Por Ricardo Soares
Qualquer coisa que se assemelhe – mesmo que a distância de Gabriel Boric, jovem recém-eleito presidente do Chile, nem pensar
Todo mundo dá como favas contadas que as próximas eleições serão disputadas por duas vias e, quase certo, dois turnos. E também está claro que é preciso estarmos atentos e fortes para construirmos uma vitória sobre o fascismo que se veste com trajes de liberalismo ou , vá lá, conservadorismo. Assim sendo sobra a opção por uma única via mesmo que muitos não gostem já que a nação não conseguiu chegar nem perto da tal terceira via representada por políticos inócuos, falastrões, mais do mesmo. Novidade zero. Qualquer coisa que se assemelhe – mesmo que a distância – de Gabriel Boric, jovem recém-eleito presidente do Chile, nem pensar.
A construção da tal terceira via, poderia ser em cima do mote da rebeldia contra tudo que está aí que pateticamente parece ser a bandeira à qual se agarra o patético Ciro Gomes, um tiozão do pavê , desconectado de qualquer discurso novo, profissional das disputas presidenciais, que está tão a vontade em dialogar com o tal público jovem que ele pretende seduzir quanto Bolsonaro está conectado com a civilidade. Tentar ser um rebelde se comparando a Mário e Oswald de Andrade – creiam, ele fez isso – é de rolar de rir.
Enquanto esse “neo coroné” falastrão se ilude que está conseguindo atrair eleitorado com menos de 30 nada temos entre nós que se compare com discurso, ação, postura e prioridades do citado jovem novo presidente do Chile. Ciro Gomes (com a alcunha “Cangaciro” que lhe cai como luva ) tenta vestir uma roupa que não lhe serve montado na nave que o marketing de João Santana lhe oferece. Ou seja, Cangaciro não é novidade, não é esquerda, não é ruptura, não é equilíbrio, não é delicadeza. Do alto se sua carreira com passagem por oito partidos e centenas de contradições é mais um personagem de comédia do que uma solução.
Elegi (ops) Cangaciro para rir da terceira via porque parece ser o mais constante na lista como terceiro colocado ombreando ( após 24 anos sendo candidato presidencial) com a nefasta figura de Sérgio Moro que consegue ser ainda pior que o “coronézinho” de Sobral. E olha que isso é difícil. Ali é um duelo abissal entre megalomanias.
A pergunta que me faço todo dia é que circunstâncias levaram o país a não ter um único representante jovem que possa pleitear a presidência da República. Então assim ficamos no museu das grades novidades e obviedades enquanto o mapa mundi mostra a falência da economia centralizadora dos estados e o colapso do neoliberalismo de mercado.
Temo sempre pelas armas usadas pelos fascistas- as literais e as figuradas- com suas fake news , seus golpes abaixo da linha da cintura , sua ignorância ostentação e a normatização do discurso de ódio , patriotismo e demais patuscadas. Essa gente tem sido derrotada em alguns lugares do mundo mas não vamos nos iludir : vão jogar pesadíssimo para manter o pior presidente brasileiro de todos os tempos no poder.
Quanto a nós que estamos ao lado da civilização e contra a barbárie temos que sonhar com um salvador da pátria ou nos conformarmos com a opção que temos? Porque, convenhamos, no mato desses “tiozões do pavê” da tal terceira via não sai nada de consistente. Infelizmente.
Ricardo Soares é escritor, diretor de TV, roteirista e jornalista . Publicou 9 livros, dirigiu 12 documentários.