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Por Jorge Antonio Barros
Desesperado por ocupar o segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos para presidente da República, Jair Bolsonaro está errando a mão e tentando inutilmente jogar o povo brasileiro contra as instituições. Primeiro, contra o Poder Judiciário. Agora contra o Poder Legislativo, representado pelo Congresso. Bolsonaro quer desmoralizar os poderes da República para que o Poder Executivo seja o único em campo e o povo apoie o golpe de estado que ele planeja dar desde o primeiro dia que assumiu o Palácio do Planalto com a ajuda de parte das Forças Armadas. Muitos militares são ressentidos por terem participado da ditadura e deixado o poder praticamente aos pontapés da nação.
Depois de ter manifestado arrependimento por tantos ataques ao STF, no momento em que soube que seu filho, Carluxo, poderia ser preso por causa do inquérito das fake News, Bolsonaro volta a confrontar o Poder Judiciário, com a graça que concedeu de modo absolutamente irresponsável ao deputado Daniel Silveira, que é um personagem periférico, mas trazido por Bolsonaro para o centro dos debates também como forma de lançar mais cortina de fumaça diante de seus desmandos administrativos.
Como se não bastasse esse indulto que é um claro desvio de finalidade, Bolsonaro agora conseguiu com apoio do presidente da Câmara e um de seus escudos, Artur Lira, colocar a raposa para tomar conta do galinheiro. Condenado a oito anos de prisão pelo STF, Daniel agora é membro titular da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a mesma que julga desvios de conduta de seus pares. Além disso foi “eleito” vice-presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados (informação confirmada no site da Câmara, como se vê no fac-símile aí da imagem). O que Daniel entende de crime organizado se não for a atuação dele junto à quadrilha do “Gabinete do ódio”? Daniel na Comissão de Segurança Pública é uma pá de cal do próprio Bolsonaro em sua não-política de segurança pública. Bolsonaro, na verdade, não está nem aí para a segurança pública. Basta ver o que tem feito com essa pasta.
Me digam, senhoras e senhoras, que moral tem um deputado condenado por crimes contra a ordem institucional para integrar a cúpula da Comissão de Segurança Pública do Poder Legislativo? Nenhuma, absolutamente nenhuma moral. Com 1,90m de altura, movimentando-se como um lutador de UFC, no ringue da política, Daniel é uma caricatura de si mesmo. O que tem de estatura física tem de pequenez moral. Ele está envolvido numa sucessão de irregularidades. Antes mesmo de o STF analisar se é constitucional a graça concedida ao deputado, Daniel já tirou a tornozeleira eletrônica que foi obrigado a usar.
Em novembro do ano passado, Daniel foi condenado pela Justiça a indenizar o então prefeito de Niterói, Axel Grael, por ofensas nas redes sociais. Como policial militar, Daniel foi um fracasso. Segundo um boletim interno da PMERJ vazado pelo portal The Intercept, Daniel foi preso mais de 80 vezes, entre 2013 e 2017, acusado de insubordinação. Obviamente que esse desajustado encontrou apoio de Bolsonaro, capitão expulso do Exército e agora bajulado por generais sem noção.
Colocando Daniel Silveira na Comissão de Constituição e Justiça e na Comissão de Segurança Pública da Câmara, Bolsonaro quer jogar o povo contra o Congresso. Isso é um escárnio, um deboche, mais uma violência do sr. Presidente contra a sociedade brasileira. Se alguém ainda insiste em mantê-lo no Palácio do Planalto, só há uma explicação: querem mesmo ser cúmplices do pior presidente da República que esse país já viu desde 1889.
Jorge Antônio Barros é jornalista e editor do Quarentena News.