Por Luiz Eduardo Rezende
Primeiro foi Lula, agora foi a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Ambos advertiram à militância de que é preciso pé no chão, pois a eleição não está ganha como parecia. Muito pelo contrário. A última pesquisa mostra que tinham razão. Lula estacionou entre 40 e 42 por cento das intenções de votos, enquanto Bolsonaro subiu de 25 para 28.
Se as candidaturas de terceira via, especialmente as de Ciro Gomes e Sérgio Moro, realmente não vingarem, como tudo indica, a eleição será praticamente plebiscitária já no primeiro turno. E acontecerá após uma campanha acirrada, suja mesmo, com muitas acusações, já que os dois candidatos têm telhado de vidro e um alto índice de rejeição.
Lula larga na frente, mas quando a campanha começar virão à tona todas as denúncias de corrupção contra ele e contra o PT. E dizer que os processos foram anulados no STF por suspeição de Sérgio Moro não vai convencer os antilulistas, antipetistas e moralistas que veem o Partido dos Trabalhadores como um antro de corrupção.
Em contrapartida, Bolsonaro será bombardeado, acusado de negacionista em relação às vacinas, de pouco ligar para as centenas de milhares de mortos pela Covid-19, de homofóbico, racista, antidemocrático e defensor da tortura e dos torturadores. Contra ele e os filhos pesarão também acusações de corrupção em vários setores do governo e ainda a participação em rachadinhas e ligação com milícias no Rio.
Não é à-toa que Lula quer porque quer Geraldo Alkmin como vice. É uma forma de conseguir votos no centro e centro direita, segmentos sensíveis a um discurso moralista de Bolsonaro. A campanha nem começou e os xingamentos de ladrão, genocida e outros já estão nos discursos de ambos os lados. Tudo indica que, daqui para a frente, o mote da disputa será, como bem disse Chico Buarque:
Joga bosta na Geni!!!!
FALTA DE EDUCAÇÃO
O cidadão Jair Bolsonaro tem todo o direito de não gostar dos ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes. O político também pode nem querer conversa com os dois. O presidente da República, não. É obrigado pelo protocolo a participar de cerimônias oficiais nas quais os dois estejam presentes.
Mas Bolsonaro está pouco ligando para isso. Simplesmente ignorou a posse de Fachin e Moraes como presidente e vice do Superior Tribunal Eleitoral, alegando ter outros compromissos agendados. Mentira. Na hora ele estava no cercadinho conversando com correligionários. Mais uma prova de desapreço pelas instituições, especialmente pelo TSE, por ele acusado de querer presidir uma eleição fraudada.
Essa insistência em denunciar fraude numa eleição que nem aconteceu ainda, aponta para um caminho perigoso, o de Bolsonaro não reconhecer o resultado, caso perca, e tente se manter no poder por meio de um golpe. Desde a eleição de Tancredo e a posse de Sarney a democracia brasileira vem se fortalecendo, com os militares recolhidos aos quartéis e respeitando a vontade popular.
Eis que surge Bolsonaro com suas ideias golpistas. Concordando ou não com as decisões, o Judiciário é um dos pilares da democracia. É inaceitável que o presidente da República declare guerra ao estado de direito.
SEGUNDAS INTENÇÕES
Corre entre os bolsonaristas que caso o general Walter Braga Netto seja mesmo candidato a vice na chapa de Bolsonaro, o presidente pretende nomear para o ministério da defesa o chefe do Exército, general Paulo Sérgio Oliveira, que seria substituído por um militar linha dura, perfeitamente afinado com suas ideias.
Entre os políticos, inclusive os do Centrão, há o receio de que Bolsonaro esteja preparando um golpe, se perder a eleição para Lula. As velhas raposas do Congresso lembram uma famosa declaração de Carlos Lacerda: “Juscelino não pode ser candidato, se for não pode ser eleito e se for eleito não pode tomar posse”.
Este é, segundo muitos parlamentares, o sentimento de Bolsonaro em relação a Lula. Naquela época, Carlos Lacerda falou confiando num apoio dos militares. Fracassou. Agora Bolsonaro procura se cercar dos que antigamente eram chamados de gorilas para ver se dá certo.
