É importante, na minha opinião, enraizar o nazifascismo. Pois ele não nasce do nada

Por Daniel da Costa

Historicamente, nazifascismo encontra sua base na experiência italiana e alemã. Mas hoje é o neoliberalismo (e em meados do século xx era o liberalismo clássico), que fornece a base axiológica (os valores) que dá possibilidade, amparo e existência ao nazifascismo.

O estado mínimo liberal o é para o povo, mas máximo para uma elite considerada superior, vencedora: eis a ideia elitista motriz do nazismo e do fascismo.

Junto a essa ideia, também há a ideia-teoria (liberal) de que a vida em sociedade é uma extensão sempre provisória do estado de natureza (barbárie), com o indivíduo solitário, com sua razão e sua vontade de poder em competição com os demais e que se une, em um falso elo de interesse, por isso mesmo sempre fragil, por meio de uma abstração racional legalista chamada contrato social, que não une ninguém. (Para o reflexo liberal típico, o estado de barbárie, de guerra, violento e de competição é o que ele concebe como sendo o “real”.)

O tal bom senso liberal nada mais é então que a projeção da alma do indivíduo liberal sobre a sociedade inteira. E a política, para o liberal, é o meio de manter essa estrutura e vc assim, sempre poder justificar seu “bom senso”.

No limite, para o liberal, a vida em sociedade organizada politicamente, ou seja, a vida civilizada, é o melhor meio de se manter a barbárie!

Ou seja, “vida política liberal”, “democracia formal liberal” etc. são *contradictio in adjecto* (contradição nos termos).

A ideia básica liberal é a de que viver em sociedade é sempre uma guerra, na qual vencerá o mais forte, o mais adaptado, ou o mais armado.

Os perdedores ( *losers,* como se diz nos EUA em relação aos 54 milhões de mendigos estadunidenses) são “objetos” de caridade (não pessoas, não cidadãos); objetos de piedade, e nunca de políticas públicas.

Daí o valor que a religião do coitadismo (na época do liberalismo clássico em religiões caridosas e filantrópicas: catolicismo, espiritismo etc.) e hoje (na época do neoliberalismo) a religião do “ufanismo escatológico”, principalmente no neopentecostalismo importado dos EUA, possui, para a ideologia liberal em todo seu espectro. Da mesma forma procede o nazifascismo, mas que exacerba e cai no oposto à filantropia: a dizimação em massa. Um movimento de polarização típico do dualismo racionalista embutido na ideologia liberal.

Assim, em uma miragem de vida social, caracterizada pela vontade de poder pelo poder para a manutenção de uma política de guerra ininterrupta de todos contra todos, o Estado mínimo liberal, com a desregulamentação total da vida social e econômica, será necessariamente um Estado máximo em seu caráter e atribuição policialesca. (O que nos faz entender porque os EUA, com um déficit social e humano tão grande, não obstante sendo a maior e mais rica potencia mundial, mantêm o maior orçamento público voltado para a guerra e o fabrico de armas.)

*Conclusão:*

É importante entender então que a base de valores que possibilita o nazifascismo atual é propiciada historicamente pela ideologia liberal. O que indica que, enquanto os pseudos valores da ideologia liberal permanecerem dominando o currículo escolar e o discurso hegemônico da grande mídia golpista, o perigo de sabotagem da democracia, tanto por meio de golpe, lawfare, guerra híbrida, com implantação de um estado policial neofascista, elitista e excludente, será sempre uma possibilidade na linha do horizonte das sociedades atuais.

Ou democracia real, inclusiva e participativa, ou a farsa liberal.

 

Daniel da Costa é teólogo, doutor em filosofia e músico profissional

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