Por Luis Otavio Barreto
“Enfiar no rabo” é uma prática a que os bolsonaros estão, com alguma constância, recomendando. Geralmente sem cortesia. Recentemente há o escandaloso caso do leite condensado; “é para enfiar no rabo da imprensa” disse, numa coletiva de imprensa, Bolsonaro pai, que ocupa o cargo de presidente da república. Hoje, o filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, recomendou que os envergonhados reclamantes sobre aquele vexame em Israel fizessem o mesmo; “enfia no rabo, gente”, ele disse numa live. Não creio que aquela gente saiba qualquer coisa sobre a fase anal, neurose obsessiva ou pulsão anal, Freud, Lacan, Bouvet…
De todo modo, não sei como senhoras pudicas, homens de bem e de ilibada moral, pastores, padres, os bastiões do conservadorismo, enfim, como essa gente encara esse tipo de coisa?! Afinal, são estas pessoas que o defendem com unhas e dentes, do alto de seus cargos, da moral, da situação econômica e em nome da família, estado e propriedade. Ah, e agora de Deus. (este trecho pode conter alguma ironia.)
Na última quarta feira, 10 de março, Luiz Inácio Lula da Silva falou por mais de uma hora. Falou a um povo sofrido, machucado, desesperançado e enlutado por mais de 2000 mortes. Não se ouviu um único palavrão! Uma única expressão que pudesse condená-lo por despudor ou desrespeito. Manso, respeitoso, franco! Terno, eu diria. E se duvidam, vejam ou revejam no youtube! A fala de Lula, nessa quinta feira, 11, já é tida como um discurso histórico e o prelúdio de uma possível campanha que será, caso aconteça, oxalá aconteça, marcada como a volta de um grande estadista! Amigo leitor, permita-se assistir. O discurso, com pouco mais de uma hora, é um bálsamo, um alívio e, inclusive, uma palavra de conforto ao sofrido povo brasileiro.
Mas voltemos aos fatos; querido amigo leitor, este que vos escreve não faz economia no uso dos palavrões, mas conhece protocolos. Se a você, de esquerda, direita, centro, apolítico, não chocam aqueles terríveis episódios em que os bolsonaros dão verdadeiros exemplos de torpeza e desonra ao cargo, ora, é muito conveniente que abandone uma série de discursos prontos e ideias clichês, como a de civismo e hino nacional e outros ufanismos.
Por essas e outras há que se dizer: “É uma questão de classe. E caráter.”
*Luis Otavio Barreto é músico pianista, professor de Língua Portuguesa e Literatura.