Por Virgilio Almansur
Descarte-o se Lorpa ou Parvo
João Paulo Ferreira Gama, médico com discernimento e competência, escreveu há dois anos no #Facebook, um belo textículo; interessantíssimo apanhado de nosso momento que traduz em cinco pequenos parágrafos essa mixórdia em que nos encontramos (segue na íntegra, abaixo, como 1º. comentário). Iniciou-o assim:
“Não se espantem se a burrice parecer cada vez maior a nossa volta. Foi escolhido um modelo onde nosso maior representante é um ‘Pregador da Ignorância’. Cultuar a idiotice tem sido rotina. Está na moda!”
Mais do que na moda, o desgoverno desse biltre cumpre um método: dissociativo em seu âmago, percorre via dissociação cognitiva um embate junto a seus seguidores. Esse método é voltado a essa massa que acreditou na “nova política”, que crê em corrupção como apresentada (a corrupção dos tolos), que se vale de fenômenos “míticos” sem a menor plausibilidade, que acredita numa intervenção militar e aceita as aberrações de um regime que feriu em vida com restrições e censura, sequestrou direitos, bem como promoveu mortes e torturas aos prováveis questionadores de um Estado apunhalado pela força.
O pacto rentista, como o pacto federativo, tem seus capatazes. Nas várias frações de nossa classe média — seja a fração protofascista em sua maioria, na expressivista, liberal e crítica (sobra esta, minoritária, que consegue enxergar os detalhes dessa manobra espúria) — prevalece, com exceção de um reduzido grupo crítico, a função capataz exercida com fidelidade ao chicote de outrora; estão sempre disputando não apenas bens materiais e salários, mas, também, prestígio e reconhecimento, ou em uma palavra: legitimação do próprio comportamento e da própria vida, conforme J. Souza que assinala o ódio de classe principalmente contra o pobre que pouco ascendeu.
Para serem enganadas, às “médias” basta que se achem sujeitos quando na realidade são massa de manobra. Nos golpes, em especial neste de 16, a mídia enganou e manipulou! Voltou a cantilena improvável de um comunismo e o ódio ao corrupto do lamaçal atual… Foi sendo ajustada para a eleição de novos capitães do mato, manifestoches esses que tomaram as avenidas e chacoalharam as ancas em favor de seus senhores. Nossas xicas da silva tremularam bandeiras e se maquiaram de verde-marelo. Mas…
Quê ganhou aquela ralé carnavalesca? Nada! Só perdeu!
No entanto, essa mesma massa escolheu seu espelho e requer seja considerada meritocrática e respeitada, quando percebe que um clã miliciano da pior espécie começa a dar as cartas. Como conciliar essa percepção de que seu representante é rasteiro e limítrofe? Como aceitar um criminoso na vizinhança presidencial e com tentáculos flagrantes na seara familiciana?
A melhor saída, nesse carteado de jagunços, é “embaralhar os tolos e ir mudando as regras, até deixar tudo exatamente como deve ser”, atesta muito bem João Paulo. A história nos revela períodos interessantes quando buscamos as interfaces getulianas, janguistas-brizolistas e as mais recentes com Dilma-Lula e as associamos com os interesses externos.
A tentativa de desestabilizar nossas naturais riquezas e “entregá-las”, bem como impedir nosso crescimento, é parte desse método, “terceirizado” hoje numa escolha estúpida de governo a serviço do rentismo mais escancarado e a uma capitalização que desobriga o patrão e pune — sem qualquer proteção, pois aplicação de risco —, o trabalhador. Mais: passará, este, a engordar ainda mais os bancos e o Estado tornar-se-á famélico uma vez que não arrecadará; aí sim passaremos a ter um verdadeiro rombo.
Há método! Confiram!
A escolha de um débil tem como pano de fundo um processo bem mais organizado. É expressão máxima da política sob chantagem, a mesma que compôs a farsa jato e seu moralismo postiço.
Desde a eleição de outubro/18 se sabe que a patuléia escolheu algo que pudesse corresponder aos anseios anti isso anti aquilo e que esse “anti” implicava um sujeito bom. Percebe-se a compra de gato por lebre e quando o gato mia não o concebe miando. A aposta era a “novidade” vendida na propaganda: não rouba; mas nas primeiras manifestações do ogro capitão soou um alerta: “… É isso?” Mais a frente surge o fatídico Queiróz, dinheiro na conta da patroa e na sequência a familiciana ocupa os jornais.
A dissonância começa a aparecer quando o eleitor crente (desnecessariamente evangélico…) de ter escolhido o cara honesto dá de cara com o óbvio da desonestidade crônica, vulgar e quase abjeta. Reitera-se dissonantemente um contraste entre as convicções de se ter um bom candidato que não corresponde a possibilidade honesta. Na cabeça do eleitor, que mesmo espelhado num despreparado, entendeu sua “compra” boa sem imaginar que mesmo boa apresenta os vícios gigantescos e quase crônicos.
Todo o aparato que perpassa a percepção também ressoa no raciocínio, nas associações, na memória, na atenção, num imaginário que se requer imaginado, pensado, julgado e então recai na linguagem… O candidato da gente de bem gera diariamente uma dissonância cada vez mais palpável e que passa a existir entre as convicções de que seus seguidores o compraram como de(o) bem mas tem ele raízes no mal. Essa “dor” exige reparos, muitas vezes sob certa anestesia; aí está o método adotado e que João Paulo assinala muito bem: “Abaixar o nível mental de uma nação é meta dos que estão dominando o jogo do mercado”.
Não é próprio de um médico essa percepção. Nossos colegas médicos, na maioria (vide os conselhos, do CFM aos regionais, repletos de trânsfugas mal formados) são toscos — e ao “fecharem” com um torturador em essência, mostram o caráter. São déspotas insanos à serviço da insanidade e do terror.
Estão cotidianamente promovendo discussões “abestadas”, sugerindo uma oligofrenização de uma parcela sensível da população que passa a acreditar em soluções simples, redundantes e reducionistas.
A apresentação dos “problemas” é montado em cima de platitudes concretas cujas soluções deverão, também, ser concretas! O império da estupidez passa a servir como mote de um projeto engendrado.
A cara desse (des)governo, quase uma caricatura da simplificação, é método! Como seu método é encarnar o pensamento do homem medíocre, o homem mediano que não assimila explicações baseadas em causas múltiplas. Impossível outro figurino para essa personagem da futilidade, que “joga” num time de espertalhões.
Mais uma vez J. Paulo nos conduz ao que se passa na contenda: “E nós, não estamos nesse time. Somos do time que está perdendo no tal jogo. Do time dos que fornecem petróleo, minério, madeira, grãos, carnes, mão de obra barata e boas remessas de juros aos que estão ganhando. Pros do Norte. Em troca continuamos aceitando espelhos. E também smartphones, que como os espelhos, hipnotizam a gente”.
É isso! Exatamente uma estratégia taticamente montada com o perfil governante mais propenso a idiotia, daquele que perdeu a vergonha da ignorância e a faz método quase impositivo. Matérias chapadas, repletas de um non sense chapolin cuja astúcia se passa num banco de praça de outrora alegria. Completa J. Paulo:
“… Não pode mudar isso aêê! Essa quuuestão tem q continuar sendo assim.
Taokey???”
Virgilio Almansur é médico, advogado e escritor.