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Briga de moleques

Sonia Castro Lopes

 

A guerra entre Bolsonaro e o governador de São Paulo é sempre motivada pelo uso político da vacina. Esta semana, diante das medidas decretadas por Dória (PSDB) para tentar conter a pandemia em seu estado, o presidente, negacionista e irresponsável, estendeu a crítica aos governadores que tomaram medidas semelhantes: “Parece que esses caras querem, como esse patife de São Paulo quer, é quebrar o Estado, quebrar o Brasil (…) É coisa de patife. Que é esse cara que está em São Paulo que usou meu nome para se eleger”, completou o presidente. Como se sabe, o governador de São Paulo usou o termo “BolsoDoria” durante a campanha eleitoral de 2018.

 

Chamado pelo presidente de “patife” e, no famoso jantar com os empresários, de “vagabundo”, Dória (PSDB), marqueteiro contumaz, tem respondido às agressões com aparente fairplay em sua página do #twitter: “Calma, é muito amor pela minha calça apertada.” O apelido lhe foi dado pelo presidente referindo-se ao modelo de calça por ele usado. Aliás, desde o final do ano passado, Bolsonaro só se refere ao tucano com a expressão – “calcinha apertada.”

 

Dória se apropriou do apelido e o tem utilizado com frequência em suas redes sociais. Diante do pedido de uma correligionária para ser vacinada, respondeu: “Vou te vacinar de calça apertada,” ao que a moça respondeu: “Vacina, porque se depender do calça frouxa morremos todos.”

 

“Calça apertada” e “calça frouxa” se digladiam há meses numa guerra sem fim. Desde outubro do ano passado, de olho nas eleições de 2022, os dois promovem uma disputa acirrada em torno da #CoronaVac. Após Bolsonaro afirmar que não compraria a vacina e ter submetido seu então ministro  Eduardo Pazzuello àquele episódio constrangedor do “um manda e o outro obedece”,  Dória saiu na frente com grande estardalhaço, convencido de que o episódio lhe renderia milhões de votos e a indicação de seu partido para duelar com Bolsonaro na batalha final.

 

E a briga continua cada vez mais virulenta. Dizendo-se assustado com o interesse de Dória em defesa da #CoronaVac, o presidente voltou a chamá-lo de “ditador”. “É muito interesse de um governador aí em querer salvar vidas. Muito interesse dele. Estou até preocupado, acho que ele… se morre hoje, vai para o céu. É um santo esse cara. Um santo da calça apertada.”

 

Neste sábado (10), depois de mais uma vez ser criticado por Bolsonaro, o governador escreveu em seu perfil: “Caaaalma, @jairbolsonaro. Pelo jeito, a primeira dose da vacina antirrábica não foi suficiente. É muito amor pela minha calça apertada…”

 

Durante todo o período da pandemia que já passa de um ano, o presidente desobedece aos princípios da ciência, recusa vacina, não usa máscara e promove aglomerações. Terá que ser responsabilizado por isso. Após semanas de indefinição, o Senado deverá instaurar uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar a conduta do governo federal frente à pandemia. A decisão foi determinada pelo ministro do STF Luis Roberto Barroso a pedido dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO). Apesar da má vontade do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a CPI foi aberta e o presidente está acuado. Como diz um meme postado nas redes sociais – “Calma, Bolsonaro , é só uma CPIzinha.”

 

Nessa guerra imoral quem perde é o país, que se debate numa gigantesca crise sanitária com graves implicações na área econômica. Segundo as últimas estatísticas, já ultrapassamos 350 mil mortes. Popularidade do presidente em queda, avidez dos parlamentares do Centrão por ministérios e cargos, manifesto assinado pelo empresariado descontente com a demora das reformas e medidas econômicas privatistas que não avançam (apesar do jantar de desagravo oferecido por parcela deste segmento). Ou seja, o caos instalado no país e os dois brigando como moleques de rua.

 

 

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