Por Luiz Eduardo Rezende
Compartilhada do Quarentena News
A candidatura a presidente do ex-juiz Sérgio Moro começou auspiciosa, foi caindo, perdendo apoios, e terminou de maneira melancólica. Moro sai da disputa com a pecha de juiz parcial e político traidor.
O Podemos fez uma festa à altura de um candidato forte por ocasião da filiação de Moro. Acreditou no potencial do ex-ministro e se deu mal. Moro jamais passou dos dois dígitos nas pesquisas. Foi abandonado pelos candidatos a governadores, a senadores e a deputados estaduais e federais pelo Brasil afora.
Isolado, patinando nos índices de intenções de votos, percebendo que o Podemos sozinho não teria muitos recursos dos fundos partidário e eleitoral e pouco tempo de televisão, Moro negociou por baixo do pano com o União Brasil uma mudança de partido. Aceitou a exigência de trocar a candidatura a presidente pela de deputado federal.
A direção do Podemos foi surpreendida com a filiação de Moro ao União Brasil. Soube pela imprensa. Moro hoje é chamado de traidor não só por integrantes e eleitores do Podemos, mas por filiados e simpatizantes de todas as siglas que consideram a palavra e o cumprimento de acordos atributos indispensáveis a um político sério.
O antigo herói da Lava Jato, desmoralizado como juiz, traidor do partido que lhe deu a mão quando mais precisava, tem hoje que torcer para se eleger deputado federal por São Paulo.
Cuidado, Moro, eleitor também não gosta de traíra.
TIRO NO PÉ
A jogada de João Dória de fingir que ia renunciar a candidatura a presidente para unir o PSDB em torno do seu nome foi um fiasco. Só fez fortalecer as intenções golpistas de Eduardo Leite, que renunciou ao governo do Rio Grande do Sul na esperança de Dória fracassar como candidato e ele surgir como representante do PSDB na terceira via.
Os tucanos estão rachados, está voando pena pra todo lado. E Dória, que pensou ser mais esperto que a esperteza, continua patinando na rabeira das intenções de votos. É possível até que venha mesmo a renunciar caso vingue o acordo entre PSDB, União Brasil e MDB de terem um candidato único para presidente. Seria o nome que estivesse mais bem colocado nas pesquisas.
O enfraquecimento de Dória, a renúncia de Moro, e a total incapacidade de Ciro Gomes de atrair eleitores praticamente enterraram a terceira via e mostraram que a disputa se dará mesmo entre Lula e Bolsonaro.
Todos os movimentos fora dessa polarização, daqui para a frente, visarão apenas a formação de bancadas e as candidaturas a governos estaduais.
CIRCO MAMBEMBE
O deputado bolsonarista Daniel Silveira, além de homofóbico, a favor da ditadura e mal educado, é um péssimo ator. Protagonizou na câmara uma cena patética, ao se refugiar no plenário para evitar que um agente da polícia federal colocasse uma tornozeleira para que seus passos fossem monitorados, já que ele desobedece corriqueiramente as restrições que lhe são impostas pela justiça.
Daniel Silveira se fez de vítima, de perseguido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, e afirmou que iria resistir, ficaria na Câmara, protegido pela inviolabilidade do parlamento, e faria valer os seus direitos como parlamentar. Chegou a permitir fotos de assessores levando um colchão para ele dormir no gabinete.
O que o deputado pretendia mesmo era buscar apoio do presidente Bolsonaro e dos bolsonaristas mais radicais. E conseguiu. Mas certamente não esperava que Alexandre de Moraes tornasse seus bens indisponíveis, bloqueasse seu salário e ainda lhe aplicasse uma multa de R$ 15 mil por dia até que a decisão judicial fosse cumprida.
Aí ficou provado que, para alguns pelo menos, o órgão mais sensível do corpo humano é o bolso. Rapidinho Daniel Silveira saiu do esconderijo e foi até a sede da polícia federal, em Brasília, para colocar a tornozeleira.
