Por Sonia Castro Lopes
Caiu enfim o ministro da (des)educação. Desenlace esperado após um escândalo de corrupção que teve ingredientes como áudios vazados, propinas em dinheiro, barras de ouro e Biblias solicitadas por pastores vigaristas que manejavam as verbas bilionárias do Fundo Nacional de Educação.
Num país que ostenta o vergonhoso índice de 7% de analfabetos em sua população jovem e adulta, onde a educação pública que deveria ser universal, gratuita e laica é destruída para favorecer projetos absurdos como as escolas civico-militares, educação domiciliar e as instituições privadas de ensino, o governo colocou no Ministério da Educação elementos totalmente incompetentes, cada qual pior que o seu antecessor. Vélez Rodriguez, Abraham Weintraub e Milton Ribeiro foram escolhidos a dedo para servir ao pior governo de que se tem notícia na história desse país. Isso sem falar no “doutor honoris quase”, Carlos Decotelli, o que foi sem nunca ter sido.
A guerra cultural imaginada pelo guru Olavo de Carvalho – que, felizmente, já deu as caras no outro plano – teve nos dois primeiros ministros seus discípulos mais fiéis. O último, o pastor-ministro, conseguiu a proeza de aparelhar a máquina pública com dois vigaristas, diga-se de passagem, com a anuência do presidente da República, para vender favores a prefeitos de pequenos municípios sob o pretexto de auxiliá-los na construção de escolas, creches e quadras esportivas. Tudo isso para fortalecer as igrejas (neo)pentecostais das quais são representantes e assegurar o apoio ao chefe da quadrilha, cuja obsessão pela reeleição torna-se cada dia mais assustadora.
Desta vez o pastor-ministro se deu mal. O áudio é puro baton na cueca, não há justificativa plausível. Bem que ele tentou se abrigar nas asas dos ministros “terrivelmente evangélicos”, um dos quais foi até seu aluno, mas não obteve êxito. A própria bancada evangélica e os políticos do Centrão pediram sua cabeça. Aliás, por falar em cabeça o presidente colocou a sua em risco ao afirmar em sua última live que colocaria “a cara no fogo” pelo assessor.
Sem apoio algum, só restou ao dublê de pastor e ministro pedir para sair. Já vai tarde. Entretanto, como esse governo é a própria materialização da Lei de Murphy, podem esperar que o sucessor será pior, visto que os políticos do centrão devem indicar uma raposa ainda mais gulosa para tomar conta do galinheiro. Uma pasta que concentra verbas altíssimas decerto será alvo dos maiores larápios que representam os apoiadores do atual governo.
Com todas essas evidências esperamos que a Procuradoria Geral da República, que tem à frente outro capacho do ex-capitão, dessa vez tome sérias providências no sentido de investigar e denunciar os crimes para que sejam condenados os responsáveis por essa “Farra da Bíblia” que tomou conta do MEC. Enquanto estudantes brasileiros se mantém com baixíssimas oportunidades devido à desigualdade de acesso à internet, com desempenhos abaixo da crítica em matemática, leitura e interpretação de textos, o Ministério abriga um gabinete secreto comandado por pastores que se refestelam com verbas públicas que deveriam ser aplicadas na melhoria da educação.
Jovens abandonam a escola precocemente, universitários pobres desistem de seus sonhos por não receberem o auxílio necessário à continuação de seus estudos e os vigaristas manipulando os recursos do Fundo com a cumplicidade do ministro e de seu superior que não enxerga a corrupção reinante nos seus quarenta meses de governo, como anda afirmando em seus discursos. Cai na conversa quem quer.