Por Roberto Garcia
Só vi o título. Não li a matéria. Mas o que vi basta. Corrige uma impressão que estava se firmando. Que além de ser incorreta é derrotista. Diz que os evangélicos estão rachados. Entre Lula e Jair.
O quê? Muita gente estava achando que essa frente estava perdida. É o gado. Ignorante. Não adianta perder tempo com eles. Tem que cancelar.
Não, não é nada disso. São brasileiros. Sofridos. Perdidos no meio de um oceano de desinformação, desesperançados. Acham que no meio da desgraça encontraram uma tábua de salvação. A igreja, onde vai muita gente do bairro. Onde eles encontram gente igual. Às vezes, um informa para o outro onde tem um emprego. Para eles próprios ou para a mulher, a filha, o filho.
Tem, é claro, o pastor. Às vezes com um foco só. O dízimo. Mas nem sempre. Esse também está perdido. Repete fórmulas que ouviu. Que nem ele próprio entende. Mas desde criança foram repetidas prá ele. Que se limita a transmitir sem parar. O senhor é meu pastor, nada me faltará.
Para alguém que sofre, prá quem falta tudo, é uma frase de esperança. Serve pra não sucumbir. Como pode dizer que nada faltará? Agora, na pandemia, sem emprego, na melhor das hipóteses recebendo a promessa de 150 reais, nem todos recebem, como pode dizer isso? É uma ilusão. Não se sustenta. Mas é nisso que se segura essa gente. Vai denunciar, cuspir neles, chamar de burro, ignorante, que só serve prá mugir? Povo imprestável. Mas tem outro, amiguinha? Ou é esse mesmo, o único. Pode é claro, mudar para os States, pra Suíça, lá para os lugares frios, escandinavos. Mas a multidão daqui não cabe lá. Nem deixariam.
Acha que era só gente letrada, formada, com mestrado ou doutorado, que elegeu os governos que melhoraram o Brasil? Não. Foram eles mesmos, aqueles, os que só tem esperança. É com eles que se tem de trabalhar.
E olhe que vai ser trabalho grande. Sentar perto, mostrar os fatos, esclarecer. Sorrir em vez de criticar e desprezar. Eles estavam conosco, engrossaram as nossas fileiras, votaram, ajudaram a eleger. Mas com tanta mensagem contrária, batucando na cabeça deles, o novo herói, é o Moro, o Dallagnol, o Huck da televisão, ah, e o Novo, esse é contra a corrupção. Estamos cheios do velho, tem uma nova opção, é o mito, é o Jair. Deu no que deu. Perdemos essa parada. Foi uma batalha. Alguns anos desperdiçados, Andamos para trás.
Lembra das comunidades de base? Essenciais para a vitória de Lula. E o Magno Malta, do Espírito Santo, qye viajou pelo Brasil, fazendo campanha também para o PT. Depois mudou, se afastou, virou contra, com raiva. Ajudou a eleger o Jair. Tem mil exemplos como esse. Quase certamente você os conhece melhor que eu.
As decepções foram tantas nos últimos anos, fomos vendo gente saindo, achando que viraram inimigo. Existe agora gente que só quer aliado radical. Em todos os pontos, sem qualquer discordância. Eu acho que é um erro. Tem que trazer essa gente de novo. A maior esperança é a nossa. Essa entregou de verdade, melhorou a vida do povo. Ele pode ter até esquecido. É preciso lembrar.
Mas se ficar nessa de gado, amiguinha, é receita certa prá perder.
Roberto Garcia é jornalista.