Por Simão Zygband
Não é segredo para ninguém que o Brasil está melhor no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que no de seu antecessor. Governos são construção coletiva, já que ninguém é dono da verdade. Mas não poderia deixar de pontuar o que considero uma falha nas relações internacionais promovidas pela Chancelaria brasileira, algo que, a meu ver, beirou a negligência e a omissão.
Hoje surge a notícia de que as forças armadas israelenses recuperaram na sexta-feira, em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, o corpo do brasileiro Michel Nisenbaum, de 59 anos, que havia sido sequestrado pelo grupo terrorista Hamas. Ele era natural de Niterói, no Rio de Janeiro e desapareceu na manhã de 7 de outubro de 2023, no dia do ataque, quando saiu para buscar a neta de quatro anos em uma base militar na cidade de Re’im, sul do país, onde ela estava com o pai, um soldado do Exército israelense. Supõe-se que tenha sido morto no mesmo dia do seu sequestro.
Como todo e qualquer cidadão brasileiro, independente da sua origem, ele deve receber todo apoio do governo no Exterior, seja através do Consulado ou da Embaixada. Isso parece inquestionável. A mim, não pareceu ter havido nenhum esforço da chancelaria brasileira para tentar libertar o brasileiro. Sequer dar maior divulgação e mostrar a insatisfação do governo brasileiro com o sequestro de um cidadão pátrio.
E vão falar em contrário: e as criancinhas palestinas e os 40 mil mortos em Gaza?Não se trata de relações internacionais, nem de definição de estratégia do país nas decisões diplomáticas. Simplesmente Nisenbaum e sua família foram praticamente abandonados à própria sorte.
Tenho certeza que o corpo diplomático brasileiro em Israel vai tentar provar o contrário, descrevendo suas ações na tentativa de libertar o refém nacional. Mas não. Houve uma “defesa” pálida e insossa, quase inexistente, como se não tivesse um brasileiro nas mãos dos terroristas do Hamas. Talvez não os considerassem como tal.
A omissão tem, portanto, um leve gosto de antissemitismo. Dane-se, afinal é “apenas” um judeu, quiçá sionista. Lula e seu consultor, Celso Amorim, devem ter temido uma suposta reação negativa, por parecer que com a defesa de Nisenbaum, estavam conivente com o governo sanguinário do extremista Benjamin Netanyahu. Mas não era o caso.
O governo brasileiro deveria ter se empenhado mais na localização de Michel Nisenbaum, dado maior repercussão ao caso. Mas não, preferiu se amoitar. Lula certamente recebeu os familiares do refém, mas não jogou nenhum peso para defender o cidadão brasileiro.
E se fosse o contrário, um cidadão brasileiro de origem palestina sequestrado pelas forças israelenses? O governo brasileiro não teria se empenhado mais, surfando na gigantesca onda internacional que se formou na defesa do povo palestino, representados desafortunadamente pelos terroristas do Hamas?
Lamento que Nisenbaum tenha sido deixado para trás pelo governo brasileiro, apesar de Lula ter dito o contrário. A sua defesa era menos importante do que se posicionar a favor da denúncia da África do Sul no Tribunal da ONU, assinando uma petição que designava Israel como um estado “genocida”?
Isso torna o Lula um antissemita? Claro que não. Mas dificulta o duro diálogo interno havido dentro da comunidade judaica exatamente em apoio à sua candidatura e ao seu governo.
Nem Hamas, nem Netanyahu, o lado sanguinário e podre da mesma moeda.
Meus pêsames aos familiares de Nisenbaum.
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Simão Zygband é jornalista, com ascendência judaica, editor do site Construir Resistência, com passagens por jornais, TVs e assessorias de imprensa públicas e privadas.