Por Carlos Monteiro
Para onde meu velho e bom amigo José? Para aonde caminha a humanidade José?
Por que tanto ódio, por que tanto desamor, por que tanta maldade, por que tanta insensatez, por que tanta inveja, por que tanta intriga, por que tanta injustiça, por que tanta desconfiança, por que tanto egocentrismo, por que tanto individualismo, por que tamanha egolatrona? Ah, meu velho e bom José, por quê?
Essa arca desgovernada, chamada Planeta Terra, parece estar perdendo o pouco de humanidade que lhe ainda lhe restava, parece a tal “Nau Capitânia Sem Rumo” em desgovernos febris. O que parecia o ‘porvir do amanhã melhor’ está se mostrando a face oculta do mal, o lado obscuro da crueldade, ainda que Darth Tyranus, o grande vilão, que inebriado pelas forças contrárias mudou de lado, tenha proferido ‘twice the pride, double the fall’ [quanto maior o ego, maior a queda], parece que não serviu de exemplo; mesmo partindo de um pícaro.
A meu velho, querido e bom José, tu que andavas pela Galileia com Maria, que querias ser feliz com ela, que querias ser carpinteiro, ofício que seu pai concretizava e te ensinou, que tinha sonhos de um mundo melhor, mais justo para todos, de mais serenidade, de mais amor, de mais compreensão. Tu, ‘O Justo’, que olhastes os lírios do campo e as aves nos céus, tu que semeastes o amor, não ceifastes nem segastes, proferistes a fé maior da caridade.
José e sua causa operária clamando por direitos iguais, pela equipolência de todos os seres humanos, meu querido amigo, exaltação do perfume dos lírios, Mestre do Mestre. Ensinaste a caminhar, a palavra, o amor sublimado, mesmo que as ideias pudessem soar um tanto o quanto estranhas.
Que país é esse José? Que mundo é esse José? Dirias as mesmas palavras que teu Filho sussurrou anos mais tarde? ‘Perdoai-vos Pai, eles não sabem o que fazem…’, professam, divulgam, empobrecem, dizem, agem, pensam, veneram… Não, meu querido e bom amigo José, eles estão perdidos, encapsulados em seu egocentrismo, negacionismo e terraplanismo insano.
Diante disso, meu bom José, diante da luz que se apaga, do povo que some, da falta de teologia, o que fazemos? Diante do obscurantismo, como agimos? Tu que fugistes da ira de Herodes, que te exilastes com Maria perseguidos pelo ódio, que conhecestes a mentira e a força bruta… o que meu bom amigo? Como nos afastamos desse cale-se? Onde está o “Cálix Bento”? Está muito difícil dormir calado e acordar calado nesse atordoamento desumano.
Vem reflorir os caminhos José, vem perfumar corações, vem cessar a praga da falta de amor. Meu bom José, afasta de nós esse vírus devorador, esse sangue derramado, essa tristeza infinda, esse luto. Somos todos iguais, somos uma única arca, uníssonos em direitos.
Ó meu bom amigo José, tua sabedoria justa para iluminar mentes tão turvadas, tua luz para abrandar maledicências, teu amor sublime como exemplo maior, tua paz! Que se lembrem sempre de ti, meu bom José, meu pobre amigo. Da tua humildade serena, da tua alma apaixonada, de ti, Maria e teu Filho.
Meu bom José “…Pourquoi a-t-il fallu, Joseph/Que ton enfant, cet innocent/Ait eu ces étranges idées/Qui ont tant fait pleurer Marie?…”
E agora José, (você marcha, nós marchamos) para onde?
E agora José?
Carlos Monteiro é jornalista e fotógrafo