CPMI do Golpe: ex-diretor da PRF mente e acaba desmascarado

Do site do PT 

Silvinei Vasques, que dirigiu a PRF no governo Bolsonaro, foi o primeiro a ser ouvido pela CPMI que investiga os ataques de 8 de janeiro

Silvinei Vasques e Anderson Torres usam evento oficial da PRF para fazer campanha para Bolsonaro

 

ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques bem que tentou, mas não conseguiu enganar os deputados e senadores da CPMI do Golpe, ao testemunhar nesta segunda-feira (20).

No início de seu depoimento, ele tentou argumentar que não fez nada de errado ao pedir votos a Bolsonaro; afirmou que não houve operações com o intuito de dificultar eleitores do Nordeste de votar no segundo turno; e negou que a PRF sob seu comando tenha se omitido diante dos bloqueios de estradas golpistas que se iniciaram após a derrota de Jair Bolsonaro.

Para seu azar, havia parlamentares muito bem informados para questioná-lo. “Infelizmente, a PRF foi a instituição que mais sucumbiu ao bolsonarismo. Isso ficou marcado especialmente pelas ações do dia do segundo turno da eleição e pelas omissões que ocorreram a partir da segunda-feira após a proclamação do resultado”, ressaltou o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA).

Para mostrar como Vasques contribuiu com esse desvio da corporação, o deputado lembrou que, em 26 de setembro, seis dias antes do primeiro turno, o ex-diretor presenteou o então ministro da Justiça, Anderson Torres, com uma camisa do Flamengo estampada com o número 22 (o mesmo com o qual Bolsonaro concorria à reeleição).

“A gente está falando de um ato oficial, que era o lançamento do aplicativo PRF Brasil, no encerramento da Semana Nacional do Trânsito, no Centro de Convenções da PRF”, ressaltou Pereira Júnior, lembrando que Vasques acabou sofrendo ação de improbidade no Ministério Público Federal e se tornou alvo de investigação no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Ministério Público Eleitoral (MPE).

Sobre o apoio explícito a Bolsonaro, o senador Fabiano Contarato ressaltou que a postagem feita pelo ex-diretor nas redes sociais pedindo voto a Bolsonaro na véspera do segundo turno, também feriu princípios da administração pública.

“A instituição é de Estado, não é do governo de plantão. O senhor violou  o princípio da moralidade e da legalidade”, destacou o senador, apontando na ação um ato de improbidade administrativa. “Eu vou ler para o senhor o que é ato de improbidade administrativa: ‘ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições’. Isso não sou eu quem está lhe dizendo. Isso está na Lei 8.429”, completou.

Operações no Nordeste

A tentativa de negar qualquer tentativa de dificultar a votação no Nordeste, onde o presidente Lula tinha mais votos, também não deu certo. Mais uma vez, Rubens Pereira Júnior recuperou a verdade, lembrando como essa trama foi articulada.

O deputado recordou que, em 18 de outubro, o Supremo Tribunal Federal tomou uma decisão que permitia o transporte público gratuito no dia do segundo turno. “No dia 19, uma reunião da Cúpula do PRF foi feita de forma secreta, sem celulares, e não era assim habitualmente, com custo altíssimo, convocando todos os superintendentes regionais para virem a uma reunião presencial. Daí pra frente, tudo mudou”, atestou.

O resultado do que foi combinado nessa reunião foi apresentado por diferentes parlamentares, como o deputado Rogério Correia (PT-MG): enquanto o Nordeste somou 2.185 fiscalizações no dia do segundo turno, o Sudeste teve apenas 571.

Correia lembrou que o fato de Silvinei ter resistido a cumprir ordem do STF de suspender as operações de sabotagem o tornou réu na Justiça. “É preciso colocar pingos nos is. Nosso depoente fez muita tergiversação, mas ele é réu na Justiça Federal do Rio de Janeiro pela atuação de pedir votos e também pela questão do segundo turno”, afirmou.

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E, embora Silvinei Vasques tenha dito não saber de processos administrativos ainda abertos contra ele, Correia o desmascarou. “Existe sim processo administrativo e está em fase final. Isso é dado, não sigiloso, da própria Polícia Rodoviária Federal. E o senhor poderá até perder a aposentadoria se, no final das contas, for considerado culpado.”

Correia ainda destacou a gravidade do fato de a empresa Combat Armor ter recebido mais de R$ 36 milhões em contratos com a PRF graças a Vasques. “Essa era uma empresa de publicidade e, dois meses depois de se tornar empresa de segurança, o senhor fez um contrato com ela, quando ainda era superintendente da PRF no Rio de Janeiro.

Pereira Júnior acrescentou que essa ligação se torna ainda mais suspeita quando se sabe que um dos donos da empresa, criada nos Estados Unidos, é Daniel Beck, apoiador de Donald Trump e participante da invasão do Congresso americano, em 6 de janeiro de 2021.

Bloqueio de estradas

Por fim, a terceira grande mentira de Vasques foi a de que a Polícia Rodoviária fez tudo que podia para acabar com os bloqueios golpistas que bolsonaristas começaram logo após a derrota de Bolsonaro nas eleições.

“A partir da derrota, houve, nas palavras do eminente ex-diretor, talvez o maior fechamento de estradas do mundo, mais de 1.300 bloqueios. Parte disso porque o ex-presidente sequer reconhecia a derrota. Ali se iniciou o golpe do 8 de janeiro. Ali era para ter sido cortado o mal pela raiz, para ser feita a desobstrução de todas as BRs e coibido esse movimento antidemocrático. Não foi feito, e causou o que causou”, recordou Rubens Pereira Junior.

“Teve corpo mole por parte da Polícia Rodoviária Federal, infelizmente”, prosseguiu o deputado. “Teve caso de policial rodoviário federal cortando a cerca do aeroporto de Guarulhos (que teve o acesso bloqueado por golpistas). E nós queremos saber exatamente o que foi feito. Quem foi preso, quem foi apurado, quem foi aposentado, quem foi demitido”, completou.

Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), a forma como Silvinei Vasques e tantos outros membros do governo anterior agiram, tentando transformar instituições de Estado em órgãos a serviço do bolsonarismo, prova que o ataque golpista às sedes dos Três Poderes não foi um evento isolado, espontâneo. “O 8 de janeiro foi uma marcha que estava em curso e se frustrou porque a democracia foi mais forte”, disse.

Fabiano Contarato, por sua vez, se disse convencido de que Silvinei Vasques não foi à CPMI com a disposição de dizer a verdade. “Hoje, o senhor está aqui como testemunha. Mas essa comissão vai provar que o senhor concorreu de qualquer forma para o que ocorreu aqui no dia 8. E quem de qualquer forma concorre para esse crime responde pelo mesmo crime. Quem diz é artigo 29 do Código Penal. O senhor aquiesceu, agiu de forma contundente, usando uma instituição de Estado”, observou.

“Eu acho que os policiais rodoviários federais têm vergonha de ter tido o senhor à frente da direção da instituição porque o senhor não soube se portar como um diretor”, finalizou o senador.

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