Por Simão Zygband
Foto: EFE/Maurilio Cheli
Mesmo que não vingue, a chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tendo como vice o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa pelo Planalto nas eleições de 2022 já se mostrou um sucesso.
É o que mostram as mais recentes pesquisas de intenção de votos de todos os institutos. O ex-presidente Lula disparou e, se as eleições fossem hoje, estaria eleito no primeiro turno com larga vantagem em relação a seus oponentes, todos eles participantes do golpe de Estado contra o povo brasileiro.
É inegável que foi de uma habilidade política imensa o simples fato de Lula, que nunca foi e nem será um radical, ter aventado a hipótese de ter Geraldo Alckimin como vice da sua chapa. Pode ser até que a costura política não se concretize, mas ela, por si só, já é vitoriosa.
Sempre existiu no imaginário dos leigos na política que o PT e o PSDB deveriam se juntar. Claro que é uma hipótese inviável. O PT, pelo seu passado, é o principal representante dos trabalhadores brasileiros, com um viés sindical bastante evidente, que encantou também parte da classe média intelectualizada. Por ter a liderança de Lula, atinge a maioria dos pobres brasileiros, que se identificam com a sua história do retirante nordestino que enfrentou as agruras da vida e chegou à presidência da República. Veio, portanto, da pobreza e passou por ela. O partido ainda tem alguma resistência contra as privatizações e só as realiza, quando no governo, em situações extremas. Opta sempre pela manutenção de equipamentos com gestão pública, principalmente nas áreas de Educação e Saúde.
O PSDB era até então o principal representante da oligarquia nacional (leia-se agronegócio, bancos, indústria), até ser varrido pelo vendaval da extrema direita que se abateu sobre o país, com grande apego entre a classe média que, mesmo empobrecida, não gosta de se considerar pobre e ainda sonha com a ascensão social. Defende o Estado Mínimo, ou seja, efetuando concessões e privatizações em benefício de empresários privados. Com este modelo tucano, os capitalistas obtêm lucros com a exploração de bens outrora públicos, como a Saúde, a Educação, a Petrobras etc.
Além de ser uma figura messiânica e carismática, o ex-presidente Lula se transformou também em um exímio estrategista do xadrez político. Ignorante é aquele que continua com seu discurso raso de que ele é “cachaceiro” e “analfabeto”. Já sem argumentos, estes tolos ainda batem na mesma tecla amplamente divulgada pela mídia golpista, do “Lula Ladrão”, sem levar em conta de que ele foi absolvido de 20 processos imputados pelo ex-juiz de primeira instância, o improbo Sérgio Moro, que construiu provas contra o réu, um escândalo jurídico sem precedentes.
Não se sabe quem será o vice de Lula. Alckmin, que deverá deixar o PSDB, conta com uma simpatia gigantesca dentro do próprio PT. O ex-presidente sempre serviu de referência para a maioria dos petistas e diante de sua magnitude política, se tornou muito difícil internamente contrapor as suas decisões, apesar de ser possível, através de mecanismos internos. Mas foi com ele que a militância aprendeu a desarmar o espírito e passou aceitar acordos nunca antes imagináveis. Já foi assim com o primeiro vice, José Alencar, empresário do setor têxtil, com passagens pelo PMDB, PL e PRB, uma experiência que se mostrou acertada, mesmo com muita gente torcendo o nariz.
Lula também foi extremamente hábil na elaboração do seu ministério e contou com figuras controversas (e longe dos gostos dos petistas) como Henrique Meirelles (ligado ao sistema financeiro mais conservador), Luiz Fernando Furlan (ligado ao agronegócio e ex-presidente da Sadia), Miguel Jorge (ligado às montadoras), Reinhold Stephanes (agronegócio), Wagner Rossi (do PMDB paulista), entre outros.
Lula sabe muito bem como sinalizar para o eleitorado conservador brasileiro e esta sinalização passa, sem dúvida,por Geraldo Alckmin, certamente o menos “tóxico” dos tucanos.