Por Simão Zygband
A deputada federal e jornalista de Santos, Rosana Valle, que se elegeu pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), sigla histórica onde figuraram personagens como Miguel Arraes e Almino Affonso, que se notabilizaram pelo enfrentamento à ditadura militar, se transferiu para um partido que hoje representa a extrema direita brasileira, o Partido Liberal (PL) presidido pelo suspeito Waldemar da Costa Neto e onde se aninhou o ocupante da cadeira da presidência da República, o genocida Jair Bolsonaro.
Talvez a deputada jornalista, cuja carreira foi realizada na TV Tribuna (a Globo da Baixada Santista, onde trabalhou por 25 anos) não saiba o que significa este ato que é considerado como uma traição por parte significativa de seu eleitorado que esperava dela no Congresso Nacional uma atuação em defesa de princípios mínimos de civilidade, já que seus eleitores são (eram) compostos por colegas jornalistas, estivadores, zeladores, donas de casa, motoristas de ônibus, enfim, todo este povo que vive de salário ou de aposentadorias.
Aparentemente deslumbrada com o mundo luxuoso que existe em Brasília, Rosana Valle traiu exatamente esta parte significativa de seus eleitores, votando desde que colocou os pés no Congresso Nacional, em pautas que retiraram os direitos dos trabalhadores, pela reforma cruel da Previdência Social (que praticamente inviabiliza a aposentadoria e aumentou em dois anos o tempo de aposentadoria para as mulheres), e o mais asqueroso deles, o que permite a mineração nas terras indígenas, incentivando o massacre dos povos da floresta pelos garimpeiros. Esqueceu-se que ela mesma foi repórter da TV Globo na Baixada Santista, uma profissão em que não é permitido desconhecer o que Jair Bolsonaro representa para o país.
Não que não existam, jornalistas de direita. Eles sempre existiram e estiveram no lado podre da profissão, apoiando a ditadura militar ou atuando em benefício próprio contra os seus companheiros de trabalho. Pelas mãos destes tipos (e com a colaboração deles) foi assassinado Wladimir Herzog, ícone da profissão e mártir da luta contra o autoritarismo.
Rosana Valle sabe muito bem o que significa apoiar o fascista Bolsonaro num momento como este, um genocida que ri da tragédia de seu povo, que vive massacrado pelo maior desemprego da história, com milhares de famílias procurando comida nas latas de lixo ou morando em barracos de papelão ou plástico pelas ruas e avenidas das principais cidades brasileiras. Ela jamais poderia se aliar neste momento, com um (sic) presidente que não possui piedade, inclusive do povo que o elegeu, gastando mais de R$ 1,5 milhão por mês em seu cartão corporativo da presidência da República, enquanto milhões passam fome.
Não é segredo para ninguém, muito menos para Rosana Valle, o que significa aderir a um (des) governo que negligenciou a compra de vacinas e que ocasionou a morte de mais de 660 mil brasileiros, quando o ocupante da cadeira presidencial jogou na lata do lixo milhões de reais do dinheiro público na compra da ineficaz cloroquina. Desnecessário elencar tantos desmandos do genocida no poder, que submete os brasileiros a preços escorchantes nos combustíveis, alimentos, botijão de gás, transporte etc, sem a contrapartida nos salários e aposentadorias. Tudo isso sempre falando levianamente em nome de Deus. A fome voltou a campear em todos os pontos do país.
Veja o que o jornalista Carlos Ratton, ex-diretor do Sindicato da categoria na Baixada Santista, escreveu com suavidade e elegância na sua coluna, a Contraponto, no Diario do Litoral, sobre a mudança de partido da deputada neo-bolsonarista. Exatamente ele que foi diretor sindical da Rosana, na época em que ela era repórter.
Com certeza, entre seus eleitores, ela teve muito voto dos profissionais de imprensa e de seus familiares, exatamente este a quem ela trai diretamente com sua decisão:
“Bolsonarismo pra valer. Em seu comunicado de saída do PSB, a deputada Rosana Valle revelou que o motivo seria porque não compartilha da posição tomada pelo partido de apoiar o ex-presidente Lula. “Já vinha dizendo que não voto nem apoio o PT, inclusive ao microfone, em eventos públicos do PSB”, revelou a nova integrante do Partido Liberal (PL), do presidente Jair Bolsonaro.
Escolha. Rosana deve ter memória curta e não poderia ter escolhido um partido mais complicado para se filiar e disputar a reeleição. O PL, presidido por Valdemar Costa Neto e atual partido do presidente, é integrado por uma grande maioria de dirigentes alvos de investigações, quer por corrupção e lavagem de dinheiro, quer por outros tipos de delitos, como ‘rachadinhas’ e desvio de recursos de obras públicas.
Lista grande. Dos 27 presidentes estaduais da sigla, pelo menos 18 respondem a inquéritos ou já foram condenados por malfeitos. Em São Paulo, onde o presidente Bolsonaro pretende lançar o ministro Tarcísio Freitas para disputar o cargo de governador, a legenda é dirigida por José Tadeu Candelária (que posa em foto junto com Rosana e Tarcísio no ato da filiação), acusado pelo doleiro Lúcio Funaro, delator do mensalão, de ser o homem que recebia as propinas em nome de Costa Neto. E esse é o perfil dos demais líderes estaduais”.
Que lástima, Rosana Valle!