BRIGA INÚTIL
As últimas pesquisas mostram que as candidaturas de Ciro Gomes e Sérgio Moro são inviáveis, pois a eleição está definitivamente polarizada e não há espaço para uma terceira via, a não ser que algo muito surpreendente aconteça.
Mas Ciro e Moro continuam brigando pelo terceiro lugar. Moro, que perde fôlego a cada dia, é aconselhado a desistir e tentar uma vaga de senador ou deputado federal pelo Paraná. Até agora não deu sinais de aceitar, embora sua candidatura a presidente seja minada até dentro do seu partido, o Podemos.
Ciro Gomes, esse então dificilmente desistirá. Acostumado a perder, vai continuar até o fim com seu discurso agressivo contra tudo e contra todos. Para o PDT, um partido que fica mais fraco a cada ano, se ele conseguir chegar perto dos dez por cento já ajuda a fazer uma bancada razoável na Câmara.
Os dois sabem que não têm a menor chance de se eleger presidente. Ciro, com forte liderança em Sobral, sua terra natal, no Ceará, não tem interesse num mandato parlamentar. O irmão Cid já ganhou o governo e a família prefere se manter como dona dos votos cearenses. Já a situação de Moro é diferente. Se ele quer continuar na política, precisa de um mandato para não ser esquecido. Para ele, ser deputado federal é um ótimo negócio.
Mas em relação à Presidência da República, Ciro e Moro continuam disputando quem vai ser o primeiro dos últimos.
INVESTIGAÇÃO FAJUTA
A polícia encerrou o inquérito e indiciou por homicídio doloso os três homens que mataram a pauladas o congolês Moise Kabagambe num quiosque da praia da Barra da Tijuca. Sim, mas vai ficar só nisso? A investigação não vai continuar para apurar os verdadeiros motivos do crime?
Quem são os guardas municipais que assistiram a tudo e nada fizeram? Por que não quiseram se meter? Não é muita ingenuidade acreditar que o rapaz foi brutalmente assassinado porque estava tirando do freezer sem pagar uma lata de bebida? Qual a razão do funcionário de um quiosque ao lado também ter participado das agressões?
Há muitas perguntas a serem respondidas. Todos sabem que aquela é uma área dominada pela milícia, tanto que a família do congolês não aceitou a oferta da prefeitura de explorar o quiosque onde ele foi morto, por não se sentir segura. O Ministério Público estadual não pode aceitar passivamente o encerramento do caso com tantas coisas ainda difusas.
Mas como o caso envolve milícia, tudo é possível.
MEIA MEDIDA NÃO RESOLVE
Foi mais do que acertada a medida das autoridades de transferirem para o final de abril os desfiles de blocos e das escolas de samba. Ainda estamos em pandemia e não são nada aconselháveis as aglomerações. Mas desde a semana passada blocos estão saindo em vários pontos da cidade e na internet se pode comprar convites para festas e bailes, em locais abertos e fechados.
Até a Liesa, tão cordata na hora de adiar os desfiles, está promovendo apresentações de todas as escolas do grupo especial, com ingressos pagos, na própria cidade do samba. Na orla, os quiosques também fazem festas pagas, ocupando espaço público. Não se tem notícia até agora de um esquema de fiscalização montado para verificar a apresentação de passaporte vacinal, uso de máscaras ou diminuição do número de pessoas em locais fechados.
Se era para ter carnaval assim, então era melhor não adiarem os desfiles no Sambódromo.
FOTOS
Gleisi Hoffmann e Lula: advertência à militância petista para manter o pé no chão (Getty)
Bolsonaro no cercadinho: compromisso que ele alegou para não ir à posse do novo presidente do TSE
Carnaval 2022: Liesa promove desfile compacto na Cidade do Samba (Reprodução/ Instagram)
Luiz Eduardo Rezende é jornalista com passagem pelo Jornal do Brasil, O Dia e O Globo.
Compartilhado do Quarentena News. As matérias aqui reproduzidas são de responsabilidade dos autores.