Callado, um chorão…

Minha mãe tinha um LP de Jacob do Bandolim. Quando meu irmão mais velho, meu mentor para coisas de política, história, arte e cultura colocava o disco na vitrola, ele que ouvia Khachaturian e Rimsky-Korsakov, além de Geraldo Vandré, me falava: – tá vendo! Melhor que Paganini e Jimmy Hendrix. Gosto de Blues, mas é bem triste, né? Quanto sofrimento. Bily Holliday cantando “arvore de estranhos frutos”, lembrando os enforcados pela KKK. O Choro é tão vibrante e alegre. Não se pode negar, como diria Mariátegui, nossa herança ibérica. Mas o lamento gracioso da música brasileira, nascida dos mocambos, feita por negros e mestiços, possui aquela alma (blues?) tão brasileira, um drible na tristeza, nosso coração rasgado, amando e enfeitando a bola.

Capital do Reino Unido, reformado urbana e culturalmente, ao Rio chegavam instrumentos de origem europeia. Piano, clarinete, violão, saxofone, bandolim e cavaquinho e também músicas de dança de salão: Valsa, quadrilha, mazurca, modinha, minueto, o xote e, principalmente, a polca, que viraram moda nos bailes daquela época, e influenciaram a criação do novo ritmo. A abolição criou as condições históricas para o surgimento do choro, com a emergência de novos ofícios para as camadas populares tendo como origens estilísticas o lundu, ritmo de inspiração africana à base de percussão. Grupos de instrumentistas populares, oriundos da classe média baixa da sociedade carioca, em sua grande maioria modestos funcionários de repartições públicas, cujo trabalho lhes permitiam uma boemia regular, já que geralmente moravam em bairros afastados como o Cidade Nova. O chorinho pode ser considerado como a primeira música urbana tipicamente brasileira, transformando-se em um dos gêneros mais prestigiados da música popular nacional reconhecido em excelência e requinte. Um dos criadores do choro foi o flautista Joaquim Antônio da Silva Callado, nascido em 1848 no Rio de Janeiro. O “pai dos chorões”.

O Choro de Callado era constituído por um instrumento de solo, no caso sua flauta de ébano, dois violões e um cavaquinho, onde os acompanhantes, ou os três instrumentistas de cordas, tinham boa capacidade de improvisar sobre o acompanhamento harmônico, que é a base do choro. O compositor trabalhou e conviveu com inúmeros chorões, que se destacaram naquela fase de fixação da nova maneira de interpretar as modinhas, lundus, valsas e polcas. Dentre eles, o seu amigo e aluno, o flautista Viriato Figueira e sua também amiga Chiquinha Gonzaga. Filho de Joaquim Antônio da Silva Callado, desde muito pequeno convivia com música, pois seu pai era pistonista, professor de música e mestre de banda na Sociedade dos Artistas e na Sociedade Carnavalesca dos Zuavos.

Sua família frequentava os clubes e festas carnavalescas no século XIX. A família era pobre, assim o pequeno Joaquim era educado em casa, onde teve suas primeiras aulas de piano, flauta e de música com o pai. Aos 15 anos apresentou-se pela primeira vez em concerto, e teve como uma de suas primeiras composições Querosene, data de 1863. Em 1866 começou a ter aulas de regência, harmonia e composição com o maestro Henrique Alves de Mesquita, que teve grande influência em sua formação musical. Em 1867, casou-se com Feliciana Adelaide Callado, com quem tem três filhas e um filho. Precisando sustentar a família, Joaquim começou a trabalhar como músico profissional, tocando flauta em concertos. Foi o segundo flautista no Teatro Ginásio Dramático onde tocou para a família imperial, além de tocar em salões privados e clubes populares. Em 1867 compôs a quadrilha Carnaval, que se tornou um sucesso naquele ano. Em 1869, compôs a polca Querida por Todos, dedicada à amiga Chiquinha Gonzaga, com quem frequentava as rodas de música. Ele também tocava junto de Chiquinha em eventos e reuniões.

Além de seu trabalho como músico, Joaquim também organizava rodas de música com os amigos, onde tocavam e ouviam todo tipo e gênero de música. É nestes círculos populares que Joaquim organizou seu próprio conjunto, em 1870, o Choro Carioca ou o Choro do Callado. Logo Joaquim se tornou uma referência no choro da época. Durante a década de 1870 tornou-se um músico bastante conhecido na sociedade. Em 1973, sua composição Lundu Característico, que conseguiu um relativo sucesso. Ele ainda editaria as polcas Linguagens do Coração (1872), Ímã (1873) e Cruzes, Minha Prima (1875), entre outras e tornou-se um dos mais célebres flautistas cariocas.

Em 1871, Joaquim foi indicado como professor da cadeira de flauta do Imperial Conservatório de Música e em 1879 foi condecorado como Comendador da Imperial Ordem da Rosa. Sua carreira de sucesso é subitamente interrompida quando Joaquim cai de cama e rapidamente adoece. Ele morreu em 20 de março de 1880, na cidade do Rio de Janeiro, aos 31 anos, devido a uma meningoencefalite. Sepultado no Cemitério de São João Batista, no Caju. Deixou quatro filhos. Para homenageá-lo, Catulo da Paixão Cearense compôs letra para a polca Flor Amorosa (1880), consagrando-a no cancioneiro nacional. Criou mais de setenta composições.


Ouça:
Jacob do Bandolim tocando Flor Amorosa
https://www.youtube.com/watch?v=FDhRg6KogjQ&ab_channel=JacobdoBandolim-Topic

Fontes:

Cinthia Filomeno, no site Pragmatismo (https://www.pragmatismopolitico.com.br/2021/04/sobre-o-choro-seus-instrumentos-e-sua-historia-consolidando-o-chorinho-como-o-genero-instrumental-principal-do-pais.html)

Wikipédia

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