Concerto para trompete em tenha dó

Por Luis Otavio Barreto

Eu vim chorar pitangas, mas ninguém eh obrigado a aguentar meus azedumes; cada qual com os seus.

Apaguei.

Permita-me, no entanto, confessar que tô com uma saudade de uma época tão menos cacete. Eu resolvi que esse ano aprenderia algo novo. Entrei numa universidade e fui para uma outra graduação.

Ontem procurei o “seu Nilo”. Pedi aulas particulares de trompete! Ele, não me conhece. Perguntou se eu sabia música (isso significa “Você sabe ler partitura?”). Acenei que sim. Hoje, às 19h, terei a primeira aula. Ainda não sei como será, mas sei, pq ele alertou, que tem protocolos por causa da #Covid-19.

Estou fazendo isso porque não gosto das coisas que estou vendo vir pelo horizonte. Preciso ocupar, com gosto, a mente. Estou esgotado, meu semblante está cansado! Ontem mesmo, num #whatsapp, alguém me disse que fico um “tesão” com essas olheiras.

Eu parei, respirei, deu uma puta vontade de chorar, rir, xingar, mas fiquei um pouco envaidecido e curioso. A coisa só piorou quando, em seguida, veio o seguinte “tenho tara em homens esculhambados”. Sério, me deu uma vontade de arrancar a roupa e sair gritando até o carro no pinel vir me apanhar.

“Esculhambado”. ES-CU-LHAM-BA-DO!

Tudo isso, o governo, a carestia, um cacetão (mano, pelamor…eu devo ter mais uns 30/40 anos de vida, vai…) um cacetão d’uma nave levando uns caras que não valem um tostão furado…

gente…eu não tenho maturidade pra lidar com aquilo…é tudo surreal demais…

e, ainda, ESCULHAMBADO…

se eu não aprender a tocar trompete lindamente ou se tomar bomba na faculdade…

aí, como diz Sávio, um meu aluno;

ehpacabá!

Luis Otavio Barreto é músico pianista e professor de língua portuguesa.

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