Por Daniel Careca
Tenho acompanhado de perto a situação das pessoas que ficaram sem suas casas, ou que tiveram suas casas comprometidas pela água ou lama, na Vila Baiana. Acompanhado e participado.
Desconsiderando a geografia do local, a construção histórica daquela micro-região, e as consequências desastrosas das políticas públicas destinadas àquela população, detalho o ambiente pós-trauma:
Passados mais de 30 dias da tragédia, aqueles que conseguiram moradias em Bertioga não sabem se essas moradias são definitivas ou provisórias. Além de estarem longe de suas rotinas estabelecidas nas imediações do Sahy, as ameaças e hostilidade tem sido uma constância em suas estadias na cidade vizinha de São Sebastião.
Algumas famílias já voltaram e estão, como todas aquelas que não conseguiram nenhum local para ficar, morando de favor em casas de amigos ou familiares; Não muito diferente, as pessoas que estão acomodadas em pousadas, não conseguem a resposta se suas permanências serão renovadas após os 30 primeiros dias.
A mesma dúvida tem os proprietários dos estabelecimentos (muitos, inclusive, adaptaram suas estruturas para servirem as 3 refeições por dia, exigência do governo do Estado de SP).
Respostas sobre ‘aluguel social’
O valor que cogita-se pagar através do ‘aluguel social’, na Costa Sul não se aluga imóvel nenhum – desapropriação, ou qualquer outra questão referente à moradia, provisória ou definitiva, não transita na Vila Baiana, que já foi visitada por autoridades das diferentes instâncias do poder público, menos pelo Coronel do Exército, representante direto do Governador de SP para os assuntos relacionados à tragédia no Litoral Norte;
O Terceiro Setor muito arrecadou com a tragédia. Também se cobra dessas entidades uma prestação de informações de como isso tem sido revertido para o bem das vítimas mais necessitadas;
Na reunião com 5 vereadores na noite da quarta-feira passada (15/03/2023), quase nenhuma resposta foi dada aos moradores da Vila. Nem respostas, nem prazos para as respostas.
Cadastros do CDHU e CRAS
Até o momento, nada ajudou em relação à urgente carência das pessoas, após a chuva terem transtornado suas vidas;
As pessoas que tiveram suas casas adesivadas entre vermelho, laranja e amarelo, pela classificação de risco da Defesa Civil, gritam por explicação do critério utilizado pelo órgão.
Casas não são apenas empilhamentos de tijolos rebocados com cimento e massa corrida. Casas, que na verdade são moradias, são frutos dos trabalhos de seus proprietários, são suas histórias, são suas vidas!
Os Executivos dos poderes públicos precisam explicar o porque que, passado 1 mês da tragédia, as vítimas tem que esperar mais um pouquinho – enquanto isso, que durmam no acostamento da BR? – até que se arrume uma moradia provisória para eles, enquanto eles esperam passar os 150 dias para se deparar com mais uma mentira, que é o prazo para entrega das moradias definitivas!
As pessoas tem o direito de serem informadas pelos órgãos oficiais, que por sua vez, tem a obrigação de informar a verdade para os cidadãos. É sim uma satisfação oficial ao público, prestada por seus servidores!
O problema começa quando Prefeitura e Estado, com seus órgãos específicos que nada garantem às pessoas, tratam todos como números de cadastros, e se esquecem das singularidades daquelas pessoas, daquelas vidas!
Além do vazio, da demora na apresentação de um plano, as vítimas tem que lidar com mentiras e informações desencontradas, confusas e incertas, que lhes contam aos montes! Quando não o silêncio, que deveria servir apenas para homenagear famílias, amigos e vizinhos daqueles que se foram!
Daniel Careca, 48 anos, é professor, agente social, ativista político, formado pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, estudante da Filosofia da Diferença e do Pós-estruturalismo
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