Por Roberto Garcia
Em vários pontos do mundo, nos quais a vacinação ocorreu com sucesso, a economia volta a funcionar. Tem muito avanço e recuo, aparece um variante que dá susto, cuidam dele, aplicam um reforço, parece que desta vez vai. E já descobrem um problema novo: faltam os tais semicondutores, os chips, sem os quais quase nada moderno funciona. Não é só celular e computador. Carro e caminhão também precisam. Um número sem conta de dispositivos usa isso. Agora não tem em quantidade suficiente. E daí? Daí que leio agora, as montadoras da GM na Alemanha estão paradas, falta peça essencial. Dizem que serão necessários anos para regularizar. Sabe quem são os maiores fornecedores de chips? A China e a Coréia do Sul. As fabricas lá não conseguem atender a demanda mundial.
Algum tempo atrás esses países estavam na rabeira do mundo, aqui achavam que nada de lá saído prestava. Ah, parece que mudou.
Agora, aqui na madrugada, chega a pergunta: se em vez de fazer arminha, como seria se tivéssemos como prioridade fazer fábrica de chips, por exemplo. Coisas úteis, necessárias, que empregam gente, que requerem formação técnica e científica, muita pesquisa, e que depois geram renda e empurram o país prá frente.
Lá do outro lado do mundo fizeram. Não foi necessário gênio. Só gente normal. Com cérebro igual ao meu e ao seu. Eles perceberam oportunidade. Aproveitaram. Estão lá na frente.
Por que aqui não tem isso? Desde que esses rapazes que deram o golpe ou o apoiaram, que se fez? Prenderam o empresário? Acharam que isso era bom? Fecharam as empresas. Demitiram os engenheiros e técnicos. Nem falar dos operários que hoje estão na rua. Os centros de pesquisa eram coisa de esquerdista, comunista, subversivo, sei lá. Queriam por o país nos trilhos. Trilho para onde, cara pálida?
E os juízes rigorosos? Qual foi o resultado de tanto rigor? E os procuradores, até agora intocáveis? Que produziram eles? Para onde empurraram o país? Queriam que o PT pedisse desculpas. Sim, precisava baixar a cabeça, confessar. Que abriu escola técnica, universidades. Isso sim era crime. E o que tem agora, o que é?
Cadê o conjunto da obra, amiguinhos? É isso o que queriam?
Outro dia fui ao hospital. Enquanto o médico me examinava, perguntei. Em quem vossa excelência votou? Com uma cara de pateta, ele respondeu: em Bolsonaro, não tinha opção. Uau, veja lá o que aconteceu depois que você optou pelo Jair, perguntei de novo. Ele sequer respondeu. Limitou-se a jogar as mãos para o alto, nos olhos uma expressão de vazio.
Francamente, não acho que agora se deve exigir desculpas desse pessoal que optou por isso que temos agora. Foi uma linha direta, de Curitiba, do príncipe da sociologia, dos jornalistas, analistas, empresários que se meteram a políticos, dos políticos que se meteram a juiz, de lá até aqui. De cada um que contribuiu para o quadro atual. O que não deve é dar mais atenção a essa gente. Besteira perder combustível prá passar trator em cima deles. O que tem é que falar com o povão. Explicar, mostrar o que aconteceu. Que não pode jogar voto de novo em justiceiros aproveitadores.
O perigo é pensar que só o PT tem resposta boa, que naquele mar só tem peixe bom. Não é bem isso. Esse partido também fez erros. Precisamos reconhecer. Tenho certeza que seus membros também percebem. Mas é importante olhar o que está aí disponível. Ver quem fez melhor. Aí, amiguinhas não tenho dúvida. Agora é trabalhar junto, de olho aberto, confiar mas conferir. Como em tudo na vida. Sempre que se caminha, quando se percebe o erro tem mesmo é que corrigir. Há alternativas boas. Essa por enquanto é a melhor.
Vi uma foto de manifestação de domingo, a favor do governo. Muita gente. Se for verdade a imagem, parece que é, a conclusão é que esse pessoal ainda é forte, não se pode ter ilusão. A oposição não teve tanta gente, pelo que vi. Achar que está tudo bem, resolvido, já ganhamos, olhe lá, cuidado.
Vai dar muito trabalho. Se está cansada agora, vai exaurir. Mas não pode parar. Achar que já fez sua parte, que agora pode descansar. Nã, nã, não. Vá trabalhar, amiguinha. Se não o fizer, vai ter daqui a pouco gente dizendo que não tem opção. Vão votar de novo no Jair.
Roberto garcia é jornalista.