Bolsonaro liga para cooptar parentes de petista assassinado

Por Alexey Dodsworth de Carvalho

 

Entenda-se: Bolsonaro pesquisou e descobriu que Marcelo Arruda, eleitor declarado de Lula, tem irmãos bolsonaristas. Daí ligou para eles, os parentes da família de origem, após descobrir que é o favorito deles.

Não ligou pra viúva, pros filhos, que são a família que Marcelo Arruda construiu, todos de esquerda. Ele não ligou para se solidarizar com viúva e filhos, o que teria sido minimamente decente. Ligou para cooptar parentes para sua campanha eleitoral. Não faz nem questão de disfarçar seu objetivo.

Se eu morresse em circunstâncias semelhantes, não faltariam parentes estupidos e de quem eu quero distância para quem o presidente poderia ligar “para se solidarizar”. Pessoas que são, para mim, irrelevantes, com quem tenho vinculação acidental por match genético, se tornariam catapultas do mentecapto presidencial em claro aproveitamento de minha morte.

O sujeito convidou os irmãos de Marcelo pra ir a Brasília. Vai usar os irmãos do morto pra fazer campanha. Não há surpresa: a baixeza moral desse sujeito o antecede.

Pelo que li, Marcelo era um sujeito muito melhor do que eu sou. No aniversário dele, mesmo com temática petista, havia amigos e parentes bolsonaristas. Ele devia ser um cara tão bacana que conseguia tolerar e conviver com essa gente.

Por muito menos, várias pessoas já morreram pra mim. Sou desses. Não sou legal, só pareço. Desamo com uma velocidade estonteante. Não há proximidade sanguínea que desculpe apoiar esse lixo. E, pelo visto, faço bem. Imaginem se vou ter perto de mim quem se sujeitaria a de bom grado servir de palanque para a entidade abominável cujo discurso de ódio colaborou para minha morte.

Tolerância tem limite, e poucas coisas são melhores do que limites muito bem estabelecidos.

 

Alexey Dodsworth Magnavita de Carvalho é filósofo, escritor e roteirista de história em quadrinhos e acadêmico dedicado a pesquisas sobre futurismo e astronomia

 

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