Bráulio: a preocupação de um governo

Por Luis Otavio Barreto

 

O Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, em São Cristóvão, Rio, é, sem sombra de dúvidas, um ótimo local para se tomar um cerveja e comer alguns petiscos regionais. Tem forró raiz, manteiga de garrafa, carne sol, coalho e uns cacetões esculpidos em madeira, que fazem as vezes de abridor de lata, cabo de faca, macerador de almofariz…um divertimento. Tudo disponível para quem quiser levar, por módica quantia, para casa. Quando vi, achei mais curioso do que gozado. Eu não entendi a predileção pela figura, e não é numa única barraca. Será algo de uma cultura que não conheço?! Até o momento desta escrita, ainda não pesquisei. O fato é que estão lá. Duríssimos, aos montes, todos disponíveis para a alegria e gozo dos pândegos de plantão.

Outra coisa muito interessante, ainda se falando em bráulio (e Bráulios, paciência!) é a representação das esculturas fálicas, ao longo da história; desde os gregos (800-300 aC), com pênis pequenos, representando lucidez, inteligência e controle, a esculturas da colonização americana (200-900 dC) com instrumentos imensos. Essas estátuas, claro, ainda existem e podem ser encontradas em museus, coleções, fotografias e algumas, ainda, soterradas em algum lugar por aí… O pênis sempre esteve, óbvio, representado nas artes, nas ciências e na sociedade como um todo, sob os mais diversos estilos, desde as mais antigas expressões até o XVÍDEOS e troca de nudes.

É muito interessante observar o poder fascinante do músculo sob os diferentes vieses. O tema, como o amigo bem pode avaliar, é extenso e, lógico, objeto de estudo desde o tempo em que farmácia se escrevia com PH. A despeito disso, vou caminhando para o fim deste texto com uma observação curiosíssima!

O sexo e as coisas do sexo são, para os conservadores, bastiões da moral, para os puritanos e coisas que os valham, pontos inflamáveis, pulsantes e eu diria latente, mas, em pesquisa ao termo, decidi que não e depois explico. Prefiro, por isso, escancarado. E por que?!

Desde que se tem notícia do governo Bolsonaro, há, com uma frequência, a menção do nosso queridinho e, se duvida, faça uma pesquisa! Do próprio presidente até a última notícia: “O pênis da FIOCRUZ”. Da parte do presidente, a coisa é menos escancarada, faz-se uma menção de conjunto, isto é, dentro do contexto, excetuando-se o caso da mamadeira de pirocha. O escancaro fica por conta dos partidários, como Damares Alves e o episódio dos bebes masturbados e aquele repertório todinho sexualizado, sexualizante e sexista da ministra – que aliás, anda quietinha. #lavemmerda e a última grande pérola é o pênis da FIOCRUZ.

O amigo conhece a Fiocruz?! O órgão é vital para os brasileiros, literalmente! Apesar da história da Fundação, o amigo já reparou que beleza é o prédio?! Ele fica na zona norte, em Manguinhos. Um palacete em estilo mourisco, rodeado por uma mata e de frente para a Av. Brasil. O “Palácio das Ciências” é uma coisa lindíssima e foi tombado pelo IPHAN em 1981. Eu não sei em que contexto a médica e Secretária de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde, senhora, Mayra Pinheiro, viu – se é que viu mesmo – um pênis na FIOCRUZ, mas, certamente, não foi no contexto em que ela, MALDOSAMENTE, DESONESTAMENTE e, portanto, de MANEIRA MENTIROSA, colocou.

Supondo que fosse, como ela disse, há um tempo e um objeto inflável, ainda assim, haveria explicação para isso. Se houve, algum dia, um pênis inflável nas dependências da FIOCRUZ, certamente, a figura esteve ali com um intuito pedagógico. A Fiocruz é um templo da ciência, da arte, da natureza e da pesquisa! É muito imoral, isto sim! imoral, que uma médica, uma secretária de governo, tenha esse tipo de conduta suja! Mentirosa e torpe! Deixando de lado todo os conceitos psicológicos, sociológicos, éticos e, até mesmo lógicos, o que Mayara Pinheiro fez é baixo! É pervertido, no sentido rum do termo. É fruto da imaginação de uma gente que é capaz dos pensamentos que fariam corar a própria Cicciolina! E não pela ação do próprio desejo, mas pela maneira hipócrita e vergonhosa e imoral como conduzem, desonestamente, as próprias vontades e a própria vida! São, todos eles, uns sujos!

E são sujos não porque pensam DESESPERADAMENTE em sexo ou em suas coisas, mas porque condenam àqueles que fazem isso sem problemas, que assumem e que são tão felizes, tão bem resolvidos e tão bem localizados, que o sexo não se torna uma pauta nos assuntos tabus. Gente como Mayara, como Damares, com Bolsonaro, como Malafaia, como Magno Malta e como milhares de Bolsonaristas são pessoas profundamente desonestas, mentirosas e mal resolvidíssimas, se não sexualmente, com a vida e com as liberdades alheias, com as práticas alheias…Um pênis ou uma vagina, a conjunção dos dois, ou a conjunção de dois pênis ou duas vaginas ou, ainda, de um ânus e um pênis, são coisas naturalíssimas, estão aí desde que o homem descobriu que aquele negócio pendurado entre as pernas, servia para além do xixi. Todos os folclores, mitos, tabus associados a eles e aos atos são, pois, obra do homem, dos tempos e das sociedades. Há que se descontruir MUUUUUITO sobre isto e há que pensar MUUUUUITO mais sobre educação sexual, mas uma educação muito mais completa, muito mais científica e filosófica!

Num país em que o número de homens com câncer no pênis, por falta de correta higienização, cresce, como também cresce o número de amputações pela mesma falta de higiene, ter um pênis inflável numa campanha de conscientização, olha, me parece muito menos absurdo que a causa ou que a postura da ‘doutora’ Mayara Pinheiro, numa CPI que investiga, por omissão, a morte de quase meio milhão de brasileiros, numa das maiores, senão, maior tragédia da história moderna deste país.

E para encerrar, me lembro que há alguns anos, eu vi umas fotografias de uma amiga que estivera na Holanda e vira uma espécie de desfile; havia um barco com vários pênis inflados, desfilando. Crianças, senhoras, senhores, jovens, toda sorte de gente pela rua. Ninguém parecia estar ofendido e nunca se ouviu relatos de uma sociedade deturpada ou doente psicologicamente, na Holanda. Já no Brasil…

Por fim, um negócio divertido; existe uma turma que ficaria muito escandalizada ao frequentar as divertidas, utilíssimas e mui criativas barraquinhas da feira de São Cristóvão, a saber: a Mayara Pinheiro, o Bolsonaro – este aí estaria com medo, Damares Alves, Silas, Carluxo e, quem sabe, num rasgo fantástico do chronos, o príncipe romano Giovanni Battista Pamphili, que em 1670, mandou cobrir os ‘pudores’ das estátuas gregas, com uma “Feige|n|blatt” ou Folha de Parreira (sem o n, folha covarde).

Se bem que, levando em consideração algumas leituras e algumas desconfianças que tenho, sou capaz de apostar que, dando um trocado ao barraqueiro, este nos contaria que uns dois integrantes da comitiva levaram, cada um, uma dúzia dos cacetões de madeira…

 

Luis Otavio Barreto é músico pianista e professor de Língua Portuguesa.

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