que matava a pedradas as putas, as mulheres que julgava serem adúlteras, que desprezava os famintos, os aleijados e todas as minorias daquela época. Jesus foi um revolucionário! Queria acabar com aquela porra toda! O cara foi o maior modelo de perfeição de que se teve notícia, e não se trata de perfeição estética, muito embora creio que tenha sido um homem lindíssimo, vazado de luz e de olhar acolhedor, porém firme. Nada a ver com essa figura que convencionaram sê-lo.

 

O relato sobre o perdão dado àquela gente é recheado de uma aura poética, mas, acho mesmo que a coisa foi diferente. Cristo, já todo arrebentado, com o corpo rasgado, esfolado, furado e humilhado, do alto da cruz que jamais mereceu, olhou aquela gente horrorosa e, no auge de seu martírio e estado psicológico – que jamais alcançaremos – pensou: são uns patéticos, arrogantes e burros e então rogou a seu Pai; Perdoa, são uns imbecis, perdoa!Ele, homem, pediu ao pai.

 

Jesus, 33 anos, filho de José e de Maria, carpinteiro, foi covardemente assassinado depois de um julgamento ridículo, sob as mais absurdas acusações. O estado e o povo mataram a Jesus Cristo. E hoje, matariam outra vez. Aliás, matam!

 

Luis Otavio Barreto é músico, pianista e professor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *