Denegação

Por Virgilio Almansur

Na medida em que nos recusamos ao reconhecimento daquilo que já absorvemos em pensamento expresso e insistimos na recusa em admiti-lo, adentramos em zonas escuras de nosso interior, facultando a permanência de quem não pode jamais ser convencido a mudar.

Essa estrovenga que chegou ao poder, acompanhada das piores figuras do mundo político, jamais admitirá sua performance rasteira e criminosa. Quem mantiver expectativa contrária estará ali, naquela zona cinzenta que pode confundir negacionismo e ética — senão os dois componentes num só corpo, que trafegam paralelos, talvez como irmãos siameses!

De difícil reparação pela simbiose que nutre a afirmação negada com a ética deslocada para fins particulares, esse mundo das tribunas, onde boa parcela se apresenta histrionicamente, percebe-se enorme resistência às  revelações que dia sim outro também conferem pendor criminoso aos atos do executivo que, recusados, são imediatamente recalcados.

A sintomatologia reinante aparece nas blitzkriegs reinantes no Congresso em geral, onde nenhum parlamentar se diferencia e acaba por alimentar correntes negacionistas diretas ou indiretas.

Mas não ficam tão somente restritas as infâmias aos poderes executivo e legislativo. Lá, onde o guardião constitucional, STF, se exige como último a manifestar respeito à ordem magna, titubeios aqui e ali geram incertezas que cronificam sintomas que caminham à má fé…

Quando o presidente de uma casa legislativa se nega a deferir ou mesmo indeferir pedidos de impeachment com o custos legis  se associando na negativa de crimes mais do que comuns, pouco ou nada nos sobra se o único poder “revisor” se vê impedido por ausência provocativa. O STF, manietado por critérios jurisdicionais, só pode manisfestar-se por demanda que o provoque dentro das quatro linhas e por quem esteja autorizado para tal.

Restou-nos o TSE. Tardiamente — e sob o tempero de um tapetão —, impede-se pelo despreparo circunstanciado além do historial que repousa desde o ano crítico de 2018. A um ano das eleições, tudo caminha para um repeteco de proporções dantescas. O partido militar continua dando as cartas e seguirá sob os holofotes globais que uma time-life premiou: a impunidade contínua de uma rede que não hesitará em se manter hegemônica.

 

Virgilio Almansur é médico, advogado e escritor.

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