E o cocô subiu na cabeça…

Por Roberto Garcia

O presidente foi transferido às pressas para o Hospital Nova Star, em São Paulo. Tinha passado mal na madrugada de segunda-feira. Com dificuldade para falar.
Nos últimos dias vinha reclamando desse problema. Mas dizia que não era nada grave. Resultado de um tratamento dentário que fez recentemente. Mas parecia historia mal contada. Tratamento de dente não dá soluço.
Quando a dor de barriga ficou forte demais, foi primeiro transferido para o Hospital das Forças Armadas, em Brasília. Acompanhado pelo médico especializado em problemas gástricos, Antonio Macedo, que o trata desde a facada. Mas lá acharam que não tinham recursos para cuidar dele. Melhor mandá-lo para São Paulo. Depois de muita hesitação, foi o que aconteceu. Embarcou às sete da noite de segunda.
Os detalhes foram chegando, a conta-gotas. Tudo com muito segredo. Mas vazou informação de que ele tem uma obstrução gástrica. O cocô não desce, naturalmente. Fica retido. Se não desce, prá onde vai? Sobe para a cabeça. Enfiaram uma sonda, uma mangueirinha, pelo nariz.
Foi dessa forma que retiraram um quilo de fezes. Fez uma tomografia para avaliar a situação. Podiam fazer uma cirurgia de emergência. Para retirar o trecho dos intestinos que estava fechado. Não fizeram.
Decidiram esperar, deixá-lo em observação.
Ele não quis se licenciar para esse tratamento. Diante disso, o vice, Mourão, que estava de viagem marcada para Angola, para uma reunião da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, continuou com os planos. Embarcou. Vai ficar na África alguns dias. O palácio do Planalto fica nas mãos do general Ramos. Sem vice disponível, na hora.
A presidência deveria ser assumida pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. Mas não pode. Ele tem processos de corrupção. A lei não deixa que alguém com problema jurídico fique na presidência. Que passaria, então, para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
O presidente está com cocô subindo para a cabeça. Confusão na sucessão, se ocorrer. Dá para sentir o drama?
O ex-ministro da saúde Alexandre Padilha lembra que desde a facada Jair Messias já passou por seis cirurgias. Outros dizem que ele toma coca-cola sem parar, desde o café da manhã. Obviamente ele está sob pressão, estressado. Nas últimas semanas.
Descobre-se que ele está num mar de lama. Mas isso não é invenção maldosa? Não. Não é. Por que é que todos os implicados na compra da vacina indiana vão ao Supremo Tribunal para pedir ou para não comparecer e se tiver que comparecer, para ficarem em silêncio.
Direito constitucional, para não se comprometer. Mas que diabo é isso? Se essa história não tivesse ilegalidade, porque não falar claramente o que aconteceu? Porque se esconder atrás de preceitos legais? Se não tem problema, por que não revela tudo, de uma vez?
Várias pílulas importantes, aí, para mostrar o quadro. Em primeiro lugar, o presidente do Senado decide estender por mais três meses, a CPI que investiga o caso. Que uns chamam #CPIdaCovid, outros chamam de #CPIdogenocídio.
Tem treta aí, e abriram a porteira para mais investigação. E já se percebeu que os líderes dessa CPI, são gente experiente, determinada, sem a menor vontade de recuar.
Ameaçados pelo comando militar, Omar Aziz teve uma resposta simples: não vão me intimidar. Renan Calheiros, o relator, velha raposa da política, ex-presidente do Senado várias vezes, que foi maltratado por Jair, está a fim de persistir com falas fortes, fazendo denúncias de falcatruas, de uma família criminosa, a dos Bolsonaros.
Numa só semana aparece uma ex-cunhada, que trabalhou nos gabinetes do deputado Jair, diz que ele foi quem começou as rachadinhas.Que os filhos só continuaram esse método corrupto de arrancar dinheiro do governo. Por meio de funcionários fajutos. Contratados para não trabalhar, que recebiam uma graninha de graça e entregam o grosso do salário para os membros da família de políticos. Flavio, por exemplo, recorreu aos tribunais para impedir que as investigações sobre o seu esquema de rachadinhas, mais de dez vezes.
Se nada houvesse de ilegal, por que não quer investigação? O presidente, por sua vez, desviou várias vezes os órgãos de investigação dos trilhos.
Primeiro tirou a independência do COAF, mandou para o Banco Central. Depois trocou o comando da Polícia Federal no Rio de Janeiro, para por delegado mais maleável, disposto a sentar em cima dos processos e impedir que eles avancem. E conseguiu também tropar o comando de toda a PF. Tem treta aí.
E as ligações com o Escritório do Crime do Rio de Janeiro. Ele tinha no gabinete dele próprio as parentes dos matadores. O filho deu prêmio para o Adriano Nobrega até mesmo quando estava preso. E Adriano morreu num tiroteio com a policia militar da Bahia, quando estava cercado. Por que entrar no tiroteio, se podia simplesmente esperar, até que ele se rendesse? Mataram para queimar o arquivo, impedir que ele contasse a história que sabia.
E a história da Joice Hasselmann, segundo a qual, durante a campanha, Jair disse que se levasse a facada estaria eleito. Isso quinze dias antes de ele ir para Minas, onde de fato levou a facada, que mudou o clima da campanha, criou uma enorme simpatia, que o beneficiou.
E a entrevista do Paulo Marinho, ex-aliado, em cuja casa Jair fazia as gravações da campanha eleitoral? Disse que Jair perdia o controle com frequência, não podia ser contrariado, tinha comportamento intempestivo.
E tinha que ser acalmado pelo Gustavo Bebiano, assessor que morreu inexplicavelmente. Isso tudo é comprovado. Sem dar sequer um passo nas várias teorias de conspiração.
O certo é que o centro do poder está podre. Criou-se um vácuo. Não se sabe direito quem vai mandar.
Justo na manhã do dia em que devia haver uma reunião entre os chefes dos três poderes, que iam dar um recado forte a Jair, para que não continuasse tumultuando. Sabendo-se que ainda no hospital em Brasília, no leito, Jair divulgou uma nota atribuindo seu problema de saúde ao PT e ao PSOL.
Ele não descansa. Não parece querer desistir. E o palácio, finalmente, está nas mãos de um general.
Roberto Garcia é jornalista.

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