Por Beatriz Herkenhoff
Estou assistindo na #Netflix a minissérie #Maid. Muito forte e envolvente. Aborda a violência psíquica, física e emocional vivida pelas mulheres e sua capacidade de recomeçar, mesmo estando destroçadas.
Paralelamente, senti-me instigada a fazer uma resenha do livro #CirandadasMulheresSábias – ser jovem enquanto velha, velha enquanto jovem, de #ClarissaPinkolaEstés (2006). Esse livro nos instiga, como mulheres, a entrar em contato com a força curativa que existe em nós.
Clarissa é psicóloga #junguiana, poeta e escritora. Com especialização em traumas pós guerra.
Aborda, em seus livros, a temática do arquétipo feminino, seus mistérios e potência, tendo como referência mitos, histórias ancestrais e contos. Reflete sobre a maturidade e a sabedoria feminina, atributos necessários para a arte do ser mulher. Afirma que a união da alma madura com o espírito jovem compõe o “ser jovem enquanto velha e o ser velha enquanto jovem”.
Embora o espírito cresça em experiência e sabedoria, ele possui a exuberância, a curiosidade e a criatividade desenfreada da juventude. Enquanto a alma é a força antiga no interior da psique, que age com sabedoria e maturidade.
Numa psique equilibrada, essas duas forças: o espírito jovem e a alma velha e sábia se mantêm num abraço em que se reforçam e fortalecem. A tarefa da mulher sábia é viver plenamente cada dia. Viver do seu próprio jeito vibrante.
O que deveria fazer uma mulher que perdeu o contato com um ou com o outro aspecto dessa preciosa natureza dupla dentro de si mesma, seja o espírito para sempre jovem, seja a anciã conselheira? Aqueles aspectos exatos que tornam uma mulher uma “grande” neta, uma “grande” avó, uma “grande” alma.
Deveria receber “a bênção” para viver como um ser pleno o tempo todo, até seus limites mais distantes. Uma benção faz com que você use algo que você já possui: o dom que nasceu com você quando veio ao mundo.
Uma bênção é para que você se lembre totalmente de quem é, e faça bom uso da magnitude que nasceu embutida no seu eu precioso e indomável. Saiba que você é abençoada, apesar das hesitações, quedas, tempo perdido, certezas, perspicácias e mistificações, pois tudo isso é combustível para avançar.
Para a autora, a mulher vai construindo a sua sabedoria a partir de suas experiências positivas e negativas, dos fracassos e decisões equivocadas. Apesar das perdas ao longo da vida, das dores e angústias, muitas mulheres decidem superar os obstáculos para viver plenamente. E quando isso acontece, o seu exemplo irá contagiar os que estão próximos.
Para Clarissa Pinkola, a avó é a representação simbólica da mulher sábia. Mas, o arquétipo da mulher sábia pertence às mulheres de todas as idades. A sabedoria não se restringe à maternidade, existem mulheres que são grandes genitoras de novas ideias na arte, na literatura, na sua profissão, em todas as áreas.
A autora compara a força da mulher com a capacidade da árvore de sobreviver às intempéries. Por baixo da terra, a árvore venerável abriga “uma árvore oculta”, feita de raízes vitais constantemente nutridas por águas invisíveis. A partir dessas radículas, a alma oculta da árvore empurra a energia para cima, para que sua natureza mais verdadeira, audaz e sábia viceje a céu aberto.
O mesmo acontece com a vida de uma mulher. Como a árvore, não importa em que condições ela esteja acima da terra, exuberante ou sujeita a enorme esforço. Por baixo da terra existe “uma mulher oculta” que cuida do estopim dourado, aquela energia brilhante, aquela fonte profunda que nunca será extinta.
“A mulher oculta” está sempre procurando empurrar esse espírito essencial em busca da vida para cima, para que atravesse o solo cego e consiga nutrir seu eu a céu aberto. Dentro da psique de muitas mulheres existe algo que entende intuitivamente que o conceito de “curar” está incluído na palavra “saúde”.
Quando ferida, ela se torna “cheia de cura”. O que significa que algum filamento vibrante, gerador de vida, no seu espírito e na sua alma se move persistentemente na direção da nova vida.
Mesmo quando a atuação do ego é temporariamente reprimida, a mulher oculta por baixo da terra, a que cuida do fogo para esse fim, mantém a atitude pela vida, por mais vida! Não importa onde ou como vivamos. Mesmo que nossa estrutura externa seja insultada, agredida, apavorada ou mesmo destroçada, ninguém poderá extinguir o estopim dourado, e ninguém poderá matar sua guardiã subterrânea.
Las abuelitas: as grandes vovozinhas. De que modo ela é perigosa? De que modo é sábia?
Ela é mutilada e cresce de novo. Ela morre e cresce de novo. Ela ensina as jovens a fazer o mesmo: acrescentar audácia, acrescentar dança.
Que você escolha o que a faça dançar, não mais andar pesadamente nem cochilar, pelo tempo afora.
Beatriz Herkenhoff é doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). É cinéfila.