Cinema Turco: vale assistir

Por Beatriz Herkenhoff

Você conhece o cinema de origem turca?
Com tempo mais disponível, estou expandindo os horizontes e descobrindo joias raras no mundo do cinema. Hoje vou comentar sobre alguns filmes Turcos. Filmes densos, intensos e sensíveis, que nos inquietam e ficam em nós durante dias.
Inconscientemente, colocamos limites para impedir a circulação de alguns sentimentos que trazem à tona nossa fragilidade. Mas, que, ao mesmo tempo, acabam sendo obstáculo para a circulação de reflexões sobre a ética e atitudes que destroem nossa humanidade, dificultam a empatia e busca por mudanças.
Alguns filmes Turcos que assisti furaram meus mecanismos de defesa, colocaram o dedo em feridas mais profundas e me convidaram a refletir sobre a vida com novos elementos e recursos. Filmes que conseguem romper com nossos mecanismos de defesa. Furar a bolha de proteção que criamos para ficar na zona de conforto.
Alguns deles:
Incir Receli 2 (2015) tem como tema o luto, perdas irreparáveis, difíceis de serem elaboradas e que podem levar a uma descrença na possibilidade de encontrar um novo amor. Embora seja um tema difícil, a abordagem é muito delicada, trabalha caminhos para a reconexão com a vida.
Cinar Agaci (2011)  filme de uma sensibilidade extrema, aborda a relação de amor e cumplicidade entre a avó e o neto. Os conflitos familiares que surgem quando a matriarca adoece e os filhos querem colocá-la numa casa de repouso. Diálogos densos e profundos que nos fazem pensar sobre a realidade que vivemos. Gestos e atitudes que fazem a diferença.
Sadece Sem (2014)  romance que fala diretamente ao nosso coração. Uma linda e delicada história de amor, deficiência visual, assédio, sentimentos de culpa que geram sofrimento e paralisam. Histórias de vida que aprisionam. O filme nos convida a não ter medo das cicatrizes psíquicas e emocionais, que podem ser transformadas em canal de cura. Se você se deixar tocar, não será mais o mesmo ao ver esse filme.
Mucize. Filme que toca e nos transforma
Mucize (2015) encanta e emociona por sua delicadeza e sensibilidade ao abordar temas fundamentais.
Baseado numa história real que se passa no interior da Turquia nos anos 1960.
O professor Mahir é enviado a uma cidade remota nas montanhas e faz renascer a esperança ao ajudar os moradores locais a construir uma escola. Predomina a união e o trabalho coletivo no enfrentamento aos obstáculos. A fotografia é belíssima. Somos convidados a mergulhar na cultura, crenças, costumes e valores da região.
A história tem como foco a inclusão e exclusão social. O preconceito em relação à deficiência, cenas de bullying e zombarias que humilham e isolam Azir, jovem com dificuldades motoras para andar e falar.
Além da luta contra o preconceito, o filme valoriza o papel do professor na sociedade. O professor Mahir, ao incluir Azir no processo de ensino escolar, possibilita mudanças significativas em sua vida e da comunidade.
O poder da educação com sua força democrática e valores éticos que transforma vidas. A educação que gera possibilidades de mudanças em relação à deficiência.
Não vou escrever mais para não dar spoiler, mas considero um dos melhores filmes que assisti em 2020.

Nota a autora:

A partir da crônica A arte resgatando vidas, publicada aqui no Construir Resistência, recebi inúmeras mensagens solicitando que voltasse a falar sobre filmes. Naquela, escrevi sobre a importância da arte cinematográfica em tempos de #pandemia e a partir de hoje publicarei resenhas semanais dos filmes que tenho assistido nesse período de #isolamentosocial.
Beatriz Herkenhoff é cinéfila e testemunha da importância da terceira arte nesses tempos de #isolamentosocial. Doutora em serviço social pela PUC São Paulo, professora aposentada da Universidade Federal do Espírito Santo.
Imagem: divulgação

Resposta de 0

    1. Sim Teresinha, vou refletir e indicar também filmes indianos, coreanos, chineses, mexicanos, brasileiros, argentinos, chilenos, franceses, entre outros. Muitas produções que saem do quadrado Hollywoodiano. Coloque sugestões aqui também.

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