Highlights
- Carne foi o alimento saudável com maior redução de consumo nos lares brasileiros durante pandemia
- Quase 60% dos domicílios brasileiros relataram estar vivendo algum nível de insegurança alimentar em 2020
- Insegurança alimentar é mais grave em lares chefiados por mulheres, por pessoas de raça ou cor parda ou preta e em áreas rurais
Os lares brasileiros tiveram uma redução drástica no consumo de alimentos saudáveis como carne, frutas, queijos, hortaliças e legumes durante a pandemia de Covid-19. Em lares em situação de insegurança alimentar, que representam quase 60% dos domicílios, a redução do consumo destes alimentos chegou a ser de mais de 85%. É o que indica estudo de pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de Brasília, divulgado nesta terça.
A análise foi feita com base em dados de um questionário aplicado a 2004 brasileiros pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD) no período de 21 de novembro a 19 de dezembro de 2020. A amostra é representativa da população brasileira.
Carne, frutas e queijo estão no topo da lista de alimentos saudáveis com redução de consumo durante a pandemia nos domicílios brasileiros: 44% dos domicílios reduziram o consumo de carne, 40,8% reduziram o consumo de frutas e 40,4% reduziram o consumo de queijo. Em seguida vem as hortaliças e legumes, com 36,8% de domicílios reduzindo seu consumo. O ovo foi o alimento que sofreu a menor redução e o maior aumento de consumo: 17,8% dos lares brasileiros diminuíram, enquanto 18,8% aumentaram seu consumo. Este aumento pode estar relacionado à substituição do consumo de carne.
Aumento da insegurança alimentar nos lares brasileiros
A pesquisa também aponta para um quadro grave de insegurança alimentar no país em tempos de pandemia. Os resultados indicam que os moradores de 59,4% dos domicílios brasileiros viveram algum nível de insegurança alimentar entre os meses de agosto e dezembro de 2020, com 15% relatando insegurança alimentar grave – quando a falta ou redução da quantidade de alimentos se estende às crianças do domicílio.
Os resultados da pesquisa confirmam a tendência de aprofundamento da insegurança alimentar no país demonstrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017-2018, quando a taxa era de 36,7%. Naquele momento, observou-se a reversão na série histórica medida desde 2004: a insegurança alimentar no país vinha diminuindo de 34,9% em 2004, para 30,2% em 2009, chegando ao nível de 22,6% em 2013.
A pesquisa descobriu ainda que a insegurança alimentar é mais grave em lares chefiados por mulheres (73,8%), por pessoas de raça ou cor parda (67,8%), preta (66,8%), com crianças de até 4 anos (70,6%), mais pobres, com renda per capita de até 500 reais (71,4%), localizados nas regiões Nordeste (73,1%), Norte (67,7%) ou em áreas rurais (75,2%).
De acordo com Marco Antonio Teixeira, co-autor do estudo e pesquisador de pós-doutorado do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Livre de Berlim, “a pauta da insegurança alimentar e da fome voltou ao centro das atenções do debate público nacional nas duas últimas semanas com novos dados de diferentes pesquisas que revelam e reforçam o tamanho do problema que o país precisa enfrentar: milhões de brasileiros e brasileiras que não têm comida na mesa ou que não sabe se terão comida no futuro. Enfrentar a fome e a pandemia da Covid-19 são agora dois desafios urgentes para o Brasil”.
Fonte: Agência Bori