Agora desfila pelos corredores do congresso com aquela joia no tornozelo. Que papelão!!!
RECAÍDA DE BOLSONARO
Não adiantou o Centrão aconselhar, as pesquisas mostrarem que o eleitor não gosta de radicalismo. O DNA golpista fez com que o presidente Jair Bolsonaro, na cerimônia de saída dos ministros que concorrerão às eleições deste ano, voltasse a defender a ditadura que prendeu, torturou e matou milhares de brasileiros.
Bolsonaro foi do Exército. Teve a personalidade formada por aqueles militares que durante 21 anos trataram a ferro e fogo os opositores do regime. Tanto que afirmou, há algum tempo, que a ditadura deveria ter matado 30 mil pessoas no Brasil. E seu ídolo é o ex-coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, conhecido torturador.
No discurso de quinta-feira Bolsonaro fez altos elogios aos governos militares, voltou a ofender os ministros do STF e, numa clara provocação, disse que nas próximas eleições haverá recontagem de votos. O que certamente não acontecerá, pois a votação será, ao contrário do que deseja o presidente, nas urnas eletrônicas.
Para desafiar ainda mais os ministros do STF, Bolsonaro reservou lugar na primeira fila de convidados para o deputado Daniel Silveira, ainda sem a tornozeleira eletrônica.
FAROESTE BRASILEIRO
O presidente Jair Bolsonaro, que tanto explora politicamente a facada de Juiz de Fora, está na obrigação de mandar a Polícia Federal apurar quem foi o autor da postagem nas redes sociais prometendo matar o ex-presidente Lula se Bolsonaro se comprometer a dar apoio à família dele.
Esta não é uma ameaça sem sentido. A pessoa estabelece as condições, sabendo que será identificado e preso caso mate ou tente matar realmente Lula. Que a campanha eleitoral será acirrada, com baixarias de lado a lado, é esperado. Mas não se pode admitir que chegue a esse ponto.
O Brasil não é uma republiqueta. Eleições são a base da democracia e não podem ser maculadas por radicais insanos que ameaçam vidas de candidatos. Não se trata de questão política ou ideológica. Atentar contra a vida de Lula tem a mesma gravidade da facada em Bolsonaro.
Identificar e punir esse criminoso servirá de exemplo para que outros não tentem a mesma coisa contra qualquer um dos candidatos.
FESTA DE ARROMBA
O governador bolsonarista do Rio, Cláudio Castro, candidato à reeleição, gosta de música. É um cantor frustrado. Não pode ver um microfone que solta a voz. Dizem até que canta melhor do que governa. Foi o que fez ao lado de intérpretes como Belo e Alcione, no festão para quase duas mil pessoas, para comemorar seu aniversário nos salões do Jóquei Clube Brasileiro, na Gávea.
Foi uma fartura raramente vista. Só o buffet custou mais de R$ 1 milhão. Tudo liberado, salgadinhos, uísque, vinho, vodca, da melhor qualidade. Compareceram políticos de todas as ideologias, até adversário dele na disputa pelo governo do Rio, como o ex-presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.
Cláudio Castro não diz quanto custou a festa. Garante apenas que foi tudo pago pelos secretários e amigos, que fizeram uma vaquinha. E que os cantores não cobraram cachê e o Jóquei cedeu de graça o salão. Perguntado sobre se não infringiu o decreto que proíbe governador de receber presentes acima de mil reais, diz que não, nada disso, a festa não é presente físico.
Quem acredita nessa história deve acreditar também no coelhinho da Páscoa!
FOTOS
O balão de Mouro: em queda
O deputado federal Daniel Silveira segue o líder e tenta desrespeitar as leis
Bolsonaro, que tem como herói um torturador da ditadura militar
Luiz Eduardo Rezende é jornalista com passagem pelo Jornal do Brasil, O Dia e O Globo
Obs: As matérias aqui reproduzidas são de reponsabilidade dos autores.