Por Simão Zygband
As mortes de Dom Phillips e Bruno Pereira tem requintes de crueldade, mais afeitas à ação de máfias e milícias que tomaram conta do país, sobretudo no (des)governo de Jair Bolsonaro.
O brutal assassinato do jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, esquartejados, incinerados e atirados em uma cova no meio da floresta Amazônica, que indignou a comunidade internacional, demonstra o requinte de crueldade que o Brasil, sob o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro, passou a viver desde a trágica eleição do sádico genocida à presidência da República.
Não que execução de lutadores pela preservação da floresta e de suas populações (inclusive os indígenas) sejam uma novidade na história do Brasil. Na defesa desta causa já tombaram o líder seringueiro e ambientalista Chico Mendes (morto em Xapuri , Acre, em dezembro de 1988), a missionária Dorothy Stang (morta em Anapu, Pará, em fevereiro de 2005), o casal castanheiro José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo (mortos em maio de 2011 em Ipixuna , Pará), entre tantos outros. Foram assassinados em emboscadas, quase sempre a mando de fazendeiros da região. Mas há centenas de casos iguais, além de massacres, como o ocorrido em abril de 1996, em Eldorado dos Carajás (PA), onde morreram 21 trabalhadores.
Todos são trágicos episódios de um país onde a violência bate à porta de todos os cidadãos, seja no campo ou na cidade e também na floresta. Mas as mortes de Dom Phillips e Bruno Pereira tem requintes de crueldade, mais afeitas à ação de máfias e milícias que tomaram conta do país, sobretudo no (des)governo de Jair Bolsonaro.
A morte dos dois lutadores da Floresta lembra mais o cruel assassinato do jornalista Arcanjo Antonio Lopes do Nascimento, o Tim Lopes, da TV Globo, em 2002, que fazia uma reportagem sobre abuso de menores e o tráfico de drogas no Complexo do Alemão, na zona Norte do Rio de Janeiro, quando foi capturado, torturado e executado, tendo também seu corpo carbonizado pelos traficantes. É o típico procedimento do crime organizado.
Assassinos que esquartejam e queimam os corpos de suas vítimas, como ocorreu com Dom Phillips e Bruno Pereira, o fazem para não deixar pistas. É típico, portanto, de sádicos criminosos como os ligados ao tráfico de drogas. Confesso que custo a acreditar que os irmãos Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos, e Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, que confessaram os assassinatos, tenham agido com crueldade apenas por que as vítimas os viram pescando em área proibida, em reserva indígena, como faz parecer a versão apresentada. Não parece ser maneira de agir de gente nascida na floresta como eles. Mas posso estar enganado. É verdade que tudo mudou para pior sob o (des) governo do genocida, inclusive a índole dos povos da floresta.
A Polícia Federal se apressou em divulgar uma nota que as investigações apontam que não houve participação de organização criminosa ou de um possível mandante por trás da morte do indigenista Bruno Araújo e do jornalista britânico Dom Phillips. Em nota, a PF informou que, até o momento, as investigações continuam e que, apesar de os dois suspeitos presos não terem agido através de um mandante, o inquérito ainda busca confirmar ou descartar se houve a participação de outras pessoas no assassinato. “Com o avanço das diligências, novas prisões podem acontecer”, informou.
Já a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava) afirmou que “não concorda com o desfecho da PF que afirma não haver mandante para o crime”. Pois, como exímios conhecedores da região, confio na versão deles que, além de ajudarem nas investigações, sabem muito bem como as coisas acontecem na região amazônica no (des)governo Bolsonaro, que incentiva garimpos ilegais, as invasões de territórios indígenas, a ação predatória de madeireiros, os desmatamentos promovidos pelo agronegócio etc, além da presença ostensiva de narcotraficantes que fazem da Amazônia uma rota para distribuir drogas.
Então, a pergunta permanece: quem mandou matar Bruno e Dom?