Construir Resistência

E se o futuro já aconteceu?

Em pesquisa para um artigo futuro, topei com uma bela galeria de Woodstock (Agosto de 1969) no deMilked, com material roubartilhado do Vintage, do Bored Panda, com muitos registros da revista Life.

Caramba! A gente se arrepia porque toda essa natural e fresca modernidade disruptiva aconteceu há 53 anos. Tudo mais vivo, mais tenro, mais inventado, mais charmoso, mais eloquente, tudo muito mais sensual. Experiência “onlife” genuína.

Quanta moda e quanta estética de fruição, não?

Um contraste enorme com vastas parcelas bregas e chatíssimas da geração Z, encarcerada no smartphone, cheia de travamentos, não-me-toques e recatos bobocas. Veja lá, não generalizei. Falei em largas parcelas…

Enfim, sabe lá… De repente, o futuro já foi. E agora, depois do cume do tempo, rolamos ladeira abaixo, de volta à Idade Média. É tema para reflexão

O casal símbolo de Woodstock

O texto acima é de um micro-artigo, que um internauta do Facebook comentou de modo amargo. Lamentou que tudo tenha terminado em um grande show. Ora, não é bem assim.

Aquela assembleia monumental foi crista visível de uma enorme onda mundial da mudança progressista, cujas águas banham a praia do tempo até nossos dias.

Foi o alvoroço global das resistências ao fascismo, da emancipação feminina, da luta contra o racismo, do esforço pelo respeito aos direitos civis, da ascensão da contracultura, da contestação das guerras imperialistas, da desconstrução de muitos dos valores da propaganda capitalista.

Lógico que, depois do barro e do som, foi preciso voltar para casa e ganhar a vida, pagar o aluguel e quitar boletos. Mas ótimas sementes germinaram no chão de Bethel, em Nova York.

Uma das grandes imagens do evento foi obtida pela lente de Burk Uzzle, que à época prestava serviços para a revista Life.

Ordenaram que ele somente fotografasse os artistas. Ele, obviamente, desobedeceu.

Gracie Slick, da Jefferson Airplane, cantava, evocando a aurora. E aí, em êxtase de felicidade, um casal se levantou e se abraçou, protegido por um edredom enlameado. Compunha-se o resumo de toda aquela ópera rebelde e amorosa.

Eram Nick e Bobbi, dois jovens de 20 anos de idade que tinham começado a namorar pouco tempo antes. Não eram hippies típicos. Ela era, como diz, uma “caipira”. Ele era um trabalhador convencional proletarizado, com dois empregos.

Segundo Uzzle, aquele foi um momento único. Em um instante, aquela luz mágica desapareceu e o clima acabou.

Woodstock gerou uma liga forte entre Nick e Bobbi, que se casaram em 1971. Eles tiveram dois filhos, um em 1979 e outro em 1981.

Foram definitivamente confirmados como os personagens da foto icônica em 1989, quando a Life os procurou para celebrar os 20 anos do festival.

Bobbi contou que, em 1969, estiveram em Bethel com um amigo, Jim Corky, que havia retornado da guerra no Vietnã. Aquela celebração gregária era um bálsamo para todos os traumatizados pelo conflito. Segundo ele, havia um senso de tranquilidade e tolerância. Recorda de ter visto uma garota que fumava um baseado encostada em um carro da polícia.

O casal rememora o show como um momento de coesão coletiva. A ideia era curtir o tempo e o espaço, na sintonia da multidão.

Nick virou enfermeira numa escola e Bobbi se aposentou como carpinteiro. Ambos agora atuam como voluntários em atividades históricas que recontam para os jovens a história de Woodstock.

Em 2019, quando se completaram 50 anos do festival, ainda estavam juntos e apaixonados.

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