É hora de comemorar

Por Nelson Marques

Nos últimos 30 e poucos anos trabalhei em campanhas políticas na TV e no rádio para o PMDB, PT, PSDB, DEM, PSD e outros partidos que já esqueci. Participei de campanhas para presidente, governadores, prefeitos, vereadores, deputados e senadores.

Em todas elas, sem exceção, sempre que os resultados de uma pesquisa de algum instituto importante, como o antigo Ibope – hoje IPEC – e o Datafolha, traziam números favoráveis ao candidato para o qual estava trabalhando era motivo de comemoração e de divulgação massiva e com o maior estardalhaço possível.

O texto que estampávamos em letras enormes na telinha ou “gritado” no rádio não variava muito: “Datafolha: Fulano sobe 10 pontos e ganha no primeiro turno” ou “Ibope: Sicrano ultrapassa Beltrano e lidera a corrida para governador”. Essa regra é obrigatória em todas as campanhas eleitorais, seja lá qual for o partido, o candidato ou o marqueteiro.

De maneira inversa, quando os resultados das pesquisas eram desfavoráveis ao nosso cliente, simplesmente não divulgávamos e a orientação para o candidato era desqualificar o instituto ou soltar a famosa frase, que todos já devem ter ouvido: “Pesquisa é retrato do momento; o que vale é o voto no dia da eleição”. Ou variações parecidas.

O objetivo de divulgar ao máximo os números favoráveis de uma pesquisa é criar um clima de vitória que acaba “contaminando” a maioria dos eleitores e leva boa parte deles, principalmente os indecisos, a decidir pelo voto no candidato que está na frente. Ninguém quer votar num candidato que tem grandes chances de perder. Todos já devem ter ouvido algum conhecido falar que não vai votar nesse ou naquele candidato porque “não quer jogar seu voto fora”.

Partindo do que escrevi ai em cima, não entendo porque vários companheiros de esquerda repetem, a cada pesquisa que coloca o Lula em primeiro lugar disparado e com possibilidade real de levar no primeiro turno, que não é o momento de comemorar, que não podemos “subir no salto alto”, que o quê “vale é o voto na urna” ou, pior, “voto na urna, eleição realizada e apuração confirmada”.

Esses companheiros parecem sempre duvidar dos números divulgados pelos institutos de pesquisa. Eu até entenderia essa desconfiança se os números não fossem favoráveis ao nosso candidato. Mas não é isso que TODAS as pesquisas estão mostrando: LULA ESTÁ NA FRENTE DISPARADO E LEVA NO PRIMEIRO TURNO! Isso precisa ser divulgado para o maior número possível de pessoas, pois vai criar um sentimento de vitória e trazer para o nosso lado eleitores indecisos ou que estavam propensos a votar em algum outro candidato. Isso é o que se chama de efeito manada: a maioria segue quem estiver na frente.

Outra teoria partilhada por alguns companheiros é comparar as eleições ao futebol, afirmando que sempre pode dar uma “zebra”. Mas as eleições não são futebol e muito menos um mata-mata onde, de vez em quando, um time mais fraco vence o mais forte (exemplo mais recente foi o Palmeiras ganhando do Galo e do Flamengo na semi e na final da Libertadores).

Em todas as disputas para presidente no Brasil desde a redemocratização, os dois candidatos que estavam na frente há pouco menos de um ano das eleições venceram, ficaram em segundo ou foram para o segundo turno. Foi assim com Collor e Lula em 89; com Lula e FHC em 94 e 98; com Lula e Serra em 2002; com Lula e Alckmin em 2006; com Dilma e Serra em 2010; com Dilma e Aécio em 2014; e com Haddad e Bozo em 2018. As “zebras” nas eleições são raríssimas, aqui no Brasil ou em qualquer outro país.

Por conta disso, acho que temos, sim, de comemorar e gritar alto para todos ouvirem que o nosso querido Barba está disparado na frente do bozo e dos pangarés da terceira via.

 

 

Nelson Marques é jornalista, produtor de TV e no dia 1º de janeiro de 2023 estará em Brasília para a posse do Barba.

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